Trabalhadores da rede municipal de educação foram agredidos pela Guarda Municipal de Belo Horizonte, nesta sexta-feira (25), durante ato na avenida Afonso Pena, no Centro da capital, em frente à sede da prefeitura municipal.
Os manifestantes relatam agressões com cassetetes, spray de pimenta e gás lacrimogêneo. Conforme apurou O TEMPO, dois professores foram levados para o Hospital de Pronto Socorro João XXIII.
Os trabalhadores da rede municipal de educação foram agredidos pela Guarda Municipal de Belo Horizonte, nesta sexta-feira (25), durante ato na Avenida Afonso Pena, no Centro, em frente à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). pic.twitter.com/nB8fOc2r18
— O Tempo (@otempo) March 25, 2022
Um professor chegou a ficar desacordado após ser agredido na cabeça. Tanto ele quanto a outra professora tiveram alta na tarde desta sexta.
O professor Daniel Wardil, do comando de greve do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (SindRede), relata que a repreensão teria se iniciado quando os manifestantes estavam no passeio em frente à PBH.
“Tinha espaço para entrar e sair da prefeitura. A Guarda Municipal, na ignorância, veio na pancadaria, com bomba, com cassetete, expulsando a gente do passeio. Do passeio! Tem professor agora no hospital porque levou pancada na cabeça e desmaiou aqui na porta. Tem professora agredida”, narra.
De acordo com Wardil, além do professor levado ao João XXIII, os demais também teriam sido agredidos. “O estado de saúde dele foi o mais grave, mas o cassetete foi para todo mundo. Eu levei cassetete, outros professores levaram, (teve) bomba nas professoras”, detalha. O integrante do comando de greve acrescenta que o professor foi “carregado desmaiado, com galão e sangramento na cabeça” para a unidade hospitalar
A professora Sônia Moreira de Souza relata que teria sido agredida com cassetetes no braço e no peito. Conforme Sônia, os manifestantes teriam sido, aos poucos, cercados pelos guardas municipais.
“Em determinado momento, eles queriam que a gente saísse e nós nos recusamos, porque estávamos fazendo uma manifestação livre. A gente não estava agredindo ninguém. Era uma manifestação pacífica”, argumenta a professora.
Segundo Sônia, os guardas municipais, então, teriam encurralado os trabalhadores após a negativa. “Nós reforçamos que não sairíamos daqui, que era uma manifestação livre, o nosso direito. Aí, um dos guardas gritou: ‘Pode bater, desce o cassete!’. Então, eles começaram a bater. Quando percebi, deram uma cassetada em um professor, que caiu no chão, e eu vi uma amiga passando mal. Ela se encostou no poste e ele (guarda municipal) batendo, batendo”, conta.
Ao tentar ajudar a amiga, acrescenta, também teria sido agredida. “Fui tentar tirar ela e um dos guardas disse ‘bate nessa também’. Quando ele apontou a arma pra mim, saí correndo desesperada. Eu não consegui tirar a minha amiga. Ela ficou no chão, caída, e eles batendo, batendo, batendo. Saí correndo e aí eu comecei a gritar ‘Pelo amor de Deus, ajuda a Laura, ajuda a Laura’”, detalha, se emocionando.
Caso irá para a corregedoria
O secretário de Segurança e Prevenção de Belo Horizonte, Genilson Zeferino, afirma que a Corregedoria da Guarda Municipal fará uma reunião, às 13h, para investigar o episódio.
“O comando da Guarda, que acompanhou e também estava presente na cena, está encaminhando o caso para a Corregedoria. (...) Nesse sentido, é o seguinte: vamos apurar se a contenção (realizada pelo guarda municipal) aconteceu dentro de uma lógica ou se houve excesso. Se houve excesso, vai ser punido, porque é o controle interno da própria Guarda Municipal”, explica Zeferino.
O secretário admite que as imagens são “feias, horríveis de se ver”, mas que a Guarda Municipal teria reagido apenas para conter um manifestante de invadir o prédio.
“O que eu assisti foi um professor tentando invadir um perímetro que estava isolado. Poderia ser um professor, um médico e até um policial, que estaria impedido de fazer. Então, houve uma transgressão dele do ponto de vista da segurança”, pontua Zeferino.
Quando o conflito ocorreu, os trabalhadores da educação realizavam uma vigília em frente à PBH durante o discurso de renúncia do prefeito Alexandre Kalil (PSD) da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
O magistério público municipal reivindica o cumprimento do piso salarial nacional da categoria, assim como condições de trabalho para a retomada pedagógica após o ensino remoto adotado durante a pandemia de Covid-19.
Guarda Civil diz que grupo tentou forçar a entrada em edifício
Em nota, a Guarda Civil de Belo Horizonte informou que, na manhã desta sexta-feira, durante evento realizado na sede da Prefeitura, um grupo de manifestantes invadiu uma área delimitada e tentou forçar a entrada no edifício da prefeitura, ação que precisou da atuação da Guarda Municipal. "O caso está sendo acompanhado pela corregedoria da Guarda Municipal. Todas as informações de processos de apuração são publicados no Diário Oficial do Município".