Pesquisa

Ferramenta da UFMG ajuda a entender como a Covid-19 avança

Países com muitas desigualdades sociais, como o Brasil, convivem mais tempo com pandemia

Por Lucas Morais
Publicado em 14 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Prever o comportamento de uma doença infecciosa, até então pouco conhecida pelos cientistas, nunca foi tão essencial como agora para salvar vidas. Em poucos meses de pandemia, o coronavírus já afetou mais de 4,2 milhões de pessoas e provocou a morte de mais de 130 mil em todo o Brasil. 

Para entender a velocidade dessa expansão, tão diferente entre os países, a tecnologia se tornou a principal aliada. Uma ferramenta que usa a inteligência artificial para entender o ritmo de transmissão da doença acaba de ser lançada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Kunumi, organização dedicada ao desenvolvimento de plataformas científicas. Disponível gratuitamente na internet (covid-19.kunumi.com), o projeto conta com mais de 200 variáveis que influenciam a taxa de mortalidade da doença, como comportamento da população, flexibilização e clima.

Responsável pela pesquisa, o professor do Departamento de Ciência da Computação da UFMG Adriano Veloso explica que a plataforma traz os principais fatores responsáveis por uma eventual queda ou crescimento dos casos de Covid-19 no país. Também cria cenários da pandemia em situações como a reabertura das escolas, iniciada em alguns Estados brasileiros, ou a retomada de eventos, como ocorreu no Norte de Minas.

“O mais interessante é que é possível verificar se uma variável está freando algum surto, como o fechamento dos postos de trabalho, e, com isso, as autoridades perceberem que não podem alterar essa medida. Também é possível verificar se determinado setor contribui com o controle da doença ou não e até determinar a reabertura”, exemplifica Adriano Veloso.

A plataforma revelou que uma das explicações para o rápido avanço da pandemia no Brasil foi o elevado número de pessoas que vivem em favelas e outras áreas carentes de urbanização e infraestrutura. 

Segundo o professor da UFMG, os motivos principais são a alta densidade populacional e a falta de acesso a serviços de saúde e a impossibilidade da adoção do trabalho remoto.

Evolução no país se aproxima da dos EUA

O estudo, que também analisou os dados de outros países, aponta a semelhança da expansão da pandemia entre Brasil e EUA. Para o professor da UFMG, a explicação está na elevada desigualdade social nas duas nações, o que afeta a forma como as famílias se protegem.

“Quando se comparam Brasil e EUA com os países escandinavos, percebemos que lá na Europa ocorreu um pico bem alto, mas depois conseguiram controlar o surto. Geralmente as nações americanas vivem um surto que não acaba mais, reflexo da distribuição de renda”.

Na Bélgica, um terço das mortes ocorreu em asilos e casas de repouso. “Padrão reforçado pela análise do modelo, que identificou o alto número de leitos em instituições de terceira idade como um dos fatores mais importantes no aumento da velocidade de crescimento das taxas diárias de infectados a cada 100 mil habitantes”, informou o estudo. 
 

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