Estreias

‘A Odisseia dos Tontos’: novo filme de Darín entra em circuito

Filme argentino diverte com trama política, roubo cinematográfico e ótimos personagens

Por Etienne Jacintho
Publicado em 31 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
 
normal

No filme argentino “A Odisseia dos Tontos”, que estreia hoje nos cinemas, o ator Ricardo Darín, na pele de Fermín Perlassi, explica que “tonto” é aquele que escolhe o caminho certo e, muitas vezes, se dá mal. Assim como o príncipe Michkín, personagem de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), em “O Idiota”, a ingenuidade faz de Fermín um bobo.

No longa de Sebastián Borensztein (“Um Conto Chinês”), Fermín é um ex-jogador de futebol, ídolo na cidadezinha em que mora – e insignificante para o resto do mundo, como ele próprio se define. Quando ele e sua mulher Lídia (Verónica Llinás) decidem montar uma cooperativa de grãos na antiga fábrica da cidade, a tal odisseia tem início. Apesar de a Argentina viver uma grave crise econômica – a trama é ambientada no início dos anos 2000 –, alguns moradores embarcam no sonho e investem todas suas economias na cooperativa.

Ao colocar os dólares arrecadados no banco, Fermín é vítima de um golpe, justamente quando o governo argentino congela as contas bancárias dos cidadãos e estipula cotas para saques. Assim como os brasileiros sofreram com o confisco da poupança durante o governo de Fernando Collor, em 1990, os argentinos também tiveram de arcar com as consequências dessa medida radical.

Sem dinheiro para iniciar a sonhada cooperativa, Fermín e seus sócios são obrigados a seguir a vida como podem. O problema é que, para o ex-jogador, a vida não está num caminho feliz. Tanto que seu filho Rodrigo (Chino Darín) volta da capital para cuidar do pai. Quando percebem uma chance de saírem do papel dos “tontos”, os amigos traçam um plano cinematográfico para resgatar a dignidade. Esta é a primeira vez que Ricardo e Chino trabalham juntos e interpretam pai e filho.

“A Odisseia dos Tontos” traz, além de Fermín, personagens caricatos – aqui, no bom sentido – e divertidos. Tem o peronista radical; os irmãos seduzidos pelas maravilhas do capitalismo e do consumismo; a empresária com tendências socialistas; o rapaz “espertinho”, em contraposição aos “tontos”; o niilista, entre outros.

O filme de Borensztein, apesar de seu incontestável argumento político, traz uma trama simples, inocente e tonta – no sentido que a palavra é empregada em seu título. Essa simplicidade, que o diretor também usa em “Um Conto Chinês” (2011), torna a experiência do espectador agradabilíssima, pois ele pode se sentar na poltrona e curtir a história. O diretor tem um tempo ótimo de piadas e o riso vem fácil, tranquilo, quando você menos espera, e sem forçar a barra.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!