Os impactos da pandemia do novo coronavírus são profundos e atingem setores da economia que podem até passar despercebidos, mas causam sofrimento, derrubam empregos e tiram o enfeite do dia a dia. Um exemplo de profissionais que agonizam e nem sempre são vistos, apesar da importância deles, são os envolvidos na produção de flores. A área já registra queda nos lucros e cortes de cargos de trabalho no Brasil.
Minas Gerais, o segundo Estado em produção de flores do país, superado apenas por São Paulo, tem cerca de 600 produtores, segundo a Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais). E o setor já sofre as consequências das medidas restritivas que passaram a valer desde o fim de março, como explica Flávio Vieira, presidente da Associação dos Distribuidores e Produtores de Flores e Plantas de Minas Gerais.
"Pelo que vejo dos atacadistas e distribuidores, o prejuízo no Estado já chega a R$ 1,5 milhão", estima Flávio em relação ao início de abril. E o Dia das Mães - conhecido como "Natal da floricultura" - pode significar, neste ano de pandemia no país, tristeza para as famílias envolvidas na produção de flores e plantas. "A nível Brasil, o prejuízo será de R$ 1,6 bilhão até o Dia das Mães", conta o presidente da entidade.
Se as medidas restritivas para o combate do coronavírus não forem flexibilizadas, 66% dos produtores do Brasil podem falir, segundo o Insituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor).
Belo Horizonte concentra a maior demanda dos produtores mineiros. A capital concentra grande quantidade de eventos, floriculturas e casamentos, inviabilizados pelas medidas de prevenção ao coronavírus por causarem aglomeração de pessoas. Uma feira que acontece às quintas e aos sábados, no bairro Cachoeirinha, por exemplo não está podendo ser realizada desde o dia 20 de março, quando um decreto da Prefeitura de Belo Horizonte proibiu o funcionamento desse tipo de comércio.
Com a queda da procura, quem sente na pele são os floricultores de cidades do interior de Minas. "Assim que começou a quarentena nossos pedidos chegaram a praticamente zero. Tinha colheita, mas não tinha demanda", conta Mário Raimundo de Melo, produtor de Barbacena. A cidade do Campo das Vertentes está entre as três maiores produtoras de flores de corte de Minas Gerais.
A queda nos lucros obrigou Mário a dar férias ou dispensar alguns de seus 28 funcionários. "Com os que ficaram a gente está fazendo um banco de horas, porque o trabalho foi reduzido. Quando a gente colhe uma rosa, por exemplo, ela deve ser transportada para o barracão onde é selecionada, limpa e embalada. E esse trabalho consume mão-de-obra, mas acabou", relada o produtor.
Ele continua cuidando da plantação para que, assim que o mercado seja reestabelecido, sua empresa possa atender à procura e recuperar parte do prejuízo, inclusive reativando os postos de trabalho. "Tinha pessoas que estavam em período de experiência, mas não pude efetivá-las" lamenta Mário.
A associação que representa os funcionários do setor disse que espera do poder público ações que possam socorrê-los neste momento de crise. "A gente espera que os governos municipal, estadual e federal tenham atitudes concretas", conta.
O Superintendente de Abastecimento e Economia Agrícola de Minas, João Ricardo Albanez,afirma que o Estado está buscando formas de atender aos empresários da floricultura. "Nós temos nos reunidos com várias câmaras técnicas e pegando informações com empresários envolvidos no setor e estamos levantando a possibilidade de discutir a situação da floricultura e das outras áreas com os agentes financeiros buscando recursos, via BDMG, Banco do Brasil e Sicoob Crediminas, no caso de quem tenha algum financiamento com essas instituições", diz.
Albanez ressaltou a importância da floricultura para a economia e reconheceu que a atividade foi a primeira a ser impactada por ter tido sua cadeia produtiva quebrada com a inviabilização de eventos a partir de medidas que proíbem aglomerações de pessoas.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte para saber se o município adota alguma medida para ajudar o setor, uma vez que a feira na capital está fechada. Em nota, a PBH afirma que "a portaria [que trata da situação de emergência] prevê a suspensão de cobrança dos valores das guias mensais com vencimento a partir de abril de 2020 para as feiras permanentes, inclusive para a feira de arte, artesanato e produtores de variedades da avenida Afonso Pena e da feira de antiguidades, comidas típicas e flores naturais da avenida Carandaí".