Orçamento no limite

Projeto de prevenção a incêndio na Santa Casa não avança por falta de dinheiro

Para receber o aval dos bombeiros no plano de combate às chamas, que é obrigatório para todas edificações de grande porte, diretor da Santa Casa revela que precisaria de R$ 2 milhões

Por Pedro Nascimento
Publicado em 29 de junho de 2022 | 17:49
 
 
 
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A situação financeira delicada da Santa Casa de Belo Horizonte também reflete na estrutura do edifício que foi palco de um incêndio na última segunda-feira (27). Sem dinheiro em caixa para arcar com as obras e intervenções necessárias, o hospital ainda não conseguiu o aval dos bombeiros no projeto de prevenção e combate a incêndios. Para isso, segundo o diretor jurídico da Santa Casa, João Costa, seriam necessários R$ 2 milhões que o hospital não tem de onde tirar.

O projeto é uma exigência dos bombeiros para todos os hospitais e edifícios de grande porte, como é o caso da Santa Casa. O objetivo é garantir a funcionalidade do local de acordo com as normas de segurança e possibilitar uma fuga segura, caso ocorra algum incêndio.

Na Santa Casa, o projeto foi apresentado pela primeira vez em 2019 e passou por alguns ajustes sugeridos pelos bombeiros. De acordo com João Costa, parte das intervenções são complexas, o que aumenta o desafio da instituição diante da falta de dinheiro.

“A gente tem que pensar que o Hospital Santa Casa é um prédio antigo, tombado, inclusive. Então muitas dessas intervenções precisam ser mediadas pela normatização do serviço de saúde para adequar o próprio funcionamento do hospital, que não pode parar. Mas o fato é que incluir no orçamento da Santa Casa um valor de mais de R$ 2 milhões num orçamento que já é muito ajustado, é muito difícil”, avalia João, que complementa. “Temos que fazer isso no tempo, a gente não consegue fazer isso num curto espaço de tempo, pois é um volume de dinheiro que não temos condições”, desabafa.

De acordo com o 1º Tenente do Corpo de Bombeiros, Felipe Brites Pereira, o hospital está dentro do prazo para regularização do plano, que leva tempo para ser aprovado.

“Já havíamos feito a primeira vistoria no local e indicamos os ajustes que deveriam ser feitos. Sobre esse projeto, foi necessária uma atualização em fevereiro de 2022 que ainda não foi 100% executada, mas que está em processo”, descreve.

Apesar do percalço devido ao incêndio, a expectativa na Santa Casa é que o projeto seja concluído e aprovado pelos bombeiros dentro do prazo de um ano. “Temos várias intervenções para realizar, mas já estamos bem avançados em algumas áreas. Por exemplo, estamos num processo de treinamento muito grande para eleger brigadistas e temos a intenção de chegar ao final do ano com, pelo menos, 1500 brigadistas treinados. Isso e mais a instalação de corrimãos em todas as escadas e áreas de circulação está bem avançado e praticamente concluído”, relata.

Uma vez aprovado, o plano de combate e prevenção a incêndios tem validade de cinco anos.

Risco em hospitais

Em uma escala de risco que qualquer edificação pode apresentar em caso de incêndio, os hospitais estão no topo da lista dos bombeiros. Segundo o especialista em projetos contra incêndios e diretor-geral do Instituto Sprinkler Brasil (ISB), Marcelo Lima, são inúmeros os fatores que elevam os riscos de fogo nesses locais.

“Ss dados do ISB mostram que os incêndios em hospitais são frequentes e podem começar, como na Santa Casa, numa área hospitalar, na UTI. Ou nas áreas de apoio ao hospital, como refeitório, cozinha e casa de máquinas. Há muitas possibilidades”, relata.

Conforme explica o especialista, além do risco elevado de incêndios, o combate às chamas e a forma de evacuação do local são mais trabalhosos no caso dos hospitais.

“O hospital precisa ser subdividido de uma maneira que permita retirar os pacientes. A ideia é deslocar os pacientes só na horizontal, e não na vertical, quando você tem problemas de elevador durante incêndio, dificuldades para descer com maca em escadas. E aí vemos as cenas de guerra com leitos do lado de fora do hospital e as pessoas sofrendo. Ou seja, são ambientes propensos a incêndios, mas têm características muito especiais e precisam de proteção especial”, explica.

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