Clássico

Bloody mary: está na hora de quebrar o seu preconceito

Drink criado para disfarçar a base alcoólica com suco de tomate temperado ganha versões diferentes e conquista paladares mais receosos

Por Lorena K. Martins
Publicado em 12 de julho de 2021 | 03:00
 
 
 
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Apesar de ser um clássico absoluto, criado há quase cem anos, durante a Lei Seca dos anos 1920 nos Estados Unidos, tem muita gente que ainda torce o nariz para o bloody mary. O motivo, acredite se quiser, é o tomate, ingrediente essencial dessa bebida. Uma bobagem. Apesar de figurar como legume, ele é uma fruta e, por isso, vai muito bem com destilados alcoólicos. Claro que os outros complementos do bloody mary, como o aipo e o molho inglês, podem dar um jeitão de salada – ou macarronada – em um copo, mas acredite: é um drink que vale a pena ser apreciado, com todas as suas nuances. Há quem prefira uma receita mais encorpada; outros, mais suaves.

Felizmente, em Belo Horizonte, diversos bares têm investindo em opções que vão do tradicional ao diferentão. Sinal de que o coquetel tem se tornado cada vez mais atraente, até para os paladares mais receosos, por causa da sua versatilidade. Para quem prepara, há processos curiosos. Vale infusionar a vodca – destilado que vai na receita original – com pimenta, usar outros temperos e até especiarias para torná-lo mais atraente. 

Foi assim que Cibele Guimarães, da Drinks por Jezebel, foi adaptando a receita original feita com suco de limão, pimenta e molho inglês até criar o seu próprio suco de tomate para a base do coquetel preparado por ela. Enquanto muitas pessoas rotulam o bloody mary feito por ela como “o melhor de BH”, há ainda os paladares mais resistentes que não conseguem se convencer a gostar de um drink completamente salgado. “Uma amiga o chama de ‘pizza liquida’”, brinca Cibele que, atualmente, é a bartender que mais vende bloody mary na cidade. 

Ela ainda explica que o erro comum é a falta de equilíbrio na hora de criar a receita. “É o drink que mais experimento durante o preparo. As proporções têm que ser muito ajustadas para o resultado final ser espetacular. Sal a menos ou molho inglês a mais podem estragar a receita toda”, salienta. 
Mas, para esse peculiar drink ser ainda mais cativo e presente nas cartas de coquetéis espalhadas pela cidade, tudo é uma questão de tempo. “O paladar geralmente amadurece mesmo com o tempo. Eu não gostava dos drinks amargos e hoje sou fã de aperitivos”, conta ela. 

Complexo

O mixologista Tiago Santos concorda que não é um coquetel fácil de se tomar. “Ele é disparado a receita mais complexa dentro da coquetelaria. Ele é salgado e tem que saber temperar. Se errar a mão uma vez, o cliente que já toma esse drink nunca mais vai ao seu bar”, enfatiza. Ele mesmo relembra que o bloody mary foi o primeiro drink que ele tomou na vida. “E achei muito ruim”, reconhece. Depois, ao desenvolver uma carta alcoólica para o Restaurante do Ano, foi tomando diariamente shots de suco de tomate temperados por ele. “No início, eu fazia cara feia, depois fui me acostumando e abrindo a minha cabeça em relação a novas experiências. Bloody mary me tirou do meu porto seguro”, diz.

O mixologista também foi responsável por repaginar alguns coquetéis clássicos para o The Urbn, em Nova Lima, e criou uma versão equilibrada com suco de tomate temperado, molho inglês, tomate-cereja maçaricado e aipo. Na borda, o agave gruda o tajin (tempero mexicano cítrico e levemente apimentado). Tudo feito de caso pensado para seguir um ritual ao tomar. “Você primeiro toma o coquetel para entender a sua intenção. Se você quiser uma nota herbal e frescor, você morde o aipo. Se quiser uma nota mais defumada, você morde o tomate maçaricado”, ensina o mixologista.

Trocas

Originalmente à base de vodca, o bloody mary ganha receitas com gim, rum e até tequila – mas o suco de tomate bem condimentado é preciso estar sempre presente ao paladar. A versão do coquetel, batizada de “Sangue de Jéssica”, que está no menu do restaurante Bifão da Villa, na Savassi, é feita com gim e leva molho de tomate e manjericão feito diariamente na casa e que incrementa a receita do bife à parmegiana servido durante o período do almoço. “A gente escolheu dessa forma para que pudéssemos colocar o nosso conceito nele: qualidade e um tempero bem caseiro. Nada de conservantes”, explica Larissa Dantas, uma das proprietárias do lugar.

Conrado Salazar, do Piratas BBQ, criou uma versão chamada de La Cubanita, feita com suco de tomate temperado e picante com rum. Apesar da troca do destilado, o critério do preparo de sucesso permanece onipresente: suco de tomate de qualidade. O resto é tudo equilíbrio e “que a pessoa consiga tomar mais do que um”. “É tão difícil encontrar esse drink bem feito que, quando a pessoa gosta, ela volta para beber; é um cliente fiel”, acredita.

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