INADIMPLÊNCIA

Vai sacar o FGTS? Saiba quais dívidas podem ser priorizadas e como investir

Especialistas recomendam cautela na hora de sacar o repasse de R$1 mil, disponível a partir do dia 20 de abril

Por Simon Nascimento
Publicado em 05 de abril de 2022 | 03:00
 
 
 
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A partir do dia 20 de abril, os brasileiros com contas ativas e inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) poderão sacar até R$1 mil com o saque extraordinário autorizado pelo governo federal. A verba será liberada na semana seguinte ao domingo de Páscoa e pode auxiliar 42 milhões de trabalhadores a reorganizar as finanças.

Para se ter dimensão da dificuldade dos brasileiros, 65 milhões, correspondente a 30% da população, estão endividados. Pesquisa do Serasa Experian aponta que a dívida média de cada brasileiro hoje é de R$4.042,08. Os principais vilões do orçamento são os débitos com cartão de crédito e bancos, seguido com os compromissos utilitários, como contas de água e luz e boletos do varejo. E para quem deseja utilizar o dinheiro do FGTS para tentar organizar as finanças, a máxima do momento é cautela.

Boletos que têm taxas de juros mais pesadas devem ser priorizados para evitar um agravamento da situação. O economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Guilherme Almeida, afirma que o planejamento das dívidas é essencial. “Por meio dele consegue-se fazer um ranking de compromissos pelo custo da dívida e a taxa de juros que incorre em cada uma”, destaca. 

Almeida alerta para as dívidas no cartão de crédito em que as taxas do rotativo, quando não se paga o boleto ou apenas a quitação parcial, costumam ser as mais pesadas do mercado. “Quando o consumidor paga a fatura mínima ou em atraso, ele entra no crédito rotativo que pode chegar a 13% ou 14% ao mês”, aconselha Guilherme. Para o assessor da Atrio Investimentos, Lauro Araújo, os débitos com cheque especial também merecem atenção especial. 

Mas, o especialista lembra que as dívidas são passíveis de negociação. “Normalmente o banco dá um bom desconto, de 25% a 30%, para quem negocia o pagamento à vista, mesmo em caso de dívidas do cartão de crédito e cheque especial”, diz. Araújo ainda lembra que, geralmente, a negociação tende a ser complicada de início. “Na primeira vez o banco não costuma negociar, mas é importante jogar duro, persistir e tentar negociar novamente. Eu já vi casos da pessoa conseguir até 50% de desconto”, destaca Lauro. 

Água e luz 

A priorização de pagamento das dívidas de cartão de crédito e cheque especial, entretanto, só deve ser feita caso não se tenha atrasos nas faturas mensais de água e luz. “São serviços essenciais que o consumidor não pode dispensar”, alerta Guilherme Almeida. Neste caso, Lauro Almeida diz que dívidas neste perfil representam problemas na organização do orçamento. 

“É um sinal de que a saúde financeira não vai bem. Geralmente, nessas dívidas de água, luz, internet e condomínio a taxa de juros não é abusiva, mas não permite negociação, então pagá-las é mais importante”, complementa. Conforme a Serasa Experian, a faixa etária de 30 a 40 anos é a mais endividada no Brasil e as mulheres lideram a lista de inadimplência.

Entenda

O saque do FGTS faz parte de um pacote do governo federal de estímulo à economia. O pacote inclui ainda outras ações, como a antecipação do 13º dos aposentados e pensionistas do INSS, o microcrédito para empreendedores e a liberação de consignado para quem ganha BPC (Benefício de Prestação Continuada) e Auxílio Brasil. Segundo a Caixa Econômica Federal, 42 milhões poderão fazer o saque de até R$1 mil do FGTS, somando R$ 30 bilhões liberados.

Oportunidade de investir 

Para quem está com o orçamento organizado, o saque do FGTS pode ser uma oportunidade de obter um rendimento melhor. Nas contas da Caixa, o valor rende 3% ao ano, índice considerado o mais baixo do mercado, conforme o assessor da Atria Investimentos, Lauro Araújo. “Qualquer investimento que a pessoa fizer vai render mais que o FGTS”, atesta. 

O especialista diz que títulos como o Tesouro Direto IPCA podem ter rendimento de 5 a 6% anualmente, além da correção conforme a inflação. Ele lembra que esses investimentos podem ser feitos com valores a partir de R$100. Lauro Araújo ainda sugere outros títulos, como o CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários), CRAS (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio). 

O principal, alerta, é ter cuidado para não ver o sonho virar frustração. “Quando for muito bom para ser verdade, duvide. Não existe dinheiro fácil”, alerta. Na mesma linha, o economista-chefe da Fecomércio, Guilherme Almeida, diz que as aplicações devem ser feitas após estudos e perfil de cada pessoa. “O ideal é que o consumidor procure um profissional para que avalie o perfil e indique corretamente o investimento mais adequado”, afirma.

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