É mais ou menos como ensaiar segurar um jorro de água com os dedos. O cantor e compositor Affonsinho até tenta dar um intervalo maior entre os CDs que lança, mas eis que sua veia criativa boicota o plano ao liberar feixes de canções que pedem para ecoar. Na verdade, do disco anterior, ele até conseguiu dar o hiato de dois anos. Mas quando as nove faixas de “Outros Outros” despontaram em uma semana, foi hora de capitular. O show da nova lavra será hoje, no Museu de Arte da Pampulha.
No palco, Affonsinho convida as cantoras que o acompanharam em estúdio: Mariana Nunes, Bárbara Barcellos e Lívia Itaborahy. “Digo que a voz delas me faz chorar – e acho que, se isso acontece, meu sentimento está no lugar certo, ou seja, o de se emocionar com o que é belo”. Em tempo: o show também conta com Lúcia Ferraz, do Amaranto, por obra de uma história curiosa. “Anos atrás, compus ‘Planetas e Panelas’, colocando a maior fé. Mas ninguém deu bola”, diz ele, rindo. “Um dia, a Lúcia veio e, espontaneamente, a elogiou. Não tinha como não convidá-la”.
O tema empatia permeia o novo disco. Um sentimento que, lembra Affonsinho, precisa ser mais cultivado. “No meio dessa confusão que o mundo vive, com tanta loucura, atrocidade, seria muito legal tentar exercitá-la mais; mas não é fácil. E a letra trata disso. Na teoria é simples, mas, na vida real, é um desafio. Somos mal educados”, desabafa.
Uma curiosidade é que Affonsinho se propôs a escrever letras que dessem seu recado em um minuto. “Um dia, estava conversando sobre a rapidez dos dias atuais. Ninguém fixa a atenção em algo por mais do que 60 segundos. E quis dar o recado nesse tempo”, finaliza.