Infectado com o coronavírus, o técnico Renê Simões, 67, viveu os últimos dias isolado, em "cativeiro" no próprio quarto. Segundo contou o técnico em contato telefônico com a reportagem do UOL Esporte, ele escolheu ficar sozinho antes mesmo de saber o resultado do seu teste para proteger a esposa e a filha, que moram com ele. A libertação será hoje e, enquanto isso, o treinador de futebol aconselha amigos mais velhos sobre os riscos da Covid-19.
"Desde o dia 15, eu tive muita dor de cabeça, garganta começou a inflamar e eu tive uma pequena febre, 37,4°. Resolvi dar um pulo no hospital. Sei que não é para ir logo ao hospital, mas eu sou do grupo de risco. O médico fez o teste, mas o resultado demora cinco dias para sair. Voltei para casa e fiquei em quarentena. Fiquei isolado, em 'cativeiro' no meu quarto, avisei a minha mulher: 'agora, você e minha filha ficam do lado de fora e não entrem mais no quarto'", contou Renê.
Atualmente sem clube, Renê disse que o maior desafio desse isolamento foi encontrar um equilíbrio mental. Para isso, o técnico decidiu criar uma rotina a seguir dentro do próprio quarto: arrumar a cama, conversar com amigos via aplicativos ou telefonemas e praticar sudoku, um jogo de lógica. A alimentação era entregue pela esposa, mas o carioca abria a porta apenas quando ela estava longe.
"Tem que arrumar um equilíbrio mental muito forte. E só 12 dias depois eu recebi o resultado, foi positivo. Os médicos me ligavam sempre no hospital, e eu falei que estava ótimo. Eu fiquei no cativeiro aqui. O segredo foi o dia seguinte ao hospital, quando acordei eu pensei: 'vou ficar na cama, mas tenho que levantar, não vai resolver ficar todo esse tempo na cama'. Eu criei uma rotina de arrumar minha cama sempre. Todo o dia eu organizei tudo para a minha mente ficar arrumada também", explicou Renê.
"Batia na porta avisando que acordei, e minha mulher trazia o meu café, avisando com toques na porta também. Ia para o Whatsapp conversar com amigos, joguei sudoku e resolvi assistir todos os canais possíveis para montar meu próprio pensamento em relação a essa crise", acrescentou.
Renê está isolado desde o dia 16 de março e agora está prestes a retornar ao dia a dia, ao lado da família. Apesar disso, o treinador exaltou a importância de se manter em casa, fora de seu quarto, mas em sua própria residência. Mesmo agora imune, ele ainda pode transmitir o vírus a outras pessoas.
"O meu sequestrador, que é o coronavírus, estabeleceu um regaste de 14 dias. Amanhã (hoje) vence e vou poder ficar ao lado da minha família. Mas mesmo assim tenho que continuar sendo responsável, porque mesmo que não pegue mais a doença, eu posso ser um transmissor. Eu acabei não sentindo os sintomas graves, mas o que vivemos é grave", declarou.
Com mais de 40 anos de carreira no futebol, Renê Simões tem passagens por quase todos os grandes clubes do futebol brasileiro. O ex-treinador também comandou a Seleção Brasileira feminina, com a qual conquistou a prata em Atenas-2004. O último trabalho como técnico foi em 2017, pelo Macaé (RJ). Atualmente participa do reality show, "Uma vida um sonho" apresentado por Glenda Koslowski, no SBT.