Não há dúvidas de que o uso de máscaras é importante no combate ao coronavírus. Elas evitam que gotículas provenientes da tosse, do espirro e até mesmo da fala se propaguem. O que ainda gera discussão, porém, é sobre quem precisa usá-la. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é necessário o uso de máscara apenas para quem apresenta sintomas do coronavírus, casos suspeitos, infectados e profissionais que lidam com pessoas afetadas pela Covid-19.

O Ministério da Saúde segue as recomendações da OMS, que externou sua preocupação com a escassez de máscaras em todo o mundo, mas existe uma busca por saídas no Brasil. Nessa quarta (1º), o ministro da pasta, Luiz Henrique Mandetta, em coletiva no Palácio do Planalto, orientou que as pessoas façam suas próprias máscaras de pano para evitar transmissões comunitárias. A recomendação, porém, é motivada pela baixa no abastecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs), sendo a China o mercado principal do Brasil. 

"Quem fez estocagem domiciliar, é na unidade de saúde que tem que ter [máscaras]. Acho que máscaras de pano para as [transmissões] comunitárias funciona muito bem como barreira. Não é caro para fazer, faça você mesmo. Tem na internet. Lave com água sanitária, deixe por 20 minutos, seque, tenha quatro ou cinco de uso pessoal. Agora é lutar com as armas que temos. Não adianta só lamentar que a China não está produzindo", aponta Mandetta.

Segundo o ministro da saúde, há uma concentração do mercado de EPIs na China. Ainda, que muitas das compras do Brasil caíram, mesmo com contratos assinados e com o dinheiro em mãos para pagar os pedidos. Ele criticou a concentração de insumos tão importantes em um só país, o que justifica a dificuldade de comprar EPIs no mercado chinês.  

"Existe um problema de sistema de saúde, e quando não se tem a perspectiva do abastecimento, mais do que nunca a gente tem que poupar ao máximo. Quem tem máscara N-95, leve para o hospital. Os médicos vão precisar. [...] O Ministério da Saúde está tentando fazer uma grande compra e esperamos que a China pacifique o mercado. Quando essa epidemia acabar, espero que mundo nunca mais cometa o desatino de fazer 95% da produção de insumos que decidem as vidas das pessoas num único país", pondera Mandetta.

O ministro também afirmou que tem orientado secretarias municipais e estaduais para que ajam localmente, de forma que a aquisição de máscaras não se concentrem apenas nas mãos do Ministério da Saúde. A reportagem entrou em contato com a Secretaria Estadual de Minas Gerais (SES-MG), mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. 

Consultada, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria de Saúde, informou que criou um grupo de estudos para analisar as indicações do uso de máscaras durante a pandemia da Covid-19. Ainda, que no momento não há falta de EPIs na capital, mantendo as compras para abastecer os estoques das unidades de saúde, com os fornecedores tendo mantido entregas regulares. Comunicou, também, que está fazendo uso racional desses insumos.

Máscaras de pano

Consultado, o Ministério da Saúde informou que "está elaborando instruções para a população em geral sobre o uso de máscaras de pano. A pasta destaca que a máscara é uma barreira física e pode ser feita de pano por quem não tem outra alternativa. Dessa forma, muitas iniciativas pelo país estão surgindo como forma de garantir o abastecimento emergencial". Ainda, que "recomenda que a população deixe aquelas aprovadas pela Anvisa para serem usadas pelos hospitais, pelos profissionais da saúde e pessoas que apresentem sintomas".

Ainda não existe uma comprovação científica da eficácia da máscara de pano, mas ela se fez, segundo especialistas, uma saída em tempos como o que estamos vivendo. É importante pontuar que a máscara de pano não substitui todos os cuidados necessários para a prevenção da Covid-19, como lavar as mãos frequentemente e evitar tocar olhos, nariz e boca. Todos esses cuidados são essenciais, como também não colocar a máscara sem higienizar as mãos.

"A máscara não é proteção definitiva de coisa alguma. Não exclui a necessidade do isolamento social e da higiene absoluta. A máscara de pano tem a menor eficiência que temos evidência até o momento. Todo tecido é poroso, tem uns buraquinhos. Por ser porosa, é uma barreira grosseira para o vírus, que é uma partícula muito pequena. Por ter uma grande porosidade, a máscara de pano permite que o vírus entre. Mas, para quem quer usar, é melhor que use essa, do que aquelas necessárias no ambiente de saúde, porque ali as pessoas precisam se proteger com mais afinco", pondera Luana Araujo, infectologista e mestra em Saúde Pública pela Johns Hopkins.

Como não há argumentos científicos quanto ao uso da máscara de pano, o que se tem é que é preciso ter mais de uma máscara e de uso pessoal, como ressaltou Mandetta nessa quarta. Ainda, que elas sejam higienizadas com frequência, não sendo necessário o seu uso o dia inteiro. A máscara é apenas uma barreira e deve ser usada em compromissos momentâneos, como ir ao supermercado ou à farmácia.

"Toda máscara, quando úmida, suja ou com perda de integridade, tem que ser descartada. A máscara de pano fica úmida com facilidade. Se a pessoa estiver tossindo, vai umidificar ainda mais rápido e ela precisa ser lavada. Sobre o manuseio, se tocar nela, tem que lavar a mão. Quando tirá-la do rosto, tem que ser direto para o recipiente onde ela vai ser lavada. Não é preciso um sabão diferente, pode ser um comum, que o vírus não resiste", comenta Luana.

Iniciativas

Diante do cenário de escassez de máscaras, algumas pessoas já têm confeccionado em casa, mesmo antes das declarações do ministro da saúde. Caso da artesã, confeiteira e costureira Ana Maria da Silva, de 64 anos, que desde o início desta semana tem costurado e doado máscaras de pano. Em contato com a reportagem, ela afirmou que faz em média 20 peças por dia, com tecidos de algodão.

"Soube das máscaras de pano. Como eu tinha uns panos aqui em casa, resolvi pegar os moldes na internet e comecei a fazer. Foi bom porque me ajudou a tirar um pouco da ansiedade também, eu estava muito tensa", conta a moradora do bairro Novo Progresso, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte.

A iniciativa, chamada Máscaras da Donana, é bem recente e começou a ser divulgada em grupos de WhatsApp. Inicialmente, segundo a costureira, apenas familiares e amigos buscavam na sua casa, mas algumas pessoas até então desconhecidas já a procuraram. A costureira tem doado as máscaras para quem a procura, mas comentou que, quando o tecido acabar, os interessados por levá-lo, que ela costura. Ela gasta cerca de 1m² a cada dez máscaras.