Inovação

Pesquisa nunca foi tão necessária

De impressão 3D de máscaras a conserto de respiradores, professores e alunos de universidades articulam ações científicas e de solidariedade

Por Queila Ariadne
Publicado em 20 de abril de 2020 | 03:01
 
 
 
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Desde o início da pandemia, os ministérios da Saúde e de Ciência e Tecnologia e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) já anunciaram investimentos de R$ 250 milhões para financiar pesquisas científicas e tecnológicas de enfrentamento da Covid-19. Só para projetos como mestrado e doutorado das áreas de saúde, exatas, epidemiologia, imunologia, bioinformática, desenvolvimento de medicamentos, telemedicina, entre outros, devem ser liberados R$ 200 milhões, suficientes para financiar 2.600 bolsas.

O Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) lançou seu próprio edital e pretende investir R$ 604 mil em bolsas de pesquisa e apoio para compra de insumos. A ideia é estimular professores, alunos e colaboradores em geral a desenvolverem projetos para combater não só a doença, como todos os efeitos que ela tem provocado.

O técnico-administrativo Diego Henrique Nascimento, 32, viu no edital do Cefet uma oportunidade de ampliar uma ação que ele já vinha fazendo por conta própria: produzir e doar protetores faciais para profissionais de saúde que, devido à demanda global, estão com acesso cada vez mais restrito a Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “Em casa, eu tenho cinco impressoras 3D, que eu mesmo fiz e tenho usado para imprimir peças (de plástico) para montar protetores faciais”, conta o engenheiro mecânico, que atualmente desenvolve uma pesquisa de doutorado em bioengenharia.

Uma das máscaras produzidas pelo servidor chegou às mãos da enfermeira Anna Loize Paiva, 28. Para ela, o bem de uma atitude como essa faz vai muito além do profissional de saúde. “Esse EPI tem um significado de gratidão e respeito, pois foi doado o tempo não só para mim, mas também para o paciente, que se sentirá mais seguro com meu atendimento. Foi uma ajuda humanitária, e são equipamentos que protegem não só a mim, mas também à minha família quando chego em casa”, relata.

Atualmente, Nascimento é quem arca com os custos dos insumos, como as placas de acetato. Se o projeto dele for selecionado, receberá R$ 23 mil para compra de materiais e serviços. O recurso também será usado para financiar outros dois projetos: um de suporte para as máscaras e outro de respiradores. 

O resultado da seleção dos projetos do Cefet será publicado no dia 27 de abril.

Critérios do Ministério da Saúde

Na hora de escolher quais pesquisas serão apoiadas, o Ministério da Saúde levará em conta a aplicabilidade do projeto para o Sistema Único de Saúde (SUS).

a análise de mérito é avaliada a aplicabilidade para o SUS. Sozinha, a pasta aprovou R$ 20 milhões e, junto com o Ministério de Ciência e Tecnologia, a soma é de R$ 50 milhões.

Professor do Cefet articula rede de solidariedadeNem só das pesquisas vêm as contribuições das universidades. Professores e alunos têm doado tempo e experiência com ações que vão desde produzir máscaras de proteção para hospitais a consertar respiradores com defeito. 
<CW-22>Em Leopoldina, na Zona da Mata mineira, ainda não houve nenhum registro de coronavírus. Mesmo assim, o professor Ângelo Rocha, que dá aula de engenharia de automação no Cefet da cidade, buscou parcerias com colegas de outros campi e com a iniciativa privada para articular uma rede de solidariedade. 

“Muitos professores já têm em casa uma impressora 3D, que produzem as peças de sustentação dos protetores. Conseguimos uma parceria com uma empresa de São Paulo, que já está enviando as placas cortadas. O elástico vem de Santa Catarina. E a montagem é feita pelos professores. Depois, distribuímos para hospitais da região e da capital”, explica Rocha. Em Belo Horizonte, o Risoleta Neves e o Célio de Castro já receberam cem máscaras.

Outra ação do Cefet de Leopoldina é o reparo de respiradores e monitores cardíacos com defeitos. “Vamos receber esses equipamentos de hospitais da região, e professores de mecânica e eletrônica vão tentar consertar”, ressalta Rocha.

Projeto de bioinformática de Varginha comparar genomas

Um projeto de iniciação científica do Cefet de Varginha, no Sul de Minas, vai usar a bioinformática para comparar o genoma dos vírus da Covid-19 em circulação na China, na Itália e nos Estados Unidos. 

“Todas as informações genéticas estão em um banco de dados internacional. Nós já tínhamos apresentado um projeto para comparar genomas desde dezembro e, quando surgiu a pandemia, decidimos que seria interessante investigar as diferenças”, explica o doutor em biotecnologia Wedson Gomes, que orienta um aluno do curso técnico de informática.

Na avaliação do professor, o mapeamento pode ajudar na indicação de medicamentos e vacinas. “Por meio da bioinformática, com análise do banco de dados, vamos comparar as semelhanças e diferenças entre os vírus que circularam nesses três países e estudar se houve alguma mutação. A partir daí, será possível, por exemplo, indicar quais medicamentos terão respostas mais eficientes”, explica Gomes.

 

 

 

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