Mariana

Turbidez de rio estaria aceitável

Samarco apresentou nessa quinta-feira resultado de análise que aponta água com 25,7 NTUs após dique S4

Por Aline Diniz* e Bárbara Ferreira
Publicado em 24 de fevereiro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Mariana. A Samarco apresentou nessa quinta-feira (23) os resultados da análise da água do rio Gualaxo do Norte, em Mariana, na região Central de Minas. Segundo a mineradora, os níveis de turbidez no curso d’água – que fica logo abaixo do dique S4 – estão em 25,7 NTUs, inferiores ao limite aceitável pela Resolução 357 do Conselho Nacional de Meio Ambiente, de 100 NTUs. A substância, conforme a empresa, precisaria ser tratada para ser consumida. Logo após o rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, esse índice chegou a 12 mil NTUs. Especialista ouvido por O TEMPO reafirma que essa medição não é suficiente para indicar que a água é adequada para consumo.

O especialista em meio ambiente do Projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais, Apolo Heringer afirma que é preciso fazer uma análise mais precisa, de preferência por alguma entidade que não tenha ligação com a empresa ou com o poder público. Segundo ele, a medição feita por turbidez não indica, de fato, a situação da água.

“Você pode ter água sem turbidez nenhuma, mas com algum tipo de veneno. A turbidez avalia os sólidos que estão em suspensão, mas o que já se tornou uma solução junto à água é homogêneo. Pode haver metais ou venenos que passam, inclusive, despercebidos pelas estações de tratamento”, explicou Heringer.

O sistema de contenção de sedimentos implantado pela mineradora foi finalizado em janeiro, com o término das obras do dique S4, o último barramento antes do rio Gualaxo do Norte. O dique provocou o alagamento de 33 hectares do antigo subdistrito de Bento Rodrigues. “A redução dos índices de turbidez demonstra que o S4 cumpre a função de conter sedimentos e envia água limpa ao Gualaxo”, afirma o diretor de operações e infraestrutura da Samarco, Rodrigo Vilela.

Além do S4, fazem parte do sistema a barragem Nova Santarém e os diques S1 e S2 – estruturas finalizadas no início de 2016. O dique S3 passou por obras de alteamento, que foram encerradas em novembro do ano passado, e Nova Santarém foi finalizada em dezembro de 2016.

O objetivo do complexo é impedir que os 4 milhões de metros cúbicos (m³) de rejeitos – no pior cenário, segundo empresa de consultoria contratada pela Samarco – cheguem à Bacia do Rio Doce.

“Com as obras, temos a capacidade de retenção de 8 milhões de m³”, garante o engenheiro Eduardo Moreira, coordenador de construção da empresa. Ele salienta que o período chuvoso demonstrou a eficácia das estruturas.

O processo de limpeza da barragem de Candonga já começou, e, segundo a empresa, já foram retirados 665 mil m³ de rejeitos.

Pagamento. De acordo com a Samarco, as multas aplicadas à empresa ainda não foram pagas. A mineradora está recorrendo na Justiça e só pagará quando se esgotarem as possibilidades judiciais.

Retomada

Operação.  A Samarco estima que voltará a operar no segundo semestre. A mineradora também busca autorização dos órgãos ambientais para depositar rejeitos na Cava de Alegria Sul por cerca de dois anos. O Estado explicou que, atualmente, a empresa trabalha para conseguir duas licenças de forma concomitante. A primeira se refere ao Sistema de Disposição de Rejeitos da Cava Alegria Sul. Duas audiências públicas foram realizadas nos dias 15 e 16 de dezembro em Ouro Preto e Mariana, respectivamente, e, atualmente, está sendo elaborado o parecer técnico que será submetido ao Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), órgão colegiado que decidirá sobre o deferimento ou não do pedido de licença.

Sobre o Licenciamento Operacional Corretivo do Complexo de Germano, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) encaminhou à empresa o Termo de Referência que norteará a realização do Estudo de Impacto Ambiental pela mineradora, que por sua vez resultará no Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). Os estudos serão apresentados à sociedade na forma de audiências públicas antes que possam ser analisados por técnicos da secretaria. Um parecer técnico será encaminhado para a apreciação do Copam, que define pelo deferimento ou não do pedido.

Para ambos os casos, conforme o Estado, não é possível precisar quanto tempo levará para a finalização de cada etapa.

Pós. Segundo o presidente da Vale, Murilo Ferreira, depois de Alegria, a Samarco usaria a cava Timbopeba, da empresa, que permitirá a operação sem necessidade de barragens.

 

Atualizada às 10h21 do dia 24 de fevereiro de 2017

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