"Sempre fui muito aberta quanto às minhas relações e nunca tratei como tabu falar de sexo. Não vai ser diferente agora". 

É assim, sem papas na língua, que a cantora e compositora Ana Cañas, 41, define sua estreia como apresentadora de TV à frente do "Sobrepostas", programa que vai discutir temas atuais como sexualidade, prazer e autoconhecimento sob a perspectiva feminina. A atração chega ao ar pela primeira vez nesta segunda-feira (25), a partir das 23h45, no Canal Brasil. 

Acostumada a versar abertamente em suas letras sobre a libido, a sensualidade e a paixão, a artista paulistana diz que aceita com naturalidade o desafio de levar estes assuntos para uma nova plataforma.

"Quando surgiu o convite eu fiquei surpresa pois nunca me vi no papel de apresentadora", conta Cañas. "Mas senti que era um grande desafio justamente por ser um programa sobre sexualidade, no qual eu converso com mulheres que, às vezes, vivem experiências iguais às minhas e, outras, situações totalmente diferentes. Sexo é um tema que abordo bastante na minha música e acho importantíssimo e fundamental falar disso na TV – especialmente da sexualidade feminina, que ainda é muito pouco discutida", analisa.

Com direção de Lívia Cheibub e Martina Sönksen, a primeira temporada será dividida em 13 episódios que se apoiam em relatos reais de 26 mulheres sobre suas experiências com o prazer, o afeto e a intimidade. 

Nesta edição, todos os episódios têm como mote central "a primeira vez" de cada participante, que vão falar de suas primeiras experiências com o universo do sexo. Mas a ideia é que a cada temporada o programa mude de casa, cidade e tema. 

Segundo a cantora, as discussões são feitas de uma maneira direta, sem a participação de especialistas, mas usando como base o ponto de vista das convidadas. "O formato que seguimos é o de uma conversa mais informal, sem a perspectiva de estudiosos. É olho no olho mesmo", diz a apresentadora. 

Retratadas de forma natural e acolhedora, as conversas têm o intuito de trazer leveza aos assuntos e também inspirar mulheres a resgatarem suas próprias memórias sobre momentos íntimos como o da iniciação sexual, a excitação, o desejo e as fantasias.

"As histórias do programa são divertidas, emocionantes e delicadas. É um papo reto que envolve histórias reais e corpos reais. A proposta é ser uma ode à liberdade", complementa Cañas.

Além dos bate-papos, cenas ficcionais de sexo explicíto vão ilustrar as experiências compartilhadas em cada capítulo.

"Essas cenas estão ali para que a gente consiga se ver nelas, ver nossas narrativas. A pornografia é um lugar de reflexão sobre a sociedade e, por isso, buscamos criar a nossa própria pornografia para quebrar estereótipos", conta a diretor Lívia Cheibub, que ilustra que o uso dessa ferramenta foi pensando com uma representação dos assuntos tratados, além de servir como uma ponte  para a identificação do telespectador com o tema.

"Queremos tratar o sexo e o desejo das mulheres não como tabu, mas com temáticas de educação e conhecimento", resumiu. 

No embalo de Belchior

Mesmo envolvida de corpo e alma no projeto "Sobrepostas", Ana Cañas não deixou de lado a música, sua maior vocação, e está de volta ao cenário fonográfico com um disco novo, "Ana Cañas Canta Belchior".

Lançado na última quarta-feira (20) e já em circulação nas plataformas de streaming, o trabalho mergulha fundo na obra do compositor cearense Antonio Carlos Belchior (1946-2017), e mostra pela primeira vez a faceta de Cañas como intérprete.

A cantora conta que o álbum nasceu de forma inusitada, no ano passado, ainda durante o período de isolamento da Covid-19.

"Eu decidi fazer uma live na quarentena em homenagem ao Belchior. Foi de forma muito inusitada, mas o público acabou gostando tanto que muita gente sugeriu que eu fizesse um trabalho dedicado às canções dele. Nunca imaginei que fosse se transformar em disco", relembra Cañas.

O repertório conta com 14 faixas de clássicos do cancioneiro "belchioriano", como "Coração Selvagem”, “Sujeito de Sorte”, "Fotografia 3x4", "A Palo Seco", “Medo de Avião”, “Alucinação”, "Apenas Um Rapaz Latino-Americano", “Paralelas”, "Divina Comédia Humana", “Velha Roupa Colorida”, "Comentário a Respeito de John", “Na Hora do Almoço”, “Galos, Noites e Quintais” e “Como Nossos Pais”.

Porém, segundo a cantora, não foi nada fácil escolher as músicas que ficaram no registro final. 

"Foi muito difícil escolher o setlist. Infelizmente, ficaram muitas canções de fora. Basicamente estão ali os grandes clássicos, o que já é um baita desafio para se regravar", admite ela, antes de lembrar de um momento especial acontecido durante as gravações.

"Nunca vou me esquecer do dia que registramos 'Como Nossos Pais'. Eu estava dentro da cabine tentando fazer uma versão completamente diferente da Elis Regina. Foi quando uma corrente elétrica percorreu meu corpo diversas vezes e eu tive vários arrepios dos pés à cabeça. Foi algo muito forte. Naquela hora, senti que estava mexendo com estruturas muito potentes da música brasileira”, recorda emocionada.

Embora sejam sobre temáticas completamente diferentes, Ana Cañas diz que vê os dois projetos – o programa de TV e o álbum – interligados de alguma forma.

“A real é que os dois têm tudo a ver um com o outro. O universo de Belchior é bastante sexual (‘Quero gozar no seu céu / Pode ser no seu inferno’). A sexualidade feminina ainda é um tabu em 2021 e ele já falava sobre isso em diversas músicas, há 40 anos", explica Ana Cañas. 

"Para mim, apresentar um programa sobre esse tema na televisão conversa diretamente com a obra do Belchior, sem dúvida. Me sinto muito honrada por isso”, encerra.

Ficha técnica

Título: Disco "Ana Cañas Canta Belchior"

Artista: Ana Cañas

Selo: Guela Records,

Disponível nas plataformas de streaming Spotify, Apple Music, Deezer, Tidal, Amazon Music e Youtube