EPIDEMIA NO ESTADO

Sem vacina contra a dengue, Ipatinga entra com recurso no Governo Federal

Cidade questiona critérios de distribuição da vacina Qdenga, mas Estado garante que não houve erro

Por Isabela Abalen
Publicado em 28 de fevereiro de 2024 | 17:17
 
 
 
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A cidade de Ipatinga, no Vale do Aço, protocolou um recurso no Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde (MS) exigindo uma explicação formal sobre o motivo que levou a cidade a ficar de fora da lista de 22 municípios mineiros que receberam as primeiras doses da vacina contra a dengue. Representantes da secretaria municipal de saúde do município foram à Brasília, na última quarta-feira (21 de fevereiro), abrir o recurso. Segundo o secretário de saúde de Ipatinga, Walisson Medeiros, a cidade cumpre todos os requisitos de seleção e é referência para os municípios do entorno, como Pingo-d'Água e Antônio Dias, que já estão vacinando. O Governo de Minas, por outro lado, afirma que o processo seguiu critérios rígidos de autoridades sanitárias e está correto. 

“Ipatinga merecia ter recebido a vacina. Assim que foi publicada a portaria que definiu os critérios de seleção dos municípios beneficiados, nós fomos atrás de entender cada exigência. O departamento de vigilância epidemiológica da cidade realizou um estudo que prova que estávamos aptos”, afirmou Medeiros. De acordo com o Governo do Estado, no entanto, o processo seguiu orientação do Ministério da Saúde que considerou a quantidade limitada de doses da Qdenga disponíveis, as dimensões continentais do país e a diversidade de transmissão da dengue em cada região. 

Em Minas, segundo o Estado, dois tipos de municípios foram selecionados. Um grupo é o de cidades de “grande porte”: “população maior ou igual a 100 mil habitantes com alta transmissão de dengue nos últimos 10 anos”, informou por meio de nota. Já o outro é formado por municípios de menor nível habitacional, mas com grande risco: “independente do porte populacional, selecionados por ordem de predominância do sorotipo da dengue Denv-2 (reemergência recente) e pelo maior número de casos no monitoramento de 2023/2024”. 

A região de saúde que Ipatinga pertence foi selecionada, e nove cidades de lá estão com as doses da Qdenga (Coronel Fabriciano, Timóteo, Pingo-d'Água, Antônio Dias, Marliéria, Santa Maria de Itabira, Jaguaraçu, Dionísio e Córrego Novo). Coronel Fabriciano, por exemplo, tem mais de 100 mil habitantes, já Pingo-d'Água, com pouco mais de 4.700 moradores, foi escolhida pela incidência de casos graves e do monitoramento de notificações do último ano. O Governo do Estado não detalhou quais critérios Ipatinga não atendeu. 

“Até agora, não foi dada uma explicação para não termos sido contemplados que fizesse sentido. O Governo Federal demorou quase um ano para conseguir a compra da vacina e negociou cerca de 6 milhões de doses para este ano. Isso não dá nem ⅓ do país. Então o Governo explicou que teve que selecionar, mas não explicou o porquê Ipatinga não recebeu, sendo que estamos notificando os casos com transparência. Por isso, enviamos o recurso”, afirmou o secretário Walisson Medeiros. 

De acordo com ele, o Ministério da Saúde tem até 15 dias para responder o recurso enviado pelo órgão municipal. O último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) mostra que Ipatinga notificou, até essa segunda (26), 2.148 casos de dengue. O secretário afirmou que, enquanto aguarda a vacina, o município está atuando por meio da Central de Hidratação da cidade, reforço no atendimento assistencial, no estoque de insumos e em ações de prevenção como vistorias e fumacê. 

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde sobre a avaliação do recurso enviado por Ipatinga e aguarda retorno.

O que diz o Estado na íntegra

"A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informa que os critérios de seleção dos municípios foram estabelecidos pelo Ministério da Saúde e divulgados por meio do Informe Técnico Operacional da Estratégia de Vacinação contra a Dengue em 2024, disponível aqui.

De acordo com o órgão federal, considerando as dimensões continentais do Brasil, a heterogeneidade de transmissão em cada Região, e o limitado quantitativo de doses da vacina disponíveis para o ano de 2024, foram selecionados municípios de grande porte (população maior ou igual a 100 mil habitantes) com alta transmissão de dengue nos últimos 10 anos e incluídos os demais municípios das suas regiões de saúde de abrangência, independente do porte populacional, ordenados pela predominância do sorotipo Denv-2 (reemergência recente) e pelo maior número de casos no monitoramento 2023/2024, da Semana Epidemiológica (SE) 27/2023 à SE 2/2024."

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