NO DIA DO CRIME

PMs acusados de mortes na Serra teriam ido ao local atrás de dinheiro

Defesa afirma que suspeitos agiram em legítima defesa; duplo homicídio aconteceu em fevereiro de 2011 durante uma operação policial

Por CAROLINA CAETANO/ JULIANA BAETA
Publicado em 18 de março de 2014 | 09:31
 
 
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Será retomado na manhã desta quarta-feira (19), o julgamento dos ex-policiais militares Jonas David Rosa, de 27 anos, e Jason Ferreira Paschoalino, de 28, acusados de matar tio e sobrinho no aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, em fevereiro de 2011. As mortes de Renílson Veriano da Silva, 39, e Jeferson Coelho da Silva, 17, geraram revolta e vários protestos dos moradores da comunidade.

O julgamento começou na manhã desta terça-feira (18), no Fórum Lafayette, no bairro Barro Preto, região Centro-Sul da capital. Ao todo, 19 pessoas estavam relacionadas para depor. A expectativa é de que o julgamento só termine nesta quarta-feira. Seis homens e uma mulher são os jurados do caso.

Presidida pelo juiz Carlos Henrique Perpétuo Braga, a sessão começou com o depoimento do policial militar Denilson Veriano da Silva, pai de Jeferson e irmão de Renílson. Mais três testemunhas de acusação arroladas pelo Ministério Público de Minas (MPMG) foram ouvidas pelo júri.
 
Todas as testemunhas arroladas pelo MPMG, entre elas três moradoras do aglomerado da Serra, disseram que as vítimas não tinham qualquer envolvimento com a criminalidade. Elas relataram ter visto o crime pouco depois de as vítimas serem atingidas por tiros. 
 
Primeira testemunha
 
A primeira testemunha a depor foi o pai do menor, que é policial militar. Ele, que foi ao julgamento fardado, chorou muito quando o juiz leu seu depoimento. O homem afirmou que o filho e o irmão não tinham envolvimento com o mundo do crime e que nunca usaram armas.
 
O pai das vítimas também disse que ouviu dizer que no dia do crime os policiais estavam lá para buscar "arrego", ou seja, dinheiro de propina. 

Segunda testemunha

A outra testemunha a ser ouvida no julgamento é uma vizinha das vítimas, que morava a 15 metros do local do crime. Quando foi interrogada na época do crime ela disse que estava dormindo e foi acordada por tiros. Ela foi até o terraço e viu pessoas baleadas, e contou que conhecia as vítimas e que elas não andavam armadas. A testemunha também escutou troca de tiros, correria e gritaria, na mesma noite do crime.

A testemunha também contou que a dupla de réus não andava de farda e ouviu dizer que os policiais haviam subido o morro para pegar dinheiro com os traficantes. Os corpos das vítimas não tinham roupas nem armas perto. Além disso, ela disse que não viu nenhum militar ferido e confirmou todo o depoimento da época. 

Argumentos da defesa
 
Nos questionamentos aos depoentes, os advogados de defesa, por sua vez, deixaram clara a estratégia de tentar mostrar que as vítimas eram amigas de pessoas ligadas à criminalidade na região. Para isso, os advogados levaram para o plenário uma série de fotos em que tio e sobrinho aparecem ao lado de suspeitos de tráfico de drogas. Um deles, inclusive, é conhecido como Tigrão, e teria sido assassinado por ser traficante.
 
Para reforçar essa proximidade, a defesa mostrou outras imagens em que esses suspeitos de tráfico aparecem ostentando armas. No entanto, nem Jeferson nem Renílson apareciam nessas fotos. 
 
Um dos defensores, Ércio Quaresma (famoso por atuar no caso do ex-goleiro Bruno Fernandes) informou que as imagens foram extraídas de redes sociais. “Eu fiz o que o delegado não fez: investigar”, relatou o advogado. Quaresma defendeu que não houve execução, mas sim uma troca de tiros entre policiais e traficantes da região, que terminaram com a morte dos dois moradores
 
Fuzil no plenário

Para a surpresa dos presentes, Quaresma levou armas, dentre elas um fuzil, para o plenário. Ele questionou duas das testemunhas – aquelas que viram o local logo após o crime – qual seria a distância que possibilitaria o reconhecimento das armas.

Os advogados tentaram ainda retirar a credibilidade das mulheres. Eles reforçaram que uma moradora que depôs tem um filho com o suposto traficante Tigrão e que outra testemunha tem familiares envolvidos com drogas. 

Familiares

Familiares dos mortos acompanham a sessão. A mãe de Jeferson, Aurita Maria Coelho dos Santos, disse à imprensa que deseja o fim do julgamento e espera, um dia, conseguir perdoar os acusados.

“Meu filho foi um presente na minha vida. Ele participava de um grupo de dança e dançava em muitas festas de 15 anos. Acredito na justiça de Deus”, disse a doméstica.

Já a mãe de Renílson destacou que ele gostava muito da profissão e tinha muito carinho com os pacientes.

Relembre o caso

Na madrugada de 19 de fevereiro, uma incursão policial contra o tráfico de drogas na Vila Marçola, Aglomerado da Serra, terminou com dois mortos, que eram filho e irmão de um policial militar.

Houve um tiroteio entre policiais e suspeitos, deixando um policial ferido e dois suspeitos baleados, que foram socorridos, mas morreram antes mesmo de serem atendidos.

Jason Ferreira Paschoalino já havia sido condenado a 12 anos de prisão por outro homicídio cometido em julho de 2010, no bairro Nova Suíça. 

 

Atualizada às 22h30

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