LUTO

Barítono Eladio Pérez-Gonzalez morre, aos 94, de Covid-19, no Rio de Janeiro

Artista nasceu no Paraguai e se mudou para o Brasil em 1947 onde se tornou um dos nomes mais importantes da formação de música erudita no país

Por DA REDAÇÃO
Publicado em 13 de agosto de 2020 | 19:14
 
 
 
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O professor e cantor Eladio Pérez González, 94, faleceu nessa quinta-feira (13), vítima de coronavírus. Ele estava internado no Rio de Janeiro, onde residia, e morreu por causa de complicações de saúde agravadas pela Covid-19.

Nascido no Paraguai, o barítono veio para o Brasil em 1947 para estudar em São Paulo. Sua formação musical, vocal e teatral foi desenvolvida também nos Estados Unidos, Alemanha e França. Apaixonado pela música brasileira, o professor contribiu para a formação de grandes vozes. Nara Leão, Elizeth Cardoso e Dulce Quental foram suas alunas.

 O músico teve os primeiros contatos com Minas Gerais no início dos anos 1970, quando ministrou um curso no 4° Festival de Inverno de Ouro Preto, a convite da Fundação de Educação Artística (FEA). À época, já conhecido por sua atuação no exterior, passou a vir com frequência ao Estado. Nesse período também, formou um duo com uma das fundadoras e professoras da Fundação, a pianista Berenice Menegale.

A Fundação de Educação Artística (FEA) divulgou nota lamentando a morte de Eladio.

"Caros amigos,
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a Fundação de Educação Artística perdeu hoje o Professor Eladio Pérez-González grande amigo e excelente Professor. Trabalhador incansável a quem a Arte muito deve, esteve aqui conosco por quase meio século, até o início desta pandemia que, por fim, o acometeu e o levou.
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Com grande tristeza, ao mesmo tempo reconhecidos e agradecidos ao Eládio, esperamos continuar a tê-lo em nossos corações e mentes, agora na distância, feito imagina o Poeta:
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"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."
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Carlos Drumond de Andrade

Faleceu hoje pela manhã o professor e cantor Eladio Pérez González (Assunção do Paraguai, 1926 - Rio de Janeiro, 2020). Há alguns dias Eladio estava internado por complicações de saúde agravadas pelo novo coronavírus. Meus sentimentos à família e aos amigos.

Para quem não o conheceu, segue aqui um pequeno resumo de sua biografia: Eladio Pérez-González nasceu em 1926, em Assunção, Paraguai. Movido por sua paixão pela música, aos quinze anos começou a cantar no coro do Ateneo Paraguaio. Em 1947 mudou-se para São Paulo, onde desenvolveu seus estudos musicais, constituiu família e iniciou as atividades profissionais de cantor. Aperfeiçoou-se nos Estados Unidos, na Alemanha e na França, países nos quais também adquiriu sólida formação teatral. Como intérprete reconhecido, atuou muito nesses países e também na Espanha e no Reino Unido, em recitais e oratórios. Interessado pela música contemporânea, frequentou os festivais europeus de Donaueschingen e Darmstadt. 

Voltando a São Paulo, Eladio entregou-se ao ensino e à difusão da música brasileira, participando ativamente dos movimentos de renovação que surgiam no Brasil, ligados em especial ao compositor Gilberto Mendes e aos Festivais de Música Nova. Em 1970, convidado para o 4º Festival de Inverno, em Ouro Preto, tornou-se seu mais entusiasta colaborador. Suscitou a priorização da música contemporânea por meio da participação de compositores de diferentes tendências; promoveu também as encomendas de obras para execução nos Festivais, além de muitas outras ações. A Fundação de Educação Artística passou a ser outro lugar do trabalho pedagógico e artístico de Eladio, conquistando para Belo Horizonte sua permanente contribuição cultural. A realização dos Encontros de Compositores e Intérpretes Latino-americanos, proposta por ele, resultou em uma aproximação do meio musical mineiro com centenas de autores brasileiros e de outros países.

Residindo no Rio de Janeiro, Eladio contou com o reconhecimento como notável, generoso e multifacetado artista, militante da causa da música brasileira e latino-americana, fruto de uma longa história de atuações em duo com Berenice Menegale, com orquestras e grupos de câmara, bem como por suas memoráveis performances em óperas e outras obras cênicas brasileiras.

Nas redes sociais, artistas, amigos e personalidades da cultura lamentaram a sua morte. "Que tristeza. Eládio foi o cara que me fez entender o que significa o cantar", postou o músico Aggeo Simões.

 

 

"Soube agora há pouco da passagem do querido Eladio Pérez González, uma figura extraordinária, parceiro musical de vida inteira de Berenice Menegale e da Fundação de Educação Artística (em BH).  Que descanse em paz e com o reconhecimento por sua integridade, dedicação, ousadia e inquietude!", comentou Eleonora Santa Rosa (ex-secretária Estadual de Cultura).

 

 

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