‘Big dos Bigs’ pegou fogo!

BBB 21 colocou temas importantes em debate e bateu recorde de audiência

Temporada mais longa do reality da Globo chega ao fim na noite desta terça-feira (4)

Por Renato Lombardi
Publicado em 04 de maio de 2021 | 06:00
 
 
 
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Juliette, Fiuk ou Camilla de Lucas: qual dos três finalistas vai ganhar o prêmio de R$ 1,5 milhão do “Big Brother Brasil 21”, da Globo? O resultado será revelado hoje à noite, ao vivo, no último episódio desta temporada, que deu o que falar. E, para além de saber qual participante ficará no primeiro, no segundo e no terceiro lugar, uma coisa é certa: o “BBB 21”, que bateu recorde de audiência, foi a edição da diversidade e que colocou no pódio temas sensíveis que repercutiram dentro da casa e, principalmente, do lado de fora.  

A temporada começou no dia 25 de janeiro e foi a mais longa da história – ao todo, foram cem dias de confinamento. Desde o início, surpreendeu o público ao trazer para o debate assuntos que já repercutem na sociedade, como cancelamento, masculinidade tóxica, machismo, homofobia e racismo. Porém, por causa do “BBB 21”, essas questões foram potencializadas fora do reality, com opiniões balizando todos os lados e provocando, inclusive, sentimentos negativos e repulsa. 

“Esses sentimentos negativos são muitas vezes gerados porque estávamos em um recorte muito específico de se afetar pelos discursos que aconteceram no programa. A gente se viu muitas vezes no lugar, por exemplo, da Juliette e do Lucas Penteado, e isso interfere muito na gente. Foram nomes muito agregadores no sentido de identificação. Acho que por isso pesou tanto essa edição”, explicou o psicólogo Matheus Alves. “Se você reparar, apesar de ter sido uma edição mais longa, as pautas rodaram muito mais rápidas, e os lugares de vilão foram se alternando numa frequência muito maior”, observou ele. 

Mesmo assim, o programa bateu recorde de audiência: em 95 dias de exibição, o “BBB 21” teve alcance médio diário de 39,8 milhões de pessoas, superando a edição completa do “BBB 20” em mais de 2,9 milhões de pessoas, considerando-se o mesmo período, e a do “BBB 19” em 7,9 milhões de pessoas. 

Professora da escola de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernanda Carrera pontua que o “BBB” sempre trouxe debates em suas edições, mas que, desde a 20ª edição, que coroou Thelma Assis como campeã, os temas discutidos no programa ganharam mais destaque. “A pandemia impactou muito esse processo. Tem uma audiência maior mesmo, pois as pessoas estão mais envolvidas naquele produto ali. Então, é meio inevitável que as pessoas falem sobre ele e o que acontece nele. Vimos também esse debate mais ampliado por causa das redes sociais, o que possibilita que a gente fique o tempo inteiro discutindo sobre os conteúdos. Por isso que aqui fora fica mais evidente que esses assuntos são importantes”, falou a professora.  

As redes sociais, inclusive, foram usadas para cobrar posicionamento da Globo diante dos fatos que aconteciam na atração, como a questão do abuso psicológico envolvendo Lucas Penteado e o racismo sofrido por João Luiz. “As pessoas estavam, na verdade, cobrando uma responsabilização da emissora. Porque a gente sabe que, pela regra, não pode ter agressão física, mas e a agressão psicológica? Foi uma preocupação nesse sentido. No ‘BBB 21’, a gente viu demonstrações de racismo e machismo, por exemplo, em um nível muito violento, e é difícil para quem vive esse tipo de situação no dia a dia assistir e dizer que está se entretendo”, afirmou Fernanda.  

Rafa Kalimann, que ficou em segundo lugar no “BBB 20”, ressalta a importância das redes sociais para o reality da Globo como uma maneira de repercutir o que acontece na casa. “Coisas que não passam na TV são destrinchadas na internet”, disse a influenciadora digital, que recentemente estreou o programa “Casa Kalimann” no Globoplay. “Eu vejo um lado bom, que é o da torcida, que repercute e faz o jogo movimentar aqui fora. Por outro, existe uma rivalidade muito grande, às vezes distorcida, para enaltecer o participante que se gosta. É preciso ter equilíbrio, não precisa tentar ameaçar ou diminuir o outro para enaltecer a pessoa para quem você torce”, comentou Rafa. 

Reflexo 
Para o psicólogo Matheus Alves, os temas debatidos no “BBB” são “um reflexo do que está sendo discutido do lado de fora” do programa. “Um famoso, quando entra na casa, por exemplo, ele entra estudado, como é o caso do Fiuk; ele estudou um pouco as pautas presentes na sociedade por medo do fantasma do cancelamento. Essas pautas contemporâneas giram em torno do cancelamento, que é algo que está sendo discutido na sociedade desde o ‘BBB 20’, só que no ‘BBB 21’ veio mais forte”, comentou. 

A professora Fernanda Carrera também concorda que o “BBB” se pauta de acordo com o que acontece na sociedade e também busca inspirações nas edições anteriores do programa. “A edição do ano passado começou com um debate sobre a questão de gênero e machismo, e teve a questão da raça envolvendo Babu e Thelma, que se juntaram numa perspectiva de resistência naquele lugar que era muito branco. Acredito que a Globo entendeu que algumas pautas seriam interessantes de serem colocadas neste ano no reality justamente por estarem mobilizando a audiência. Por isso, a gente viu um grande aumento no número de participante negros no ‘BBB 21’, foram nove no total”, disse Fernanda, destacando que esse é um número inédito no programa. “É uma estratégia interessante da Globo pautar a questão da diversidade para se colocar como um espaço para que esse tipo de debate aconteça”, acrescentou.  

“O programa sempre consegue dar para nós um recorte, e a seleção dos participantes às vezes prioriza e privilegia mais falas, que vêm recortadas de uma maneira que dão para a sociedade a oportunidade de interpretar o fenômeno por várias óticas”, afirmou Alves. “Quando consumimos esse material, precisamos entender que, por mais que acompanhemos a representação daquela pessoa 24 horas por dia, aquilo ainda não é a pessoa na sua integralidade. Porque ali ela está privada de várias situações: ela está privada de um feedback, ela está privada de uma resposta do outro. E a gente tem que entender nossa capacidade de causar mudanças nas pessoas”, disse o psicólogo, referindo-se ao comportamento dos participantes na casa. 

“A própria Karol Conká, se ela tivesse acesso a um feedback, não continuaria na pauta que adotou no programa. Mas isso não significa que ela seria uma pessoa melhor ou pior, isso quer dizer que ela seja uma pessoa sensível ou não ao feedback que outras pessoas dão”, pontuou ele. “A mudança de comportamento só é possível a partir de um feedback. A eliminação com 99,17% da Karol já é um feedback. E a gente, quando assiste ao programa, tem que saber separar quem é a pessoa no jogo e quem é a pessoa como ser humano do lado de fora da casa”, completou ele, referindo-se à cultura do cancelamento.

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