Possivelmente a janela mais importante quando o assunto é preservação do audiovisual nacional, a Mostra de Cinema de Ouro Preto - CineOP se encerrou hoje com um dever de casa. Como avançar no tema em um momento com tantas conturbações políticas?
A inquietação foi oficializada na Carta de Ouro Preto, documento divulgado anualmente após o término da mostra e assinado também pela Associação Brasileira de Preservação Audiovisual - ABPA. O manifesto alerta para o que a categoria chama de ‘risco iminente de destruição do patrimônio audiovisual brasileiro’. Indefinições na Secretaria do Audiovisual, vinculada ao Ministério da Cidadania, e suspensão de edital para restauro e digitalização são pontos citados na carta que preocupam o setor.
Durante os cinco dias da mostra, mais de cem filmes foram exibidos. Debates e palestras trataram da questão da salvaguarda, e algumas ações pontuais foram citadas como exemplo, mas o cenário geral, segundo as discussões, é de cautela.
Mas porque é importante se pensar em preservação de filmes? “Sem memória não somos ninguém”, explica Raquel Hallak, organizadora da CineOP. A preocupação com esse arquivo é latente, pois várias imagens e documentos históricos se perderam no tempo devido ao acondicionamento em condições adversas.
“Temos que pensar sobre a memória das imagens que a gente produz, seja no celular, nos filmes, em registros de comemoração de família. Isso forma a identidade de um país. Se não tivermos interesse em cuidar e preservar filmes e documentos que são representativos, como um país pode ter sua identidade?”, questiona a organizadora. “É por meio desses arquivos que gerações atuais acessam a imagens do passado, e as novas gerações poderão conhecer o que foi produzido nos dias de hoje”, continua.
Minas Gerais deveria dar exemplo. O estado é o berço do cinema - Humberto Mauro, considerado o precursor brasileiro, é da cidade mineira de Volta Grande. Mas as ações de salvaguarda andam em passo de desacerto, segundo avalia Raquel. “Ainda estamos engatinhando muito sobre a preservação. Em Minas precisamos ampliar essas instituições de guarda”, sugere.
Durante o evento, algumas iniciativas exitosas foram apresentadas, como as realizadas em Campinas e Porto Alegre. O trabalho feito no Museu da Imagem e do Som (MIS Santa Tereza) da capital mineira também é considerado notável.
O corte de verbas do governo federal atingiu em cheio a CineOP. Pela primeira vez em sua história a mostra de cinema não contou com recursos da União. O impacto foi quase fatal, e o evento por pouco não aconteceu. Um aporte financeiro de última hora foi viabilizado por meio de patrocínio da Cemig e CSN, com recursos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. “Estamos presenciando um quadro triste que impacta na própria economia, pois economia criativa gera emprego e é a que mais cresce no mundo”, desabafa Raquel.
À frente da Universo Produção, Raquel Hallak informa que o próximo evento audiovisual da produtora é a Mostra CineBH, que tem sua 13ª edição prevista para acontecer na capital de 17 a 22 de setembro, com foco na indústria e mercado do cinema. A conferir.