A vacinação de crianças de 5 a 11 anos, que se inicia neste sábado (14) em Belo Horizonte, encontrará centros de saúde convivendo com o esgotamento de profissionais, segundo servidores municipais, em meio à alta de atendimentos por Covid-19 e gripe, além de funcionários afastados do trabalho por terem sintomas gripais.

Para amenizar o problema, a prefeitura informou que no sábado 85 postos vão se dedicar, exclusivamente, à imunização infantil e não receberão outros atendimentos. Na próxima semana, a aplicação de doses em crianças será feita, segundo a PBH, em escolas municipais. 

A enfermeira e diretora do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel) Aline Lara afirma que há salas de vacinação fechadas na cidade devido à falta de pessoal. “A vacina para crianças é nova e diferente, a pessoa precisa ser treinada. O número de profissionais afastados pode comprometer a campanha de vacinação e deixar o atendimento mais lento”, diz. O treinamento para os profissionais que aplicarão as doses da vacina da Pfizer no público infantil foi iniciado nesta semana pela prefeitura. 

Desde o Natal até esta semana, 1.156 servidores públicos foram afastados pela prefeitura devido a sintomas gripais. Só no último mês, 487 funcionários da saúde pública, 4% da força de trabalho, foram afastados.  Uma enfermeira que atua na sala de vacinação de um posto na região Centro-Sul conta que há pelo menos cinco colegas de licença. “Estou atendendo vacina de gripe, de Covid e vacinas infantis em uma única sala”, conta. 

A prefeitura havia contratado 467 trabalhadores temporários para atuar com a vacinação, mas demitiu parte deles no final do último ano, recontratando 335. Até o momento, segundo a administração municipal, foram feitas 1.015 contratações, de várias categorias, que podem atuar na vacinação. Com a alta demanda, gestores de cada unidade de saúde estão autorizados a convocar servidores em férias de volta ao trabalho. 

Segundo o O TEMPO apurou, há um centro de saúde em Venda Nova  em que há 11 baixas de funcionários diagnosticados com Covid-19 ou gripe. Um funcionário, que pediu para não ser identificado, afirmou que são médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem. “Essa ômicron veio para arrebentar. Sobrecarrega demais", comenta.

Imunização interrompida

Outra servidora da rede pública da capital destacou à reportagem que com a necessidade de afastamento de profissionais, só na última semana foram 12, foi preciso fechar, durante toda esta semana, a sala de vacinação do Centro de Saúde São Jorge, na regional Oeste. “Nesse momento está muito difícil, estamos vendo o adoecimento de colegas e precisamos assumir as funções”, diz a mulher que pediu para ter a identidade preservada.

Ela ainda reclama da sobrecarga gerada ao setor desde o início da pandemia. “Nós enfrentamos o primeiro incêndio que foi o início da pandemia, depois veio mais um incêndio que foi dar conta da vacinação com os postos cheios e agora é mais uma demanda grande sem estrutura (vacinação infantil). Uma sobrecarga grande”, criticou.

Sobre isso, OTEMPO questionou a prefeitura que confirmou a situação no Centro de Saúde São Jorge. Porém, segundo a administração municipal, "a vacinação contra Covid-19 foi realizada normalmente, sem interrupção". Ainda conforme a PBH foi necessário o remanejamento da oferta das demais vacinas de rotina "para outras unidades próximas".

A prefeitura, no entanto, negou a paralisação na unidade Milionários. "É importante considerar que o município tem trabalhado ininterruptamente para garantir pleno atendimento à população", disse a nota.

Vacina nas escolas

A vacinação de crianças será, em princípio, exclusivamente em centros de saúde e não ocorrerá nos pontos de drive-thru ou nos shopping centers. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) diz planejar levar a vacinação infantil para as escolas municipais na medida em que receber mais doses de imunizantes, porém ainda não confirma uma data para a mudança. 

A diretora do Sindibel Aline Lara avalia que a alteração é urgente, neste momento de alta de atendimentos nos postos. “Essa estratégia reforça a importância de retirar a vacinação no centro de saúde, onde há pessoas gripadas e com Covid circulando”, pontua a enfermeira.