Em 2025, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o Ano Internacional das Cooperativas, reforçando um princípio que se comprova nos territórios mais diversos do planeta: unir para transformar. Em Minas Gerais esse modelo não é apenas uma alternativa econômica. É resposta concreta a desigualdades históricas, à emergência climática e à urgência por modelos mais justos e sustentáveis de desenvolvimento.

Seja na reorganização da pesca artesanal em Morada Nova de Minas, na transição ambiental das lavouras do Cerrado ou na geração de energia solar que já abastece hospitais e creches, o cooperativismo mineiro demonstra sua força com resultados palpáveis.

Em comum, as experiências revelam o poder da coletividade quando somada ao conhecimento técnico, ao protagonismo local e ao compromisso com o futuro. O reconhecimento da ONU não veio por acaso. É sobre mostrar, com números e histórias que, além de resistir, cooperativas constroem futuro.

Morada Nova e a força de uma cooperativa

Em Morada Nova de Minas, o reflexo da água já foi sinônimo de incerteza. Durante décadas, famílias locais tiraram do reservatório o sustento por meio da criação de tilápias — mas tudo de forma improvisada, sem garantias legais, sem acesso a crédito, sem mercado estruturado. A pesca existia, mas era invisível aos olhos do mercado formal.

Hoje, a paisagem continua a mesma, mas a realidade social e econômica da cidade mudou de forma estrutural. Pequenas balsas e tanques-rede operam lado a lado, agora de maneira organizada e regularizada, resultado direto da união desses produtores em torno de um propósito comum: a criação da Cooperativa dos Piscicultores do Alto e Médio São Francisco (Coopeixe).

A organização transformou Morada Nova no principal polo de produção de tilápia de Minas Gerais e em um dos maiores do país. “A cidade hoje depende da tilapicultura, e a maioria das pessoas está envolvida. É motivo de muito orgulho sermos reconhecidos como referência nacional”, destaca Hilton de Oliveira Caixeta, presidente da Coopeixe.

O desenvolvimento econômico e social trazido pelo cooperativismo a esse município mineiro é exemplo concreto do porquê as cooperativas foram homenageadas em 2025 pela ONU, com a declaração do Ano Internacional das Cooperativas. Para além de um modelo de negócios, o cooperativismo se mostra, no mundo todo, como uma alavanca para o desenvolvimento sustentável, ao unir prosperidade econômica à inclusão social.

Constituída em 2006, a Coopeixe reúne hoje 41 cooperados, sendo responsável por 11% da produção mineira de tilápia em um município que produz cerca de 20 mil toneladas por ano — o equivalente a 44% da produção estadual e quase 4% da nacional. “Saímos de uma produção diária de 600 quilos para 7 toneladas por dia”, lembra Hilton.

A virada começou em 2018, quando o Sistema Ocemg, a pedido do Sicoob Aracoop, identificou o potencial dos produtores locais e lançou o projeto Cadeia Produtiva da Tilápia, dentro do programa +Coop Desenvolvimento Sustentável. O foco era organizar os produtores e regularizar o uso das águas da União. “Identificamos a desunião dos produtores e a falta de regularização do uso da água como pontos críticos. Em parceria com o Sistema Ocemg, desenhamos a organização da cadeia produtiva da tilápia, sensibilizando os piscicultores para caminharem juntos”, conta Ramiro Ávila, presidente do Sicoob Aracoop.

A regularização começou em 2022, com os primeiros contratos de cessão de uso celebrados pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Hoje, cerca de 80% dos piscicultores da cidade já operam de forma regularizada, com segurança jurídica, acesso a financiamento e aumento da escala de produção. “Hoje, a cooperativa apoia desde o piscicultor até o frigorífico e a ração. Já preparamos o setor para avançar também na exportação. A cidade ganhou projeção nacional e autonomia para crescer com sustentabilidade”, afirma Ramiro. Hilton complementa: “Já fizemos um levantamento sobre exportação. A meta agora é estruturar esse passo, mas sem descuidar da qualidade no mercado nacional”, afirma Ramiro Ávila.

“Não é só sobre negócios. É sobre transformar realidades com protagonismo local e resultados que se espalham como ondas”, resume Ronaldo Scucato, presidente do Sistema Ocemg. Minas lidera o país em número de cooperativas, com cerca de 800 organizações. Para Scucato, o cooperativismo precisa estar no centro das políticas públicas e da estratégia de desenvolvimento regional. “Morada Nova mostrou que quando o produtor deixa de estar sozinho, ele começa a sonhar mais alto. E, juntos, eles fazem acontecer”, afirma.

Sustentabilidade, inovação e energia limpa

Nas lavouras do Cerrado ou nos telhados solares do Sul de Minas, o cooperativismo se consolida como motor da transição ambiental, da regeneração territorial e da inclusão de novos protagonistas no campo.

Com mais de 170 cooperativas agropecuárias e 140 mil cooperados, o setor em Minas promove o uso responsável dos recursos naturais, o fortalecimento da agricultura familiar e o protagonismo de mulheres e jovens.

Adubação equilibrada, preservação de nascentes e controle racional de defensivos agrícolas são algumas das práticas que ganham corpo entre os associados, contribuindo para reduzir emissões e mitigar os efeitos da crise climática. 

Na região do Cerrado Mineiro, a Expocacer alia alta performance produtiva à responsabilidade ambiental. A cooperativa recebeu o selo Regenagri e o Selo Ouro do GHG Protocol, por práticas que vão do manejo biológico à irrigação inteligente, com sensores que já reduziram em 30% o uso de água nas lavouras.

 “Desenvolvemos ações concretas que vão do manejo biológico à irrigação inteligente. Também criamos o Protocolo ECO, que avalia gratuitamente as boas práticas nas propriedades dos nossos cooperados”, explica Mariana Velloso Heitor, presidente da Expocacer.

A cooperativa também atua na recuperação de bacias hidrográficas, em parceria com o Consórcio Cerrado das Águas, e mantém há mais de uma década o programa “Elas no Café”, voltado à formação técnica, valorização e protagonismo de mulheres rurais. “Quando elas assumem a gestão da propriedade, vemos mais atenção aos detalhes, uso mais responsável dos recursos e maior engajamento familiar”, diz Mariana.

“O futuro da cafeicultura passa pela valorização de quem faz parte dela. E isso inclui, de forma fundamental, as mulheres e as novas gerações”, afirma.

Em Carmo de Minas, a Cocarive também aposta em práticas regenerativas e na sucessão familiar como pilares para um campo mais forte. “Nossos técnicos acompanham o dia a dia dos produtores, promovem a coleta correta de embalagens e oferecem análises de solo para um uso mais eficiente dos insumos”, destaca o presidente Ralph Junqueira.

A cooperativa investe na comercialização de microlotes de café e na realização de concursos de qualidade, estratégias que aumentam a renda dos produtores e agregam valor à produção. 
Na área da energia, o programa MinasCoop Energia, criado pelo Sistema Ocemg, tem mudado a matriz energética do Estado com base na geração distribuída e nas fontes renováveis.

Desde 2020, o programa já implantou 110 usinas solares em 66 municípios, com R$ 57,7 milhões em investimentos e a adesão de 45 cooperativas. Além de gerar economia e sustentabilidade, parte da energia produzida é doada para 68 instituições filantrópicas, beneficiando mais de 4,2 milhões de pessoas.

O modelo mineiro foi apresentado nas últimas três edições da Conferência da ONU sobre o Clima (COP26, COP27 e COP28) como experiência replicável. “O programa nasce da estratégia do Sistema Ocemg de fortalecer a autonomia energética das cooperativas e, ao mesmo tempo, ampliar o alcance social das soluções implantadas”, afirma Alexandre Gatti Lags, superintendente da Ocemg.

A Unimed São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas, mostra como o projeto funciona na prática. Com duas usinas fotovoltaicas, abastece toda a sua estrutura, incluindo urgência, centro cirúrgico, exames e medicina preventiva. “Com essas usinas, geramos toda a energia necessária para o funcionamento dos nossos prédios. Ainda conseguimos doar parte da energia para uma instituição da cidade”, relata o presidente Matheus Colombaroli.

O projeto foi viabilizado com apoio da Unicred Evolução e do Sicoob NossoCrédito. “As usinas se pagaram em dois anos. O que tem dificultado a ampliação para outras unidades é o processo de autorização da Cemig”, observa.

Para Gatti, o sucesso do programa revela como é possível conectar a pauta climática às realidades regionais com soluções viáveis e coletivas. “Ao gerar excedente e compartilhar com instituições filantrópicas, conseguimos levar energia limpa a locais que não seriam atendidos por modelos convencionais de transição. Isso fortalece a economia local, dinamiza redes de intercooperação e garante que os resultados fiquem na comunidade", finaliza.

Para saber mais acesse: sistemaocemg.coop.br .


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