Nordeste

Sem mortes por Covid-19, cidade do RN com 5.800 habitantes decreta lockdown

Prefeitura de Itaú decidiu tomar a medida mais extrema de distanciamento depois de ver saltar, em três dias, de zero para 11 os casos confirmados do novo coronavírus

Por Folhapress
Publicado em 14 de maio de 2020 | 19:15
 
 
 
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As grades de ferro bloqueando três ruas nesta terça-feira (12) eram o sinal concreto de que o medo do novo coronavírus atingiu Itaú. Cidade do sertão potiguar a 358 km de Natal, Itaú teve decretado o lockdown. Uma casa de jogos que deveria estar fechada está no epicentro da crise na saúde de Itaú.

Apesar de a cidade de 5.878 habitantes não ter registrado nenhuma morte, a prefeitura decidiu tomar a medida mais extrema de distanciamento depois de ver saltar, em três dias, de zero para 11 os casos confirmados da Covid-19.

Há ainda 14 casos suspeitos, um descartado e 85 pessoas em monitoramento –sem sintomas, mas que tiveram contato com infectados. O fato de o hospital municipal Marcolino Bessa não dispor de leitos de UTI nem respiradores pesou na decisão, segundo o coordenador de saúde da cidade, Nedilson Paiva.

"O comitê gestor achou que era melhor fazermos o 'lockdown', já que corre o risco de um alastramento em massa e o município mais próximo que podemos nos socorrer é Pau dos Ferros, a 40 km". A maioria dos pacientes tem sintomas leves e com idades entre 25 e 50 anos.

A cidade do sertão do Rio Grande do Norte vive da agricultura –caju, castanha e plantação de feijão, entre outros. A maioria mora na área urbana de Itaú, que é cortada por uma rodovia federal.

Cada bairro, agora, só tem uma entrada e uma saída. Para circular, o morador precisa passar pelas barreiras e informar o que vai fazer –por exemplo, ida a supermercado foi considerado ato essencial. Há comunicação entre os pontos e guardas pelas ruas da cidade para garantir o cumprimento do decreto.

O decreto prevê multa de R$ 150 e até internamento compulsório de quem não respeitar o isolamento. Além de funcionários do município, o cumprimento do lockdown terá apoio de policiais militares.

"Se a pessoa precisar passar na barreira, vai dizer o que vai fazer. O acesso à cidade é que é menos liberado. Se alguém vier fazer algo num cartório, não pode, porque não é serviço essencial. Visita a familiar também não", diz o prefeito Ciro Bezerra (DEM).

Uma casa de jogos é suspeita de ser o foco da contaminação da Covid-19 em Itaú, segundo o prefeito. Ela deveria estar fechada, já que toda a atividade não essencial precisou fechar as portas desde o dia 21 de março.

Um morador da vizinha Taboleiro Grande desencadeou o processo de lockdown. É que ele costumava frequentava o local mesmo com a quarentena decretada. Na sexta-feira (8), fez o teste rápido, que confirmou a Covid-19.

Resolveu avisar a Prefeitura de Itaú que estava com a doença e que teve contato clandestino com frequentadores do carteado.

A prefeitura, então, mapeou quem esteve na casa de jogos. Selecionou 30 pessoas, que fizeram o teste no último sábado. Do total, 11 testes deram positivo.

"Eles estavam abrindo à margem da lei e de uma forma que ninguém sabia. Eles deixavam os carros longe e ninguém percebia que tinha jogo lá dentro", conta o prefeito. "O paciente de Taboleiro Grande vinha todos os dias e nos informou que testou positivo. Foi aí que tomamos a medida para fazer os testes e fechar a casa de jogo."

A cidade já vinha sentindo os efeitos do isolamento. A última missa presencial na cidade foi dia 15 de março, durante o período da quaresma.
O padre José Mário Freitas, pároco da cidade, é a favor da medida.

"A importância desse lockdown é para nos resguardar, enquanto muitas vezes não enxergamos a seriedade da situação. É difícil e desafiante", disse. "Estou vendo como vou transmitir algo para ajudá-los."

Alguns comerciantes da cidade, porém, reclamaram que o lockdown veio de forma rápida e gerou surpresa na população.

Além da multa, os pacientes suspeitos ou monitorados podem ser internados de forma compulsória caso sejam vistos nas ruas.

"Tem uma sala reservada para fazer o isolamento compulsório, caso alguém mapeado pela secretaria de saúde desobedeça ao decreto. Se a pessoa não for monitorada, a polícia recomenda ir para casa. Se insistir, é multado e vai responder por negligência", disse o prefeito.

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