Números
Coronavírus: na Itália e no Brasil, idosos são maioria dos mortos
Maior parte das vítimas têm mais de 60 anos de idade; pessoas com comorbidades também são vulneráveis à doença
Os números da pandemia de coronavírus na Itália, país com mais mortes pela doença no mundo, e no Brasil confirmam a preocupação dos especialistas com os grupos mais vulneráveis em relação à Covid-19: os idosos e as pessoas com comorbidades.
De um total de 67.814 casos confirmados no relatório mais recente do Instituto Nacional de Saúde da Itália, publicado nesta quarta-feira (25), 6.157 evoluíram para óbito, o que representa uma taxa de letalidade de 9%.
Entre os mortos, 95% (5.863) tinham mais de 60 anos de idade. Nenhum deles tinha menos de 30 anos.
Um relatório publicado pelo Instituto na última terça-feira (24), que analisa 5.542 mortes, mostra que a idade média dos pacientes que não resistiram à doença é de 78 anos. Os homens correspondem a mais de 70% dos mortos.
Com base em uma análise de 514 óbitos, o Instituto Nacional de Saúde da Itália concluiu que 98,7% das pessoas que morreram apresentavam comorbidades, sendo que mais da metade delas tinham três ou mais doenças além da Covid-19. As comorbidades mais comuns são hipertensão (74,7%), diabetes (30,5%) e cardiopatia isquêmica (24,5%).
No Brasil, até esta quarta-feira, o Ministério da Saúde tinha confirmado 2.433 casos de coronavírus e 57 óbitos, o que significa uma letalidade de 2,3%.
Do total de vítimas, 66% (38) eram homens e 89,4% (51) tinham mais de 60 anos – a média de idade dos mortos no Brasil é de 76 anos. Todos os seis mortos que tinham menos de 60 anos possuíam comorbidades, como diabetes, hipertensão e tuberculose.
Um homem de 33 anos foi o mais jovem a morrer com coronavírus no país, em São Paulo.
"Os dados que vieram primeiro da China mostram que a mortalidade é bem mais elevada nas pessoas acima de 60 anos de idade ou com comorbidades, como pressão arterial elevada, diabetes, problemas no coração e no pulmão e tratamento recente para câncer. E esses dados estão se mostrando também na Itália, por isso nossa preocupação maior no Sistema Único de Saúde (SUS) é quanto a esses grupos", afirma o pesquisador e professor de Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Unaí Tupinambás.
O infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Mateus Westin, ressalta que, independentemente da faixa etária, o fato de uma pessoa possuir comorbidades eleva o risco de agravamento da infecção pelo coronavírus. "Quanto maior a idade, maior a probabilidade de coexistir outras doenças. Mas, independentemente da idade, o fato de ter hipertensão e diabetes, principalmente essas duas, mas também doenças cardiovasculares e pulmonares em geral, aumenta o risco de complicaações", explica.
Segundo ele, os dados observados apontam que em torno de 60% a 70% dos infectados são homens, e 30% a 40% são mulheres e, consequentemente, o número absoluto de homens que morrem é maior. "Quando a gente avalia se o sexo foi um fator de risco independente para maior ou menor mortalidade, o que os estudos têm mostrado é que não necessarimente", afirma Westin. "Um estudo publicado na revista The Lancet avaliou os fatores de risco para maior mortalidade nos pacientes que tiveram Covid-19 na China. A frequência de morte entre homens e mulheres até foi diferente, mas, ao se aplicar um teste estatístico para ver se isso tinha significância estatística para uma diferença a ser pensada como um fator de risco, isso não foi evidenciado", explica.
De acordo com Unaí Tupinambás, há hipóteses que tenta explicam a maior letalidade entre os homens. Na China, por exemplo, foi levantada a possibilidade de um hormônio feminino proteger contra a forma mais grave do coronavírus, mas ainda não há comprovações quanto a isso.
O professor reforça a importância do isolamento social para o combate à epidemia. "Uma publicação no The Lancet mostrou que, em Wuhan, na China, teria sido dez vezes pior se não tivesse havido isolamento social", pontua.
"Outro estudo nessa mesma revista mostra o impacto da lavação de mão com água e sabão. Não é nada complicado, não precisa ter álcool. É importante lavar toda a superfície das mãos, entre os dedos, durante pelo menos 20 segundos. O estudo mostra que, se 90% da população aderir a essa técnica, vamos controlar essa epidemia", explica Tupinambás.
Veja os números:
Itália
67.814 casos confirmados
6.157 mortes
Taxa de letalidade: 9%
Faixa etária | Número de mortes |
0 a 29 | 0 |
30 a 39 | 17 |
40 a 49 | 57 |
50 a 59 | 220 |
60 a 69 | 680 |
70 a 79 | 2.180 |
80 a 89 | 2.456 |
90 ou mais | 547 |
98,7% dos mortos apresentavam comorbidades, sendo 21,4% deles uma comorbidade; 26,1%, duas comorbidades; 51,2%, três ou mais comorbidades.
Brasil
2.433 casos confirmados
57 óbitos
Taxa de letalidade: 2,3%
Faixa etária | Número de mortes |
0 a 29 | 0 |
30 a 39 | 1 |
40 a 49 | 3 |
50 a 59 | 2 |
60 a 69 | 7 |
70 a 79 | 17 |
80 a 89 | 21 |
90 ou mais | 6 |
Fontes: Instituto Nacional de Saúde da Itália, Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais de Saúde