Em vez das montagens coletivas do Grupo Galpão, os atores Inês Peixoto e Eduardo Moreira, que integram o grupo mineiro, experimentam agora um formato mais enxuto no espetáculo “Folhas Mortas”. A micropeça, com dramaturgia assinada por Moreira, estreia nesta quarta-feira (26) e será apresentado até sábado (29) no La Movida Microteatro – Bar.
Esta temporada inclui também as apresentações de “MPB: Peça Manifesto em Três Estrofes e Um Refrão”, de Marina Viana, e “Othélio” com Maikon Sipriano da Minha Companhia de Teatro. Existente desde 2017, o La Movida é inspirado em experiência semelhante realizada na Espanha, e reúne trabalhos com duração de apenas 15 minutos para um público de até 15 pessoas, em espaço de cerca de 15 metros quadrados.
O que conduz os artistas a pensarem em montagens intimistas, nas quais o público praticamente faz parte da cena – algo considerado estimulante para Inês Peixoto.
“Nós ficamos muito a fim de participar desse projeto, que promove esse tipo de proximidade com o espectador. Eu e Eduardo somos do Galpão e estamos acostumados com montagens com estruturas bem grandes, com bastante público e uma dispersão de energia grande. O que vamos fazer agora é uma experimentação que surge também de uma vontade de fazer algo que não é completamente fechado. Nós vamos mostrar uma cena que tem sido muito prazerosa de trabalhar”, afirma Peixoto.
A encenação é calcada na obra do dramaturgo francês Joël Pommerat, a partir de tradução realizada por Moreira. Ele comenta que o texto de “Folhas Mortas” gravita em torno da questão da memória e se configura por meio de sobreposições.
“Pommerat é um dos autores de teatro mais instigantes atualmente. A cena que ele constrói é muito contemporânea e ao mesmo tempo intensa, porque ele dialoga com a tradição e concebe um teatro a partir de camadas, como ilustra a imagem do palimpsesto”, explica Moreira.
O ator acrescenta que, além da memória, o esquecimento é outro tema pertinentes em “Folhas Mortas”. “A noção de perda é extremamente relevante para esse trabalho, porque ele nos leva a refletir sobre aspectos mais amplos. A nossa civilização só sobrevive pela lembrança, pela continuidade e acho que essa cena fala de encontros e desencontros entre duas pessoas, tendo o esquecimento como ponto de conexão”, pontua.
Visibilidade
As peças de Pommerat vêm sendo montadas no Brasil, mas ainda são pouco conhecidas. Em razão disso, Peixoto ressalta o oportunidade de o público belo-horizontino tem maior familiaridade com as criações do francês, a partir de “Folhas Mortas”.
“O trabalho de Pommerat ainda não teve muita visibilidade. Eduardo já traduziu alguns textos dele e essa cena fazia parte deles. Quando eu a li, fiquei com ela na cabeça, gostei muito. Acho que ela condensa muitas ideias, por isso topamos trabalhar nesse projeto que começamos a desenvolver este ano”, conta Peixoto.
“Folhas Mortas”, detalha Moreira, é uma cena pinçada de “A Reunificação das Duas Coreias”, que teve direção de João Fonseca em 2013. Antes disso, em 2012, o diretor Marcio Abreu também havia levado aos palcos uma versão de “Esta Criança”, de Pommerat, com a atriz Renata Sorrah no elenco. Uma das características das obras do dramaturgo francês é a fragmentação, o que, dessa vez, casou com a proposta de Moreira e Peixoto.
“O texto de Pommerat traz várias cenas separadas entre si. Nós achamos uma específica, centrada na história de um casal e que achamos interessante de trabalhar, por conta da intensidade que ela carrega”, diz Moreira.
Assim como Peixoto, ele também vê como positiva a experiência de fazer “microteatro”. “Eu gosto muito do teatro coletivo, mas esses exercícios menores, mais concentrados, são importantes para o ator. Acho também que é muito bom dialogar com esses espaços e formatos alternativos”, opina Moreira.
Agenda
O quê
Inês Peixoto e Eduardo Moreira apresentam “Folhas Mortas”.
Quando
Desta quarta-feira a sábado (29), às 20h10, 20h40 e 21h10.
Onde
La Movida Microteatro Bar (Rua Marechal Deodoro, 308, Floresta).
Quanto
Ingressos a R$ 10.