À beira da falência

Coronavírus: produtores de flores vivem drama com cancelamento de eventos

Floricultura mineira, segunda maior do país, já registra perdas milionária e demissões; prejuízo pode chegar a R$ 1,6 bilhão até o Dia das Mães, considerado o Natal do setor

Por Rômulo Almeida
Publicado em 05 de abril de 2020 | 14:14
 
 
 
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Os impactos da pandemia do novo coronavírus são profundos e atingem setores da economia que podem até passar despercebidos, mas causam sofrimento, derrubam empregos e tiram o enfeite do dia a dia. Um exemplo de profissionais que agonizam e nem sempre são vistos, apesar da importância deles, são os envolvidos na produção de flores. A área já registra queda nos lucros e cortes de cargos de trabalho no Brasil

Minas Gerais, o segundo Estado em produção de flores do país, superado apenas por São Paulo, tem cerca de 600 produtores, segundo a Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais). E o setor já sofre as consequências das medidas restritivas que passaram a valer desde o fim de março, como explica Flávio Vieira, presidente da Associação dos Distribuidores e Produtores de Flores e Plantas de Minas Gerais.

"Pelo que vejo dos atacadistas e distribuidores, o prejuízo no Estado já chega a R$ 1,5 milhão", estima Flávio em relação ao início de abril. E o Dia das Mães - conhecido como "Natal da floricultura" - pode significar, neste ano de pandemia no país, tristeza para as famílias envolvidas na produção de flores e plantas. "A nível Brasil, o prejuízo será de R$ 1,6 bilhão até o Dia das Mães", conta o presidente da entidade. 

Se as medidas restritivas para o combate do coronavírus não forem flexibilizadas, 66% dos produtores do Brasil podem falir, segundo o Insituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor).

Belo Horizonte concentra a maior demanda dos produtores mineiros. A capital concentra grande quantidade de eventos, floriculturas e casamentos, inviabilizados pelas medidas de prevenção ao coronavírus por causarem aglomeração de pessoas. Uma feira que acontece às quintas e aos sábados, no bairro Cachoeirinha, por exemplo não está podendo ser realizada desde o dia 20 de março, quando um decreto da Prefeitura de Belo Horizonte proibiu o funcionamento desse tipo de comércio. 

Com a queda da procura, quem sente na pele são os floricultores de cidades do interior de Minas. "Assim que começou a quarentena nossos pedidos chegaram a praticamente zero. Tinha colheita, mas não tinha demanda", conta Mário Raimundo de Melo, produtor de Barbacena. A cidade do Campo das Vertentes está entre as três maiores produtoras de flores de corte de Minas Gerais. 

A queda nos lucros obrigou Mário a dar férias ou dispensar alguns de seus 28 funcionários. "Com os que ficaram a gente está fazendo um banco de horas, porque o trabalho foi reduzido. Quando a gente colhe uma rosa, por exemplo, ela deve ser transportada para o barracão onde é selecionada, limpa e embalada. E esse trabalho consume mão-de-obra, mas acabou", relada o produtor. 

Ele continua cuidando da plantação para que, assim que o mercado seja reestabelecido, sua empresa possa atender à procura e recuperar parte do prejuízo, inclusive reativando os postos de trabalho. "Tinha pessoas que estavam em período de experiência, mas não pude efetivá-las" lamenta Mário. 

A associação que representa os funcionários do setor disse que espera do poder público ações que possam socorrê-los neste momento de crise. "A gente espera que os governos municipal, estadual e federal tenham atitudes concretas", conta. 

O Superintendente de Abastecimento e Economia Agrícola de Minas, João Ricardo Albanez,afirma que o Estado está buscando formas de atender aos empresários da floricultura. "Nós temos nos reunidos com várias câmaras técnicas e pegando informações com empresários envolvidos no setor e estamos levantando a possibilidade de discutir a situação da floricultura e das outras áreas com os agentes financeiros buscando recursos, via BDMG, Banco do Brasil e Sicoob Crediminas, no caso de quem tenha algum financiamento com essas instituições", diz.

Albanez ressaltou a importância da floricultura para a economia e reconheceu que a atividade foi a primeira a ser impactada por ter tido sua cadeia produtiva quebrada com a inviabilização de eventos a partir de medidas que proíbem aglomerações de pessoas. 

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte para saber se o município adota alguma medida para ajudar o setor, uma vez que a feira na capital está fechada. Em nota, a PBH afirma que  "a portaria [que trata da situação de emergência] prevê a suspensão de cobrança dos valores das guias mensais com vencimento a partir de abril de 2020 para as feiras permanentes, inclusive para a feira de arte, artesanato e produtores de variedades da avenida Afonso Pena e da feira de antiguidades, comidas típicas e flores naturais da avenida Carandaí".  

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