Mariana

Rio Piracicaba seria atingido por lama de barragem da Vale interditada em Minas

O rio, que nasce na serra do Caraça, em Ouro Preto, percorre cerca de 241 km e passa por cidades como Ipatinga e Timóteo antes de desaguar no rio Doce, já afetado pela mineração

Por José Vítor Camilo
Publicado em 13 de novembro de 2023 | 15:52
 
 
 
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Depois dos mineiros assistirem atônitos quando a lama atingiu os rios Doce e Paraopeba, afetando toda a vida que existia em suas águas após os rompimentos de barragens de minério, o rio Piracicaba pode ser o próximo a ser afetado pela mineração em Minas Gerais. O corpo d'água seria atingido em poucos minutos por rejeitos no caso do rompimento de uma Pilha de Estéreis (PDE) da Mina de Fábrica Nova, da Vale, que foi interditada nesta segunda-feira (13 de novembro) pela Agência Nacional de Mineração (ANM).

Em um relatório de uma fiscalização realizada pelo órgão federal em setembro de 2022, a agência destacou que uma possível ruptura do dique PDE Permanente I, que é a estrutura que se encontra com risco iminente de rompimento, formaria uma onda que se propagaria em direção ao distrito, atingindo áreas urbanas, estradas, pontes e áreas com vegetação densa.

"A mancha se propaga ao longo do Córrego Congonhas e encontra o Rio Piracicaba, na região da comunidade de Santa Rita Durão, percorrendo o município de Mariana e atingindo áreas edificadas", detalha a ANM no documento a que O TEMPO teve acesso.

O rio Piracicaba nasce na serra do Caraça, em Ouro Preto, e percorre cerca de 241 km, passando por cidades como Ipatinga e Timóteo antes de desaguar no rio Doce, que, em 2015, já foi atingido pelos rejeitos da lama da barragem de Fundão, da Samarco. Bento Rodrigues, comunidade que foi devastada durante o crime ambiental, era um subdistrito de Santa Rita Durão que, agora, vê o pesadelo de um rompimento de barragem se repetir.

A mineradora Vale foi procurada por O TEMPO e informou, por nota, que uma vistoria da ANM e da Defesa Civil na estrutura será acompanhada pela empresa nesta segunda-feira. O objetivo, conforme a mineradora, é trazer os esclarecimentos necessários sobre as "condições de regularidade das estruturas".

"Importante reforçar que as estruturas geotécnicas da companhia são vistoriadas frequentemente pela agência reguladora e monitoradas permanentemente por equipe técnica especializada", completou a mineradora.

Resposta da Vale 

Procurada pela reportagem, a Vale garantiu que "não há risco iminente atrelado às pilhas de estéril da mina de Fábrica Nova, em Mariana (MG), assim como não há a necessidade da remoção de famílias". A mineradora também alegou que "a pilha de estéril é uma estrutura de aterro constituída de material compactado, diferente de uma barragem e não sujeita à liquefação".

A mineradora também afirmou que o "dique" que seria ameaçado por eventual queda das pilhas de estéril é de "pequeno porte" e "tem declaração de condição de estabilidade positiva". "A Vale reitera que a segurança é um valor inegociável e que cumpre todas as obrigações legais. A Vale continuará colaborando com as autoridades e fornecendo todas as informações solicitadas", completa. 

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