O ator carioca Babu Santana, 40, entrou para a casa do “Big Brother Brasil” fazendo parte do grupo chamado “camarote”. Diferentemente do “pipoca”, o primeiro reunia uma parcela heterogênea de famosos, mesclando artistas - como ele e as cantoras Manu Gavassi e Gabi Martins -, youtubers, a exemplo do hipnólogo Pyong Lee, e as influenciadoras Bianca Andrade e Rafaela Kalimann, dentre outros. Mas tão logo o jogo começou, Babu, com cerca de 20 anos de carreira, com trabalhos no cinema, no teatro e na TV, quase não era recordado pelos telespectadores do programa.
Música nova. Para muitos, parecia que a história do artista que atuou nos filmes "Cidade de Deus" (2002), "Quase Dois Irmãos" (2004), "Meu Nome Não é Johnny (2008)" e Tim Maia (2014), entre outros, começava ali no “BBB”. Mas essa visão vem sendo “passada a limpo”, principalmente do lado de fora da casa. Nesta sexta-feira (20), por exemplo, foi lançada, nas plataformas digitais, a canção “Sou Babu”, gravada previamente pelo artista, o que demonstra, então, a possibilidade de ele pleitear, de agora em diante, também um lugar na música. “Eu vou peitar geral de jeito, tamos chegando pra te emocionar”, diz Babu na letra que reforça sua origem vinculada ao Morro do Vidigal, no Rio, e o celebra como um “orgulho nacional”. O ritmo da faixa lembra as composições de Tim Maia (1942-1988), o qual foi interpretado por Babu na cinebiografia de mesmo nome e que lhe rendeu o prêmio de melhor ator, conferido pela Academia Brasileira de Cinema, em 2015.
O “BBB 20" tem rendido muita discussão, dentro e fora do programa, e Babu certamente não está ausente de nenhuma delas. A princípio, com a pauta dominante do machismo associado às atitudes dos participantes homens, ele foi elogiado por ser um mediador da discussão ao alertar os colegas que foram alvo de críticas. Em seguida, contudo, ele se aproximou dos mesmos cuja conduta foi avaliada como machista pelas mulheres no programa. Aquela aliança desapontou muita gente que acompanha o “BBB”, mas também trouxe à tona a pauta do racismo, pois Babu declarou estar sofrendo com o isolamento imposto a ele pelo grupo hegemônico e autointitulado “comunidade hippie”.
Só isso demonstra quão complexa se tornou a situação de Babu ali, o que tem gerado diversas reviravoltas na opinião do público. Isso pode ser percebido nos comentários lançados sobre ele nas redes sociais, os quais oscilam entre manifestações de apoio e de “cancelamento”. Fato é que o “brother” já venceu quatro paredões e luta pela permanência na disputa, contando com o apoio de outros famosos como Anitta, Preta Gil, Bruno Gagliasso, Tatá Werneck e até o jogador do Flamengo Gabigol. Todos eles já declararam que são #team Babu. Além desses artistas, o youtuber Felipe Neto já pediu a seus seguidores que o protegessem, e, por meio do Twitter, ofereceu trabalho para o ator que revelou estar desempregado e com dívidas.
“Se a Globo não contratá-lo (espero e imagino que vão), eu vou”, publicou Neto, no dia 7 de fevereiro. “Se não tiver função, eu boto ele para apresentar o meu canal no meu lugar”, frisou, em seguida, o influenciador. Quase um mês depois dessa oferta de emprego, na última segunda-feira (16), Daniel Ortiz, autor da novela “Salve-se Quem Puder”, da emissora Globo, comentou no perfil de Babu, no Instagram, que também tem interesse em contratar o ator: “Babu! Quero você na minha novela! Mas aguenta firme aí pelo prêmio”, declarou o novelista.
Por enquanto, as gravações do folhetim estão temporariamente suspensas por conta da pandemia de coronavírus, mas, passada essa fase, Ortiz poderá colher os frutos de sua declaração. O que pode reforçar essa premissa é a própria experiência do cineasta Helvécio Ratton. O mineiro dirigiu Babu no longa-metragem “Uma Onda no Ar” (2002), que marcou a estreia do ator nas telonas e narra a história da Rádio Favela – uma iniciativa comunitária iniciada há cerca de quatro décadas no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte.
Ratton lembra que, durante o casting do elenco, quem veio fazer os testes foram os atores Lázaro Ramos, Alexandre Moreno e Babu. O último, recorda ele, talvez fosse quem mais precisava ter o trabalho ainda lapidado, mas o diretor diz não ter levado em conta apenas o lado “bruto” do ator. “Eu percebi já no primeiro teste que por trás daquela aparência dura, daquele maxilar muito forte, aquele rosto muito marcante, havia uma grande doçura. Babu se revelou também um cara muito inteligente, e essas eram qualidades muito boas para o personagem, tudo encaixou como uma luva”, relata Ratton.
Ele acrescenta que Babu ficou muito feliz com o convite e se apaixonou pela capital mineira. “Ele não queria ir embora mais. Nos pediu pra continuar em BH e nós concordamos que ele poderia ficar mais alguns dias aqui com a gente. Foi uma descoberta muito bonita, muito bacana ter conhecido o Babu. Eu tenho enorme carinho e admiração pela trajetória dele. O cara veio do Vidigal, correu atrás das coisas, é um belo ator”, exalta o cineasta.
Embora afirme que não assiste ao “BBB”, ele ressalta que torce pelo ator, e, inclusive, conta que vai, em breve, tornar disponível um link para o público ver o filme “Uma Onda no Ar” pela internet. “Nós queremos fazer com que as pessoas possam conhecer melhor o trabalho dele e essa é uma forma também de darmos uma força pra o Babu. Nós ainda não definimos o dia, mas devemos colocar o filme no ar nos próximos dias, e talvez no site da Quimera Filmes (produtora de Ratton)”, garante.
Torcida. Quem também está na torcida por Babu é Misael Avelino dos Santos, fundador da Rádio Favela. “Eu só assisto ao programa quando ele aparece. Eu estou vendo por causa dele”, diz Misael. Ele recorda que conviveu com o ator durante dois dias e, apesar desse curto período, ficou impressionado com o profissionalismo de Babu. “A conversa entre nós foi muito boa. Eu fui falando para ele como funcionava tudo e ele pegou a história bem rapidinho. Memorizou tudo!”, conta Santos.
Misael já o conhecia pelo papel do ator no filme “Tim Maia” (2014), e diz seguir apoiando Babu porque ele é uma “voz do morro”. “Ele representa a favela, o lugar de onde saiu. E vejo que ele não procura negar isso de jeito nenhum”, sublinha.
Uma situação curiosa relatada pelo radialista é que diariamente várias pessoas têm ligado para ele para conversar sobre o Babu. “Eu já recebi ligação até da Itália! Por incrível que pareça, o pessoal liga direto e está torcendo muito por ele; isso ninguém pode negar”, completa Misael.
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