De frente para o muro, a artista italiana Alice Pasquini procura detalhes que a ajudem a conceber sua obra. As ideias passam pela sua cabeça, ela busca inspiração nas cores, na cultura das pessoas que habitam o lugar ou que passam por ali. Essa cena, que já aconteceu em diversas cidades do mundo – Sidney, Londres, Berlim, Nova York, Buenos Aires, Barcelona e Marrakech, entre outras –, se repetirá em Belo Horizonte a partir de hoje.
Pela primeira vez no Brasil, Alice começa na capital mineira uma intervenção no bairro Lagoinha, mais precisamente na passarela que liga a praça Vaz de Melo aos acessos à rodoviária e à estação de metrô que atende a região. Essa é a terceira etapa de uma ação que o Movimento Gentileza promove no bairro e que se estende até a próxima sexta-feira. Antes, a artista passou por São Paulo.
“Às vezes, tenho uma ideia e tenho que ver se é boa para o lugar, mas tudo pode mudar. Para mim, é importante que as pessoas que vão ver a obra todos os dias gostem”, diz a italiana sobre seu processo de criação. Ela está na capital mineira a convite do Consulado da Itália na cidade.
Na adolescência no bairro de Flamínio, em Roma, ela descobriu a paixão pelo desenho, embora não soubesse ainda que o grafite seria sua maior liberdade. Anos depois, trabalhou como ilustradora, mas foi na rua que ela encontrou sua maior galeria. Em entrevista ao Magazine, ela conta que sua obra fala das pessoas, dos sentimentos reais e privados, “mas em um espaço público”.
Outro traço marcante nos murais de Alice é a representação do feminino, mas ela faz questão de fugir de estereótipos. “É uma ideia contra o cinismo, viver é política. Sigo a linha da mulher que não é apresentada pela publicidade, da mulher real. Eu trato de emoções, de sentimentos universais”, explica uma das mais consagradas artistas urbanas da cena internacional.
Ao saber que o bairro da Lagoinha foi um dos primeiros locais a receber imigrantes italianos – operários, em sua imensa maioria –, que chegaram no fim do século XIX para ajudar na construção da capital, Alice Pasquini se surpreende e gosta da novidade. “Seguramente vou fazer algo com isso, pois trabalho muito com a temática da imigração”, conta. Antes de chegar à capital mineira, ela pintou um mural chamado “Construção”, que trata da composição de uma sociedade, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. “Uma cultura se constrói com toda essa influência”, finaliza a grafiteira.
Movimento Gentileza colore BH
Para o projeto de revitalização cultural da Lagoinha, os artistas mineiros Clara Valente, Gabriel Dias e João Gabriel se juntam a Alice Pasquini na missão. A proposta é realizada pelo Movimento Gentileza, que completou, em março passado, um ano e meio de atividade e é idealizado e coordenado por Ana Laender, primeira-dama de Belo Horizonte.
Em março, cem artistas urbanos grafitaram os muros do Conjunto IAPI e pintaram também o Centro Cultural da Lagoinha. “Nossa proposta é transformar mais um percurso por onde um grande número de pessoas passa todos os dias em um ambiente mais bonito e agradável, valorizando a arte e a cultura da cidade”, afirma Ana Laender.