Clima de descontração, DJs tocando set-lists vibrantes e bebidinhas. Essa descrição poderia facilmente se aplicar a uma balada que começa depois das dez da noite e é regada a álcool, comida escassa e som alto.
Mas recentemente essa tem sido também a definição das festas promovidas por cafés e padarias, as chamadas coffee parties. A diferença é que esses eventos acontecem durante o dia, o volume da música proporciona interação maior entre as pessoas, há oferta de comida boa, e o café é o grande queridinho do público, o que também não exclui a ingestão de bebidas alcoólicas.
As coffee parties não são exatamente algo novo. Em 2013, surgiu em Nova York um movimento chamado Daybreaker, que propunha festas matinais para promover interação entre pessoas, muitas delas abaladas após passagem do Furacão Sandy. Mas depois da pandemia é que essa atividade ganhou fôlego.
Nos últimos anos, festas diurnas viraram tendência em diferentes países da Europa, em Dubai e nos Estados Unidos e chegam agora no eixo São Paulo-Rio-BH, refletindo mudanças de hábitos entre os mais jovens. Estudos mostram que a Geração Z tem bebido cada vez menos e optado para chegar em casa mais cedo.
Festas diurnas em BH
Por aqui, pelo menos quatro casas já promoveram cooffe parties, e a ideia é que esses eventos entrem no calendário dos estabelecimentos. A unidade da Frau Bondan no Cine Brasil realizou a primeira festa no mês passado e já programa a próxima para julho.
Batizada de Soun-d Queijo, a festa começou às 10h no salão do café, que se transformou em pista de dança, com muita música, bebidas quentes, comida farta e drinks variados. Vinicius Glico, um dos sócios da casa, conta criou o evento ao observar a tendência ao redor do mundo.
“Eu sempre amei café da manhã. É meu evento/refeição favorito do dia. E como eu sou DJ e sócio de uma cafeteria na cidade, juntamos o útil ao agradável em uma conversa com a minha sócia. Aproveitamos ainda que nosso café fica no centro da cidade, na praça Sete, e resolvemos fazer e testar”, diz.
A primeira edição deu super certo, mas Glico acredita que esse conceito está em fase de constituição. “É algo novo que está sendo e precisa ser construído. O engajamento nas redes sociais foi muito bom e tivemos um público bem legal na primeira edição. A tendência é de cada edição o povo aderir mais e mais”, afirma. No cardápio, pão de queijo, drinks com café e chocolate quente, cerveja…
“Fizemos um cardápio inicial com um preço bem acessível, diferente até do preço que trabalhamos no dia a dia”, explica Glico, destacando que não imagina um evento como este substituindo as baladas noturnas. “Acredito que possam ter pessoas que não gostam [de balada] ou não podem sair de jeito nenhum à noite que vão ter um espaço como uma opção para ouvir música boa, dançar e socializar de uma forma diferente”, pontua.
Cooffe parties na Savassi
No último sábado (14 de junho), a Belô Café, na Savassi, recebeu a sua primeira cooffe party. Idealizada pela DJ Dani Ebner, a Pão de Queijo Sessions rolou das 10h às 18h no espaço, com música eletrônica, cafezinho, drinks e pão de queijo, é claro. Além dela, também tocaram os DJs Clara Datz, Buda Fuse e Villa.
“Vi essas festas acontecendo fora, em países da Europa e nos Estados Unidos, e pensei em maneiras de como conectar essa tendência à cultura mineira. Então, o pão de queijo deu esse toque”, explica. A festa reuniu pessoas de todas as idades, de crianças a pessoas mais velhas. “Não foi apenas o público que curte música eletrônica, é uma festa para todo mundo”, comenta Dani.
A DJ concorda com Glico: a ideia não é promover uma “rixa entre festa diurna e noturna”, mas criar um ambiente leve com música eletrônica, café e música boa, com as vantagens de um clima solar.
“Vejo que as pessoas estão mais abertas a festas durante o dia, algo mais leve, que vai além do comum. À noite, muitas vezes não dá para conversar, são outras propostas. De dia, é possível criar conexões, comer bem, almoçar ao som de uma boa música”, diz. A DJ espera, ainda, que o evento transporte as montanhas mineiras. “Já tive proposta até de levar a Pão de Queijo Sessions para São Paulo”, comemora.
Também na Savassi, a Albertina funciona cotidianamente como uma padaria de pães especiais. De uns tempos para cá, também tem aberto as portas para eventos desse tipo, como o Faixa Bono’z, que já aconteceu duas vezes, com cafés, vinhos, talhos de pizza e docinhos.
“É um evento realizado em parceria com a minha equipe. O Bono é um dos nossos padeiros, que gosta muito de pizza, daí veio o nome Faixa Bono’z. Vira um evento muito descontraído, com vinho na taça e um serviço mais simplificado. É sobre curtir o espaço: olho para ele e vejo vida, e acho isso muito legal”, conta a chef e proprietária Renata Rocha.
Nos dias de coffee party, a casa estende o horário de funcionamento até às 19h (aos sábados, a Albertina fecha às 14h). “O dia abre com mais gente tomando café e mais para fim da tarde, o clima vai se adaptando, com mais consumo de pizza e vinho”, explica.
Renata observa que, em dias assim, recebe pessoas que geralmente não visitam o local. “Percebo que o público que vem é mais novo do que o que frequenta minha padaria no dia a dia. A geração Z se conecta com um estímulo mais solar: dias animados, cheios de gente na rua. Eles se preocupam com a comida que consomem e buscam um estilo de vida mais saudável, o que tem tudo a ver com o que queremos oferecer. Isso combinou muito com o meu propósito”, celebra.
Bar e brunch juntinhos
Os irmãos Bruce Laviola, do Ofélia Bar, e Gabriela Ayra, da Confeitaria Rebobina, sempre quiseram criar algo juntos, mas ele sempre foi mais da noite, e ela, do dia. Daí, quando observaram a tendência das cooffes parties chegando por aqui, decidiriam que este seria o momento perfeito para criar um evento assim.
“A ‘Rebofélia’ nasceu desse match: a Confeitaria Rebobina, com seu brunch já conhecido em BH, o Ofélia, que propõe uma experiência criativa e autoral com drinks, e a Velvy Coffee, trazendo cafés especiais e drinks preparados na hora pelo barista. Misturamos tudo isso em um único evento, no clima de Belo Horizonte, e o resultado foi uma experiência que conectou várias tribos, tudo sob a luz do dia”, denota Laviola.
O evento deu tão certo que os irmãos já prepararam a próxima edição, programada para o dia 6 de julho. “Foi um formato que funcionou super bem, tanto para gente, quanto para o público, que curtiu muito a proposta”, comenta.
No cardápio, pratos de Gabriela e drinks de Laviola embalaram o evento que começou às 10h e foi embalado pela música do DJ Gustavo Bezzi.
“Percebo um crescimento real do interesse por programas diurnos, como cafés com música, baladas mais leves à tarde e eventos que permitem curtir sem precisar virar a madrugada. Isso tem a ver com um estilo de vida mais equilibrado que muita gente vem buscando”, aponta Laviola.
Laviola conta que o público variou bastante, de pessoas de 20 até os 40 anos, o que mostra que essa tendência não é exclusiva para um recorte.
"O que tenho percebido é que, enquanto a geração Z abraça muito esses eventos diurnos por serem mais leves, espontâneos e conectados a um estilo de vida mais saudável, quem já passou dos 30 também tem se identificado com esse formato, muitas vezes por conciliar melhor com a rotina e evitar o cansaço das madrugadas", comenta.
"Entendemos que, eventos diurnos acabam unindo diferentes gerações em torno de uma mesma proposta: curtir com qualidade e comida boa, sem necessariamente esticar até tarde", aponta.