Este talentoso amigo João Vargas Penna é mesmo um arremessador de rochas em aeronaves no céu. Não contente em ser cineasta neste Brasil, ainda pratica documentários! E comete documentários sobre um paisagista. Um não, “o” paisagista oficial do Brasil, Roberto Burle Marx, atualmente no cine Belas Artes. Brincadeiras à parte, a saga de Burle Marx merece até série na Netflix.
João, o Brasil caindo e você com cara de “paisagem”?
Um retrato, quando cai 90º para a direita, vira paisagem. Pena que essa porção de território que nosso olhar apreende está cada vez mais desmatada, caída. Precisamos defender as áreas livres nas cidades e as partes ainda intocadas da natureza, senão nos levam tudo! As secas e cheias enormes, cada vez mais frequentes, nos lembram que descuidamos dos lugares onde vivemos. A busca do lucro imediato de poucos sacrifica a água e o meio ambiente, que são, ou deveriam ser, de todos.
Mas essa “paisagem” é outra praia, a praia verde, verdade?
É nelas que a gente se recompõe, ao entrar em contato com a natureza e com outras pessoas. Saímos da pressa e das atribulações diárias para entrar em harmonia com os ciclos do Sol, da lua, das plantas e dos animais. E isso pode acontecer numa volta pela pracinha da vizinhança, se ela existir.
Por que Burle Marx?
Porque ele melhora a vida de milhões de pessoas que, mesmo sem saber, penetram, diariamente, sua obra, ao passar pela Pampulha, pelo Aterro do Flamengo e pela avenida Atlântica, no Rio, pelo Ibirapuera, em São Paulo, ou pelos vários parques e jardins que ele criou mundo afora.
Burle Marx é o Niemeyer do paisagismo?
Eles já tiveram belas obras em conjunto, o Ministério das Relações Exteriores, a Fazenda Tacaruna, a residência de Juscelino aqui em Belo Horizonte. Os jardins de Burle Marx fazem a mediação entre arquitetura e natureza, suas plantas amenizam os contornos da arquitetura moderna.
A obra dele está garantida ou vive em perigo como os museus brasileiros?
Ela pode ser vista e vivida fora dos museus, em nossas cidades. Como toda obra viva, ela depende de cuidados. “Viver é muito perigoso”.
No teu documentário, tem o maravilhoso pintor Burle Marx?
Sim! Na escala doméstica, ele trabalhava com tintas. Nas composições monumentais, ele trabalhava com plantas, água, pedras e esculturas.
E o chef cantor?
Ele fazia uma batida de pitanga com nome musical: Pitangolomangotango!
Com este sobrenome de “O Capital” ele tinha o humor dos Irmãos Marx?
Ele só fechava o tempo quando via seus jardins em mal cuidados. Fora isso, adorava uma piada e se definia como “Grouxo Marxista”.
E a foto do cartaz do filme?
Nos domingos, sua casa ficava cheia de amigos para o almoço. Depois de beber algumas, ele fazia uma volta pelo sítio para mostrar as maravilhas de sua coleção de plantas. Quando passava pelas alocácias, ele se escondia atrás das folhas enormes e dizia: “Vejam meu tapa-sexo!”.