Superlotação

'Por mais que se desdobrem, não vão dar conta', diz médico sobre UPAs de BH

Profissionais da saúde falam sobre caos em Centros de Saúde e Unidades de Pronto Atendimento da capital, com aumento de quase 300% no número geral de atendimentos

Por Vitor Fórneas e Juliana Siqueira
Publicado em 09 de junho de 2022 | 19:17
 
 
 
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“Por mais que os trabalhadores se desdobrem, não vão dar conta de atender a demanda”. A afirmação do médico Bruno Pedralva ilustra a atual situação dos Centros de Saúde e Unidades de Pronto Atendimento de Belo Horizonte: sobram pacientes e faltam profissionais.

Levantamento do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel) aponta que a capital mineira teve aumento de quase 300% nos atendimentos. Quem trabalha na linha de frente confirma o dado apontado pela entidade e informa que o número de atendimento por plantão teve um saldo de 650%. 

“Estamos trabalhando sob pressão e sob tensão. O número de pacientes atendidos aumentou muito. Permanecemos em uma mesma estrutura física e com redução nas equipes”, diz uma servidora da saúde que opta pelo anonimato. A falta de profissionais para atender tantos pacientes faz com que o tempo de espera seja ainda maior.

“Temos relatos de pacientes que ficam de 8 a 9 horas esperando ser chamados para a consulta. Alguns sequer aguentam aguardar por tanto tempo. Estamos com procura maior, e os médicos, enfermeiros e profissionais em geral têm que trabalhar ainda mais que o usual”, ressaltou Pedralva. 

A redução na equipe de pediatria, por exemplo, aconteceu, conforme informado à reportagem, pelo início da pandemia. Na época, houve redução no atendimento ao público infantil aliado à ida de médicos para outros municípios diante de uma melhor oferta salarial.

“Não conseguimos repor o número de pediatras que saiu. Agora, com as crianças saindo de casa e com as doenças respiratórias, elas estão adoecendo mais e estão com baixa imunidade. O reflexo é que chegam mais graves. Antes eu atendia até quatro crianças e agora saltou para 40 por plantão”, comentou a médica.

A pressão por atendimento acaba recaindo nos profissionais. “Somos agredidos, xingados. Está muito desgastante. Hoje voltei para casa chorando e por tudo: descaso com a equipe e pacientes. O nome que se dá para o que vem acontecendo é isso: descaso”.

Mais pessoas procurando o SUS

Outro ponto que ajuda a explicar a situação, segundo os entrevistados, é que mais pessoas estão recorrendo ao Sistema Único de Saúde (SUS). “Com a pandemia, muitas pessoas tiveram que fazer cortes nos gastos e deixaram de ter plano de saúde. É perceptível isso”, afirmam.

Cuidados diminuíram

Presidente do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte, Israel Moura destaca que a situação dos Centros de Saúde e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) está semelhante a do último mês de janeiro, quando muito se falou em um novo surto de Covid-19.

De acordo com ele, a sensação de que a pandemia acabou fez com que muitas pessoas se descuidassem em relação à doença. Por isso, defende a importância de a Prefeitura de Belo Horizonte promover campanhas educativas. 

“Atitudes simples, como usar álcool em gel, foram abandonadas por muitas pessoas. É importante ter reforços de campanhas. Não estamos falando para ‘ficar em casa’, mas é preciso dar o alerta de que o vírus continua circulando, mesmo que os efeitos sejam menores”, diz ele.

Moura salienta ainda que a questão de saúde pública também afeta os profissionais da área, inclusive gerando estresse e afastamentos do trabalho - o que, consequentemente, reduz ainda mais o número de profissionais. 

“O aumento da demanda e o desfalque nas equipes de saúde geram outros problemas: atritos nas unidades, por conta de uma maior demora no atendimento, e estresse nos trabalhadores, aumentando o número de atestados médicos e de afastamentos”, afirma ele.

Posicionamento

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) convocou entrevista coletiva para falar sobre as estratégias de atendimento nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).  A secretária municipal de Saúde, Cláudia Navarro, e a secretária adjunta de Saúde, Taciana Malheiros, vão conversar com a imprensa a partir das 11h desta sexta-feira (10).

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que as unidades de saúde apresentam alta de atendimento, sobretudo por questões respiratórias, por conta da época do ano, que apresenta temperaturas mais baixas.

“Em relação aos profissionais, o município monitora a situação e está tomando as providências necessárias. Também foi homologado em abril o concurso público da área da saúde e, no fim de maio, 35 médicos tomaram posse. Devido à maior demanda, foram priorizados médicos pediatras”, diz a PBH.

“Como mais uma estratégia para cobrir os plantões da pediatria nas UPAs, por exemplo, a SMSA autorizou o pagamento de horas extras para médicos que não tenham disponibilidade para a realização de plantões extras de 12 horas, mas podem contribuir com plantões de 6 horas. Além disso, é mantido ativo um banco de currículos para contratação imediata de médicos. Os interessados devem acessar o site da Prefeitura de Belo Horizonte para realização do cadastro”, completa.

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