Já tem algum tempo que Juliana Costa, 26, deixou de lado as palavras “mãe” e “pai” para se dirigir àqueles que a conceberam. Desde que a febre do k-pop a atingiu, o interesse crescente pela cultura do distante país asiático levou a garota a aprender algumas palavras em coreano. Pai e mãe se tornaram, respectivamente, “appa” e “omma”. Quando quer dizer “Meu Deus” e expressar surpresa, Juliana fala “ommo”. Para perguntar “como assim?”, ela manda logo um “otoquê?”.
Habituada a consumir animes japoneses, Juliana foi estimulada por uma amiga a assistir novelas coreanas, conhecidas como doramas. Foi então que, em 2012, o k-pop entrou na sua vida para nunca mais sair. “No começo eu estranhei, mas logo me adaptei e hoje já existem as fanbases brasileiras (páginas na internet) que traduzem as letras para o português”, conta. Foi navegando na rede que Juliana conheceu Micaela Amaral, 25. Em 2010, Micaela criou na internet a comunidade K-Pop MG, que supera 10 mil membros. É ali que são marcados os encontros.
Normalmente, eles acontecem no Centro de Referência da Juventude (CRJ), onde já está agendado um evento para o dia 25 de maio, quando o BTS se apresenta em São Paulo. Mas há também matinês em outros pontos da cidade, como a praça da Liberdade e o Parque Municipal. “Promovemos danças, brincadeiras, sorteamos brindes e pôsteres, tudo de graça”, informa Micaela, que costuma reunir, em média, 400 pessoas nessas festas. Dançarino de k-pop há cinco anos, Victor Hugo, 23, é um dos que não perdem as oportunidades de compartilhar o gosto pelo gênero com outros fãs. No começo do ano, ele entrou para um trio que imita as coreografias dos ídolos.
Antes, ele se apresentava em boates e fazia cover de Britney Spears. “O k-pop mistura hip-hop, balé e o pop tradicional. Ele não é só um estilo de música, é algo que você leva para a vida, as roupas e o visual. A principal marca é a autenticidade”, enaltece. Por sinal, a questão do amor próprio e de se aceitar é uma constante nas letras dos grupos. Temas que dizem respeito ao período de descoberta inerente à adolescência, como ansiedade, solidão, depressão e até suicídio (uma das mazelas da sociedade sul-coreana), transformaram os cantores do BTS em embaixadores da Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), tornando-se o primeiro grupo de k-pop da história a discursar na Organização das Nações Unidas.
“São mensagens que me tocam porque falam sobre a gente se amar. Ao contrário da maioria das músicas americanas e brasileiras, que têm letras chulas, baixas e sexuais. Eles não vão por aí, fazem músicas sobre problemas que enfrentamos e dúvidas que temos”, aponta Maria Rita Pirani, 24, fã do BTS que já garantiu o ingresso para a apresentação em São Paulo, o segundo a que ela assiste. “A gente está acostumado a vê-los pela tela do celular ou no computador, e quando os vemos ali, na nossa frente, percebemos que são reais mesmo”, garante, sem esconder a euforia.
Criadora da web rádio K-Pop Brasil, ao lado das amigas Amanda Aparecida e Julia Guimarães, a mineira Stephany Toso, 25, conta que a iniciativa surgiu durante o trabalho de conclusão do curso de jornalismo. Com até 905 mil ouvintes por mês, a rádio estreou em 2016 tocando “We Are Bulletproof”, do BTS. “No mesmo dia, houve um evento na faculdade com a apresentação de um grupo cover. A escolha da música foi deles, mas nós mesmas já tínhamos decidido tocar BTS, porque eles eram os queridinhos do k-pop desde aquela época”, relembra Stephany.
Ouça a primeira música que tocou na web rádio K-Pop Brasil: