Esperança

Antiga vacina poderia conter o novo coronavírus, dizem médicos australianos

A famosa BCG, desenvolvida há 100 anos contra o flagelo da tuberculose na Europa, agora está sendo testada contra o coronavírus por cientistas na Austrália

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 05 de abril de 2020 | 11:31
 
 
 
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A vacina Bacillus Calmette-Guerin (BCG) ainda é amplamente usada nos países em desenvolvimento, onde os cientistas descobriram que ela faz mais do que prevenir a tuberculose. A vacina evita mortes infantis por várias causas e reduz drasticamente a incidência de infecções respiratórias.

Ela parece "treinar" o sistema imunológico para reconhecer e responder a uma variedade de infecções, incluindo vírus, bactérias e parasitas, dizem os especialistas. Ainda existem poucas evidências de que a vacina atenue a infecção por coronavírus, mas uma série de ensaios clínicos pode responder à pergunta em apenas alguns meses.

Testes entre os profissionais de saúde

Na última segunda-feira, cientistas em Melbourne, na Austrália, começaram a administrar a vacina BCG ou um placebo em milhares de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas respiratórios e outros profissionais da saúde – o primeiro de vários ensaios clínicos aleatórios que pretendem testar a eficácia da vacina contra o coronavírus.

"Ninguém está dizendo que isso é uma panaceia", disse Nigel Curtis, chefe do departamento de doenças infecciosas do Royal Children's Hospital, em Melbourne, que planejou o ensaio clínico. "O que queremos fazer é reduzir o tempo de indisposição de um profissional de saúde infectado, para que ele se recupere e possa voltar ao trabalho mais rapidamente".

Na Europa também

Um ensaio clínico com mil profissionais de saúde começou há 10 dias na Holanda, disse Mihai Netea, especialista em doenças infecciosas no Radboud University Medical Center, em Nijmegen. Oitocentos profissionais de saúde já se inscreveram para participar dos testes. (Como na Austrália, metade dos participantes receberá um placebo.)

Denise Faustman, diretora de departamento de imunobiologia do Hospital Geral de Massachusetts está buscando financiamento para iniciar um ensaio clínico da vacina em profissionais de saúde de Boston também.

Primeiros resultados daqui a quatro meses

Resultados preliminares podem estar disponíveis em menos de quatro meses. "Temos dados realmente fortes de ensaios clínicos com seres humanos - e não com ratos - de que esta vacina protege você contra infecções virais e parasitárias", disse Denise. 

Como outras vacinas, a BCG tem um alvo específico: a tuberculose. Mas as evidências acumuladas na última década sugerem que a vacina também tem efeitos fora do alvo, reduzindo doenças virais, infecções respiratórias e sepse, e parece reforçar o sistema imunológico do corpo. A ideia é uma derivação da "hipótese da higiene", que sugere que a ênfase moderna na limpeza privou as crianças da exposição a germes.

Polêmica com médicos franceses

Ontem, um médico francês pediu desculpa por ter sugerido publicamente que testes de vacinas para o Covid-19 fossem realizados em África, uma vez que lá, segundo ele, as pessoas não têm proteção.

A afirmação, que surgiu durante uma entrevista com o diretor de investigação do Inserm, o instituto nacional de saúde francês, foi muito criticada, inclusivé por dois conhecidos futebolistas africanos.

"A África não é um laboratório de testes. Gostava de denunciar vivamente essas palavras humilhantes, falsas, e acima de tudo profundamente racistas", disse Dider Drogba. O seu colega Samuel Eto'o, por sua vez, chamou os médicos de "Filhos da p...". "Bem-vindo ao Ocidente, onde os brancos se consideram tão superiores que o racismo e a debilidade são banalizados. Hora de se levantar!", disparou o ex-jogador do Barcelona.

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