Relacionamento

Quais os caminhos para superar uma traição? Veja o que psicólogos dizem

Ao se ver diante de uma infidelidade, é preciso reconhecer os caminhos que levaram à traição para então conseguir seguir em frente


Publicado em 26 de setembro de 2023 | 06:00
 
 
 
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A priori, ninguém deseja ser traído. Pelo contrário, o medo da infidelidade pode pairar como uma sombra em muitos relacionamentos, sejam eles conjugais, familiares ou de amizade. Mas todos concordam que é impossível controlar os desejos e atitudes do outro, e, cedo ou tarde, a confiança pode ser quebrada de um dos lados. Com isso, podem vir outros sentimentos em relação ao outro, como decepção e descrença. Nesses casos, o que deve ser feito?

Na verdade, não existe resposta certa para a pergunta. Quando falamos em uma relação monogâmica, por exemplo, no qual não há acordos para o envolvimento de terceiros, a pessoa traída se vê no direito de agir da forma que achar correta. E, é claro, cada um pode se portar conforme seus princípios, desde que estejam excluídas quaisquer formas de violências, seja elas física, psicológica ou emocional. No entanto, superar uma traição é algo quase que fundamental, concordam os especialistas ouvidos pela reportagem, para que se consiga seguir com a vida, sabendo lidar com as consequências advindas de uma infidelidade. Para isso, sim, existem alguns possíveis caminhos a serem seguidos. 

Antes de qualquer coisa, é importante estabelecer o que se entende por traição. “Já conversei com um rapaz, cuja esposa encontrou, no histórico de navegação dele, links que levaram para matérias sobre fotos do corpo da cantora Iza. Ela entendeu isso como uma traição e rompeu o relacionamento”, exemplifica o professor de psicologia da UFMG Cláudio Paixão Anastácio de Paula. O docente contou o caso para explicar que, antes de se começar um relacionamento, é fundamental que as partes discutam sobre o que entendem por lealdade.

“Tratando o relacionamento como um acordo entre pessoas, e de traição como a quebra desse contrato, é importante estabelecer, logo no início do relacionamento, elementos que determinem limites, sobre até onde um ou o outro podem ir sem romper com o combinado”, reflete o professor. 

Depois, para um processo pleno de superação, é importante entender os motivos que levaram o outro à traição. Nesse momento, por mais dolorosa que seja a situação, os envolvidos devem se valer de diálogos sinceros e, dentro do possível, livres de julgamento. Na avaliação da psicóloga clínica e sexóloga, Leni Oliveira são variadas as razões que levam uma pessoa a trair a outra, e uma delas tem a ver com gênero. “Algumas pessoas traem por questão de oportunidade ou por acreditarem que podem. No caso dos homens, a sociedade legitima esse discurso”, pondera. 

“Um dos motivos que levam a traição é justamente a pouca clareza numa relação. Se eu sinto desejo por outro, mas não posso falar sobre isso, farei escondido”, avalia o professor, destacando que são três as principais dimensões de uma infidelidade: a sexual, a do não dito e do aprendizado. O último caso, ele explica, tem a ver com a pouca experiência de uma das partes. “Por exemplo, uma garota se casa aos 18 anos e, naquele momento, ela enxerga seu parceiro como único. Mas, ao chegar aos 30, ela percebe que existem outras formas de aproveitar a própria sexualidade, não apenas com quem se casou”, comenta o professor.

Traição mexe com autoestima, mas é fundamental não se culpar

Por mais que a traição diga mais sobre quem cometeu o ato de infidelidade, a pessoa traída tende a sentir mal consigo mesma. “A traição mexe muito com a autoestima, porque as pessoas traídas questionam a si mesmas. Nós aprendemos que temos que ser tudo, sermos suficientes em tudo, e ninguém é. Isso pode incluir a aparência. As mulheres vivem buscando uma estética perfeita para se sentirem amadas e serem escolhidas”, elabora a psicóloga.

Para além das questões com a aparência, a traição pode levar a quebra de paradigmas de um amor romântico e idealizado. “A traição fere o ego e as idealizações de um amor perfeito e exclusivo e mexe com a autoestima apontando um fracasso”, afirma Leni. “O amor romântico contribuiu muito com uma visão de exclusividade, essa ideia de completude faz com que desejamos ser tudo para o outro”, raciocina Leni. Descobrir uma traição, inclusive, pode ser parecido como vivenciar um luto. “Há um luto porque há uma perda, seja do ideal do amor completo ou da confiança. Trabalhar esse luto é aceitar nossa incompletude e ficar bem com isto”, reitera a sexóloga. 

Mas dentro desse contexto, e por mais difícil que seja, a coisa mais importante a ser feita pela pessoa traída é não se sentir responsável pelo ato de infidelidade do outro. “Ao descobrir que foi traído, a primeira coisa é não se culpar. Você pode refletir sobre suas ações no relacionamento, mas não acreditar que causou a traição”, orienta a psicóloga.

O professor Cláudio concorda. “A principal coisa é pensar com profundidade sobre o que aconteceu e não se culpar pelo ocorrido. Mas é importante pensar: ‘posso ter contribuído para levar ao outro à traição?’ Isso vai ajudar a repensar nas próprias atitudes quando em um futuro relacionamento”, adverte. 

Fortalecendo-se para seguir em frente

Caso seja difícil passar por esse processo sozinho, a psicóloga recomenda que se procure ajuda. O apoio emocional da família e dos amigos pode ser uma boa alternativa, assim como o auxílio de um profissional da saúde mental. A terapia é um ótimo momento para a retomada da autoestima, por exemplo. 

Outro processo recomendável para superar uma traição é conhecer a si mesmo e buscar ferramentas para estar bem consigo, em um caminho que inclui a dedicação aos próprios hobbies e o foco no trabalho e nos estudos.“Precisamos entender que ninguém é obrigado a se encaixar nas suas expectativas. Somos muito dependentes dos relacionamentos, e desenvolver autonomia ajuda”, diz Leni.

O fortalecimento emocional e psicológico vai impactar positivamente na escolha de se separar ou manter o relacionamento. Na avaliação de Leini, é “super possível perdoar e prosseguir! Já vi casais que se refizeram de uma maneira extremamente saudável”, relata. Um casal pode, inclusive, usar da situação para alinhar as expectativas. 

“Pode ser um momento de acertar as coisas, conversar sobre o que esperam e alinhar sobre o futuro, mas é preciso coragem e apoio. As pessoas tendem a pressionar quem foi traído sem levar em consideração os benefícios que essa pessoa tem na relação. Um ponto interessante é buscar apoio psicológico de qualidade para superar essa crise”, finaliza Leni.

 

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