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Roleta humana e rasteira: 'brincadeiras' viram moda em escolas e podem até matar

Em uma das pegadinhas, alunos dão rasteira na vítima que cai de costas e, na outra, uma adolescente chegou a morrer no Rio Grande do Norte

Por Natália Oliveira e Wallace Graciano
Publicado em 12 de fevereiro de 2020 | 11:14
 
 
 
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Com a recente volta às aulas, duas "brincadeiras" de mau gosto nas escolas  do Brasil chamam a atenção e deixam os pais em alerta. Os vídeos mais recentes que circulam nas redes sociais mostram estudantes adolescentes derrubando os outros colegas de costas, com uma rasteira. A "brincadeira", segundo especialistas, pode causar lesões, desmaios, traumatismos cranianos e levar até mesmo à morte.

A outra "brincadeira" é de novembro do ano passado e voltou a circular agora nas redes sociais. Ela ficou conhecida como "roleta humana". Nela, a pessoa é girada como uma roleta e bate a cabeça no chão. Uma estudante de 16 anos do Rio Grande do Norte morreu nesse desafio em novembro do ano passado.  

Rasteira 

Em um dos vídeos mais recentes aparecem estudantes do Colégio Marista de Natal. Nas imagens, duas meninas dão um pulo e incentivam uma colega, que fica no meio, a pular depois. Quando a terceira aluna dá o pulo sozinha, as outras duas que já pularam a derrubam, chutando cada um dos seus pés, dando uma rasteira. A vítima fica sem defesa e cai totalmente de costas. Em todos os vídeos os estudantes que provocam a queda riem bastante. 

"Brincadeira" pode matar 

Para especialistas a brincadeira não tem nada de engraçado e pode causar lesões muito graves. "Fiquei chocado com esse tipo de 'brincadeira'. São bem diferentes das brincadeiras da minha época de infância. Não tem nada de sadio e o risco de traumatismo cranioencefálico (TCE) é imenso, pois os participantes caem no solo com choque direto da parte posterior do crânio sem chances de defesa ou reação. Seguramente, os riscos de lesões no crânio são imensas", alerta o ortopedista Octacílio da Matta. 

Para o ortopedista, a chance de morte é alta. "A consequência mais severa seria a morte por traumatismo cranioencefálico. As lesões no traumatismo cranioencefálico variam de acordo com as áreas atingidas, podendo ficar sequelas, tais como dificuldade para caminhar, falar, enxergar e ouvir, além de trazer dificuldades para movimento com os membros superiores e inferiores". 

Para o também ortopedista, Daniel Oliveira,  esse tipo de brincadeira  preocupa muito os médicos, pois ela pode trazer lesões graves às vítimas. "Durante a queda, a pessoa  perde totalmente o equilíbrio e cai desprotegida  no chão, o que pode provocar traumas crânio-encefálicos, lesões e fraturas na coluna, além de fraturas nos membros inferiores como nas mãos,  punhos e  cotovelos", explica. 

Segundo ele após a queda se houver alteração  de consciência e dor na coluna,  a vítima deve  ficar imóvel no chão e uma ambulância dos serviços de saúde deve ser acionada para a remoção correta da criança ou adolescente para um atendimento especializado.

Bom exemplo

Na contramão dos alunos que passam a rasteira no colega e acham muito engraçado, três estudantes do Colégio Batista fizeram um vídeo contrário à "brincadeira" e dando um bom exemplo. 

Nas imagens, eles insinuam que vão fazer dar a rasteira, mas quando a suposta vítima vai pular para levar a rasteira, um dos alunos pede para ele não pular e explica que a brincadeira é de mau gosto e está circulando na internet. 

Ele diz que muitas pessoas estão se machucando com o ato e que no Colégio Batista isso não acontece, porque os estudantes se importam com os colegas. Os três se abraçam. 

O que diz o Marista

O Colégio Marista, em que estudantes aparecem em um dos vídeos fazendo a "brincadeira", respondeu à reportagem de O TEMPO dizendo que iniciou nesta semana um trabalho de conscientização em sua comunidade acadêmica sobre os riscos da atitude perigosa considerada uma  "brincadeira" por alguns jovens e que vem sendo praticada e divulgada na web. As imagens foram registradas em uma unidade de Natal e não em Belo Horizonte. 

Veja a nota completa:

"Os Colégios que integram o Marista Centro-Norte, uma das três unidades administrativas do Marista no Brasil, iniciaram nesta semana um trabalho de conscientização em sua comunidade acadêmica sobre os riscos da atitude perigosa considerada uma “brincadeira” por alguns jovens e que vem sendo praticada e divulgada na web. Por meio de suas equipes pedagógicas, a Instituição tem promovido reflexões com os alunos, durante o período de aulas, sobre as consequências da atitude, que coloca em risco a integridade física dos seus participantes. Além das medidas preventivas, a Instituição reitera estar atenta aos movimentos em sua comunidade e em relação ao vídeo com alunos de uma de nossas unidades, informa que todos já foram orientados com suas respectivas famílias"

"Brincadeira" é feita fora das escolas também 

Além de se tornar comum entre os alunos de escolas, a "brincadeira"  da rasteira já ganhou a internet e muitas pessoas, até mesmo adultos, estão a fazendo em casa. Um vídeo mostra um homem que desmaia durante o desafio. 

Dois jovens incentivam um homem mais velho a pular e, quando ele é derrubado, desmaia. Os que deram a rasteira o arrastam desmaiado e ficam rindo da situação. Até o fim das imagens, o homem não acorda. 

"Roleta Humana": brincadeira de mau gosto que circulou em novembro matou menina no Rio Grande do Norte 

Uma segunda brincadeira que circulou bastante nas redes socias no ano passado fez com que, na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, uma estudante de 16 anos morresse depois que colegas fizeram a "roleta humana" com ela. 

Emanuela Medeiros bateu a cabeça no chão e teve traumatismo craniano na Escola Municipal Antônio Fagundes. O caso aconteceu em novembro passado. A adolescente foi socorrida pela direção do colégio e levada ao Hospital  Regional Tarcísio Maia, mas não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.

O que os pais podem fazer?

A psicóloga infantil Ana Luíza Bolívar considera que a disseminação da "brincadeira" da rasteira ocorre por causa da necessidade de adolescentes da exposição e compartilhamento nas redes sociais de detalhes da vida privada. Além disso, realizar esse tipo de desafio é interessante para eles por uma questão de reconhecimento e pelo sentimento de pertencimento a um grupo.

Para ela, aos pais e a escola cabe as orientações. "O adolescente não pode ter como único parâmetro de comportamento as modas das redes sociais então ele precisa aprender a questionar a analisar as situações. Só proibir não é suficiente e pode gerar ainda mais dificuldades de coibir o caso. É papel da escola e da família conscientizar os estudantes e orientar suas ações para o o espírito aventureiro deles seja direcionando para ações positivas", considera.

A psicóloga alerta ainda que depois desses, outros desafios podem surgir então o ideal é que os pais trabalham a questão do comportamento com os filhos e não falando do desafio em si. 

(Com Sandra Pedrosa  e Raquel Penaforte)

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