A estreia oficial da Periscópio aconteceu em novembro de 2015, com as exposições individuais do mineiro Marc Davi e do paulista Fábio Tremonte. Mas, desde julho daquele ano, a galeria, que é uma das mais recentes de Belo Horizonte, já existia – ainda de portas fechadas. Foram cincos meses de reformas para o casarão da década de 1920, localizado na fronteira entre o bairro de Lourdes e o centro, estivesse apto a receber os projetos expositivos montados ali.
O espaço escolhido para sediar a galeria difere dos tradicionais ambientes que se encaixam no modelo identificado como cubo branco. O que pode ser algo atrativo, do ponto de vista da relação com o público, é, ao mesmo tempo, desafiador para os artistas, especialmente aqueles mais acostumados com o formato convencional. “A gente pensou muito nessa casa, fizemos uma grande reforma nela, mas há certamente algumas limitações, que também instigam os artistas que estão cansados daquela coisa de cubo branco. Na Periscópio, eu costumo dizer que o espaço é mais exigente. Quando o artista chega aqui, de certa forma, ele precisa competir com uma casa que tem quase 100 anos. O que for exposto ali precisa, portanto, ser muito bom”, afirma Rodrigo Mitre, um dos sócios da galeria.
O paraense Eder Oliveira, conhecido por espalhar seus trabalhos nos muros de Belém, é do grupo que não vê grandes dificuldades em levar suas criações para o casarão. Para ele, as características arquitetônicas oferecidas pelo local podem, inclusive, ser uma vantagem em relação a seu trabalho.
“Para mim, ele é interessante porque é um prédio que preserva uma lembrança e, como o meu trabalho, lida com a noção de identidade. Eu acho bom também começarmos a sair do formato do cubo branco, que atende muito bem, mas, às vezes, força uma relação de espectador não ativo com os trabalhos. No momento, a maioria das obras e dos artistas buscam uma interatividade com o espectador, não necessariamente via o toque, mas por meio da percepção”, completa Oliveira, que em maio vai expor suas pinturas na galeria Genesco Murta do Palácio das Artes.
O artista antecipa que estarão exibidas algumas criações inéditas, mas o objetivo principal é oferecer um panorama da sua trajetória. “Será uma espécie de resumo do que venho fazendo nos últimos anos, principalmente nos últimos três. Eu vou mostrar o que considero mais relevante na minha produção”, pontua ele. Essa exposição é um desdobramento de um projeto que ele também realizou recentemente na Alemanha.
“Eu ganhei um prêmio, mas não levei para lá as pinturas e, sim, outros trabalhos, como as fotografias. Quando apareceu o edital de ocupação de artes visuais do Palácio das Artes, nós decidimos fazer um exposição com um recorte centrado apenas nas pinturas”, diz.
De acordo com ele, continua sendo central na sua produção a pesquisa ligada à cor, à qual ele também relaciona questões de cunho político e social. “São variações de marrons que discutem essa cor do mestiço que na verdade não é nem negro nem índio. Mas uma mistura de etnias com o branco colonizador. Há também gradações de vermelho e azul, então, essas pinturas são construídas a partir dessas narrativas de cor ou de como eu percebe e enxergo elas”, afirma Oliveira, que é daltônico e, em razão disso, concentra-se nas variações de uma mesma tonalidade em suas composições.
“Haverá uma série que chamo ‘Monocromos’ que se baseia na redução de um retrato numa única cor”, completa ele.
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Um projeto que busca alternativas ao cubo branco
O espaço escolhido para sediar a galeria difere dos tradicionais ambientes que se encaixam no modelo
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