Servidores da Segurança

Presos têm menos visita devido à greve e famílias se revoltam

Com a redução das atividades dos policiais penais, em diversos presídios, parentes só descobrem na porta se poderão entrar

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 05 de março de 2022 | 10:54
 
 
 
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Após esperar o mês inteiro para ver parentes presos na Penitenciária José Maria Alkimin, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, familiares chegaram à porta da prisão sem certeza de quando entrariam e nem se conseguiriam entrar, na manhã deste sábado (5). Com a redução das atividades dos policiais penais, as visitas estão sendo limitadas em meia hora, e pessoas que acordaram de madrugada para vir de longe ainda temem ficar de fora. A situação se repete em outros presídios do Estado, onde os parentes só descobrem na porta se terão direito à visita.

“A gente tinha três horas de visita e, por causa da pandemia, já era só uma vez por mês. A última vez que vi meu marido foi em 6 de fevereiro. Os policiais estão descontando nos presos, que não têm nada a ver com isso. Eu moro no Olhos D’Água, é uma viagem para chegar até aqui. Entendo o lado deles. Se o Zema prometeu (readequação salarial), tem que cumprir, mas eles têm que entender que os presos não têm culpa”, relata a esposa de um detento, que preferiu não se identificar, com receio de ter a visita ainda mais reduzida.

O Sindicato dos Policiais Penais de Minas Gerais (Sindppen-MG) argumenta que não está em greve ou em paralisação, e sim trabalhando na “estrita legalidade”, com operações reduzidas ao mínimo previsto. As forças de segurança de Minas movimentam-se para cobrar a readequação salarial ao governador Romeu Zema (Novo), mas, segundo o sindicato, a luta dos policiais penais também é pelo reforço do efetivo policial.

“Está sendo permitida a entrada, mas está sendo reduzida. O banho de sol também. O que nós estamos orientando nas 182 unidades é que mantenham o número de efetivo que dê para manter a ordem e a paz também com o número de visitas, então tem que reduzir o número delas. Se você tem 20 policiais penais, 2.000 presos na unidade, duas visitas para cada um e precisa ocupar guarita, muralha e portaria, acaba ficando com três, quatro policiais penais para fazer a segurança dessas famílias, com mais de 200 pessoas no pátio. E se ocorre uma rebelião, um motim?”,  justifica o presidente do Sindppen-MG, Jean Otoni.

Na prática, isso significa que detentos estão recebendo menos tempo de banho de sol, visitas de familiares e líderes religiosos estão reduzidas e até advogados estão tendo menos acesso aos presos. Na Penitenciária José Maria Alkimin, por volta das 8h30 cerca de 20 mulheres se reuniam na porta e a portaria ainda não tinha previsão de quando começaria a liberar a entrada.

“Os policiais não atendem o telefone quando a gente liga. Se eu soubesse que seria meia hora, não sei se viria. A gente gasta dinheiro para vir, passagem é caro, acordei 3h30 para chegar. Estamos enviando o kit higiênico para os presos e eles não estão recebendo ele inteiro”, conta a diarista Thais Stefanie, 24, que foi visitar o marido.

No Presídio Antônio Dutra Ladeira, também em Ribeirão das Neves, por volta das 9h os familiares sequer sabiam que horas os portões seriam abertos ou por quanto tempo poderiam ver os parentes, mesmo depois de terem agendado a visita. “É um custo para eles atenderem o telefone e agendarem. A gente agenda e pode vir das 9h às 12h. Falaram que teria visita hoje. Eu tenho diabetes, problema na coluna e estou esperando aqui”, disse uma aposentada de 60 anos, mãe de um detento, que preferiu não se identificar. Os policiais começaram a permitir a entrada, de três pessoas por vez, só após as 9h30.

Questionado pela reportagem, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) afirmou que as visitas não foram suspensas em todas as unidades. “Contudo, não há uma listagem já fechada de quais unidades estarão aptas, por razões de efetivo e segurança, a realizar a visitação. O Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) monitora o fluxo da adesão dos seus servidores ao movimento de paralisação proposto pelo sindicato dos Policiais Penais de Minas Gerais. Familiares estão sendo informados pelas próprias unidades sobre o andamento das visitações. O Depen-MG acredita que a situação será normalizada o mais breve possível a fim de que as rotinas internas não sejam prejudicadas, bem como a rotina dos familiares de custodiados que se encontram acautelados”, informou, por meio de nota.

Reação
Na última semana, detentas do Presídio de Vespasiano, na região metropolitana de BH, atearam fogo em um colchão para protestar contra a redução do banho de sol. O incêndio a um ônibus no bairro Vista Alegre, na região Oeste de Belo Horizonte, também pode estar relacionado às condições dos presos. Os criminosos deixaram uma carta com o motorista em que exigem melhorias em um presídio no Norte de Minas. O Depen-MG afirma que aguarda a conclusão das investigações para saber se há relação direta do crime com o sistema profissional.

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