Mesmo com a saúde abalada por complicações do diabetes, como pressão alta, aos 72 anos Moraes Moreira era puro entusiasmo. Segundo informações do jornal “O Globo”, ao qual havia concedido uma entrevista recentemente, o músico, que morreu na manhã desta segunda-feira (13), vítima de um infarto, tinha 20 músicas inéditas e pretendia montar um show, neste ano, só com as novas canções.
Ainda segundo a publicação, Moreira queria ainda reunir em disco as vozes das mulheres que gravaram suas músicas, como Maria Bethânia, Gal Costa, Margareth Menezes e Elba Ramalho.
Ele também estava reunindo textos para um livro de cordel e poesias. Irritado por causa do isolamento forçado pelo coronavírus e pela impossibilidade de não poder fazer shows, chegou a compor um cordel que batizou de “Quarentena”. Confira:
"Quarentena" (Moraes Moreira)
Eu temo o coronavírus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida
Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo
Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito
De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estupro
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo ‘não’ a todo dia
Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
Às vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido
Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta
Com tanta coisa inda cismo....
Estão na ordem do dia
Eu digo ‘não’ ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia
As coisas já forem postas
Mas prevalecem os relés
Queremos, sim, ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres
O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não tem tempo, nem idade”