Nos primeiros depoimentos prestados por Nakoto Namba, engenheiro da alemã Tüv Süd, à Polícia Federal, o funcionário garantiu ter sido pressionado pela Vale para assinar os certificados de segurança da barragem rompida em Brumadinho.
Mais de três meses após o desastre, a mineradora ajuizou uma ação contra a empresa de auditoria e solicitou à Justiça a entrega de todos os documentos relativos aos serviços prestados. A informação, publicada pelo jornal 'Folha de S. Paulo', foi confirmada pela Vale.
Na petição, a mineradora estaria alegando que, caso o depoimento de Mamba seja verdadeiro, a prestadora de serviços teria violado obrigações contratuais e seu próprio código de ética.
A Vale solicita que a empresa alemã entregue, além dos relatórios referentes aos contratos de certificação, os e-mails citados por funcionários da empresa durante depoimentos.
Mamba e André Yassuda, também engenheiro da Tüv Süd, foram presos em uma força-tarefa que investiga o rompimento da barragem no dia 29 de janeiro. Ambos permaneceram encarcerados na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, até o dia 7 de fevereiro.
Em um dos depoimentos prestados, Namba cita Alexandre Campanha, executivo da Vale. Ele teria dito à Polícia Federal que Campanha exerceu pressão sobre ele para que o documento de segurança fosse assinado. "A Tüv Süd vai assinar ou não", teria dito o funcionário da mineradora.
O engenheiro, então, disse ter respondido que assinaria se a Vale adotasse as recomendações feitas em uma revisão periódica em junho de 2018. Namba contou que se sentiu sob o risco de perder o contrato e, por isso, teria assinado o laudo.
Em sua defesa a Vale alega que não tinha conhecimento sobre os riscos de rompimento. Em nota enviada a O TEMPO, a mineradora diz que "ao contratar auditoria independente, a Vale esperava que os serviços fossem prestados com seriedade, responsabilidade técnica, independência e isenção (...), privilegiando a segurança e a correção técnica do seu trabalho".
Procurada, a Tüv Süd informou que mantém sua posição de não comentar o caso de Brumadinho "em respeito às investigações em curso".
De acordo com a 'Folha de S. Paulo', o processo expedido pela Vale contra a alemã corre na 9ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Troca na presidência
Dada a magnitude trágica e as polêmicas envolvendo as narrativas, a Polícia Federal e do Ministério Público Federal recomendaram à Vale o afastamento de Fabio Schvartsman, responsável pela direção da empresa. Ele continua ligado à companhia. Eduardo Bartolomeo foi confirmado como novo diretor-presidente da mineradora no dia 29 de março.
(Com Luiz Fernando Motta)