Um vídeo supostamente gravado por detentos dentro da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, denuncia a presença de larvas no almoço servido aos presidiários nessa segunda-feira (6). Nas imagens, é possível ver vermes se movimentando entre grãos de feijão servidos em um marmitex.
Em um áudio enviado por um aplicativo de mensagens no mesmo dia, outro preso critica a qualidade do alimento que chega às celas. “(Estão) mandando ‘rango’ azedo direto, até com bicho. Estão mandando é lavagem pra gente comer. Maior tiração”, reclama.
O vídeo foi enviado a parentes dos presos e chegou até Willian Santos, advogado da Rede Nacional de Advogados Populares de Minas Gerais (Renap-MG), que o publicou em uma rede social . “Constatei com outros familiares a veracidade (da denúncia) e por ser o alimento um direito elementar e não um luxo, a tornamos pública”, explica Santos.
O advogado afirma que não é a primeira vez que presos recebem comida estragada na unidade. “Parece que é um padrão. Mas é a primeira vez que a gente pode presenciar o fato em imagens”, diz Santos. Segundo ele, o tema é motivo de reclamações constantes de familiares dos presos, que discutem o assunto em grupos nas redes sociais.
O ex-presidente da Comissão de Assuntos Carcerários da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG) Fábio Piló também recebeu as imagens e cobra um posicionamento da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap). “É uma obrigação da Seap averiguar se aquilo se trata de um marmitex que chegou naquelas condições ou se é um marmitex do dia anterior que dormiu fora das condições ideiais de temperatura e, consequentemente, ficou com aquelas larvas”, cobra o advogado.
Celular na cadeia
O vídeo gravado pelos detentos também escancara a facilidade com que presos têm acesso a celulares dentro da cadeia. Piló afirma que a entrada de telefones nas unidades prisionais “se tornou um negócio” e critica a ineficácia de sistemas como os bloqueadores de sinais, que não inibem o envio de mensagens para além dos muros dos presídios. “Mas esse é o lado positivo de se entrar com celulares nas unidades prisionais: a realização de denúncias por parte dos detentos. O lado negativo é a prática dos crimes”, avalia.
Resposta
Em nota, a Seap informou que a diretoria do Complexo Penitenciário Nelson Hungria ainda não recebeu denúncia formal de alimentação estragada. Caso seja confirmada irregularidade, a secretaria disse que a empresa que fornece a comida será notificada. O órgão afirmou ainda que vai apurar tanto a procedência do vídeo quanto o uso de celulares dentro da cadeia.