Comportamento

Síndrome da segunda-feira: o que é e como lidar para que não vire um problema

Aversão ao primeiro dia útil da semana causa estresse, ansiedade e deve ser cuidada para não trazer prejuízos diversos


Publicado em 24 de julho de 2023 | 06:38
 
 
 
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Ah, as segundas-feiras… Quem nunca sentiu certo desânimo com a iminência do primeiro dia útil da semana? Se sábado e domingo foram tão bons, livres das obrigações e compromissos ordinários, como se empolgar novamente com o início de mais uma semana? Você pode até odiar a segunda-feira como um famoso gato laranja que atende pelo nome de Garfield. O personagem preguiçoso e ranzinza, criado por Jim Davis, tem muito de nós, seres humanos, no que se refere ao desprezo pela segunda-feira.

Davis já falou sobre isso em uma entrevista ao Huffpost: “Garfield não tem um emprego e nem vai à escola, então todo dia é o mesmo. Mesmo assim, toda segunda-feira serve como lembrete de que sua vida é a mesma coisa, sempre reiniciando o mesmo ciclo, e ainda assim é especificamente nas segundas que as coisas terríveis costumam acontecer com ele, fisicamente”.

A essa aversão dá-se o nome de “síndrome da segunda-feira”, mas os sintomas começam, geralmente, no domingo à noite e podem ser físicos, como dores de barriga, de cabeça e taquicardia, ou psicológicos, como tristeza, irritação e ansiedade. De acordo com pesquisas, sete em cada dez pessoas sentem esse desconforto com a chegada de mais uma segunda-feira. Segundo o doutor em psicologia social e professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG, Cláudio Paixão, o fenômeno é muito comum.

“Síndrome é um fator, uma condição que acomete algumas pessoas, e não necessariamente uma doença, até porque ainda não foi classificada como tal. De fato, a síndrome da segunda-feira tem representatividade nas pesquisas, que inclusive mostram uma incidência menor de infartos no fim de semana do que no domingo à noite ou na segunda de manhã”, comenta o psicólogo.

É possível considerar a tal síndrome da segunda-feira sob quatro perspectivas: a causa material da condição, o que acontece no organismo da pessoa e como a síndrome se manifesta; o que acabou por construir essa condição, ou seja, a causa eficiente, como formulava Aristóteles para se referir ao criador de algo; as causas formais, comportamentos visíveis em função da síndrome e, finalmente, o que motivou o surgimento do pavor às segundas-feira e o que está por trás desse estado, que seriam chamadas de causas finais. “A partir dessas reflexões, podemos analisar o quadro e pensar como solucioná-lo”, comenta Cláudio Paixão.

Se sete em dez pessoas admitem sofrer da síndrome, não devemos desprezar que esta é uma condição que pode ser explicada pelo mundo em que vivemos – cada vez mais acelerado, dominado pelo trabalho e por um discurso que preza pela eficiência e certa frieza dos resultados práticos em detrimento das delicadezas e subjetividades do cotidiano.

Nós nos acostumamos a isso: enxergar os dias úteis como o período tenebroso em que precisamos suportar toda e qualquer dor causada pelo trabalho ou pelas relações sociais. Por sua vez, o fim de semana é o paraíso, onde, para conseguirmos deixar todas as angústias de lado, é possível mergulhar num mar de excessos – do álcool ao puro e mais fútil ócio. Para Cláudio Paixão, é saudável refletir sobre a equação “dias úteis x fim de semana”. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

“É interessante pensar que não precisamos tornar nosso fim de semana o desbunde total para, assim, conseguirmos voltar para aquele mundo horrível de segunda a sexta. Eu me anestesio no fim de semana, durante a semana é uma desgraça, no fim de semana me anestesio de novo. É preciso reinventar isso, encontrar equilíbrio, tornar os dias mais leves”, pondera o psicólogo.

Pode-se mitigar a sensação de desânimo com a chegada da segunda-feira, e isso passa muito pelo que fazemos do nosso fim de semana. Repensar nossa rotina é fundamental para não sobrecarregarmos o dia a dia. Assim, atividades culturais, sair da mesmice paralisante e improdutiva, propor para si novos projetos e desafios, sonhar com os pés no chão e tentar enxergar a beleza das miudezas da vida, tantas vezes desprezadas no curso frenético dos tempos atuais, podem ser saídas benéficas para enfrentar a – para muitos – temida segundona.

Contudo, não é fácil. Às vezes, o desgaste acumulado e as queixas no domingo à noite são inevitáveis e podem revelar algo mais sério do que uma simples reclamação, inclusive um quadro de burnout. “Se essa sensação não vai embora, é importante procurar ajuda psicológica, ir na causa do problema, na origem dele. Tudo na nossa vida acontece atendendo a um propósito. Precisamos equilibrar trabalho e prazer”, salienta Cláudio Paixão.

Questão de metabolismo

A síndrome da segunda-feira não tem a ver só com aquela indisposição de voltar às atividades cotidianas, não se trata somente de um fenômeno psicológico, mas uma questão de metabolismo. No fim de semana, a tendência é que nosso organismo desacelere, alterando a produção de alguns neurotransmissores responsáveis pelas sensações de prazer. É um processo lento, por isso é comum sentir os efeitos negativos dessa troca no domingo à noite. Da irritação, vem o estresse; e se há estresse, há liberação de cortisol e adrenalina para tentar controlar esse desassossego físico e emocional.

“Nosso organismo acaba gerando uma sobrecarga de hormônios para lutar contra isso ou fugir. O estresse é uma reação natural a uma ameaça. Se começo a ter muita ansiedade no domingo à noite, é natural que meu corpo se coloque de prontidão para aquilo na segunda, o organismo precisa se preparar rápido. Esse choque, esse recomeço não é só mental, mas também fisiológico”, conclui Cláudio Paixão.

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