Literatura

Branca Maria de Paula lança versão física de 'A Luz Paralela'

A tradicional sessão de autógrafos aconteceria em março, mas, diante da pandemia, teve que ser adiada

Por Patrícia Cassese
Publicado em 28 de novembro de 2020 | 08:16
 
 
 
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A escritora Branca Maria de Paula começou a rascunhar “A Luz Paralela” no final da década de 1990, quando costumava caminhar pela Serra do Cipó com um grupo de amigos fotógrafos. "Foi uma construção demorada, que demandou pesquisa em várias áreas e leituras direcionadas principalmente para o campo da ufologia: a primeira versão no meu computador aparece num documento de 2002", repassa ela. Desde então, foram várias versões, até que, em 2017, a autora publicou o título na versão e-book, no Kindle/Amazon. 

A narrativa acompanha as aventuras e descobertas da fotógrafa Clarice, protagonista da trama, que, por sua vez, têm como principal cenário a citada região, que é povoada de histórias sobre OVNIs e seus tripulantes. A personagem entra em contato com outras dimensões que transformam sua vida amorosa e profissional para sempre.

No ano passado, porém, a edição física começou a ser delineada, graças ao interesse suscitado em Leonardo Costa Neto, editor da Caravana Grupo Editorial. "A partir daí começamos a costurar o produto final, que teve apresentação do escritor João Batista Melo, a orelha assinada pela também escritora Cristina Agostinho e capa do artista plástico Fernando Pacheco. Ou seja, foi uma ação entre amigos", conta Branca, sobre o recém-lançado livro em sua versão física.

Mas, bem, eis que no meio do caminho, havia uma pandemia. "O lançamento estava marcado para o dia 18 de março, mas acabou tendo que ser cancelado na véspera, pois a Biblioteca Pública Estadual, onde o evento seria realizado, foi fechada exatamente naquele dia. Foi uma frustração, mas, ao mesmo tempo, um alívio, porque muita gente já havia me avisado que não iria, por medo. O estrago (provocado pelo novo coronavírus), por aquela época, já era considerável", relembra a autora. 

E veio a quarentena, com a imposição do distanciamento social necessário. "Restou-me o benefício da rotina de escritora, que não se alterou tanto assim. Escrevi pouca coisa nova, mas revisei dois roteiros longa-metragem de ficção, remontei alguns originais, participei de concursos etc. Fiz ainda alguns contos curtos para uma antologia de micros e tentei exercitar a paciência. Trabalho não faltou, mas a convivência diária e exclusiva com um único e intransferível parceiro, o próprio eu, não é nada fácil", reconhece a escritora.

No que tange às outras rotinas, de início, Branca adiou tudo - "até exames médicos". "Esta sombra que nos espreita é perigosa e justa: nos impôs limites a que não estávamos acostumados e nos levou a refletir sobre escolhas e afetos. Tudo precisou ser repensado e redimensionado. Às vezes é mais importante ir para a cozinha e fazer um bolo do que escrever um novo texto, por exemplo. A finitude está posta e escancarada. Quem disse que temos estrela na testa?", argumenta.

E no curso dessa inesperada (para toda humanidade) situação, quando o escritor (e amigo querido da autora) Sérgio Sant’Anna morreu (em maio, aos 78 anos, em consequência da Covid-19),  angustiada, Branca acabou escrevendo um conto dedicado a ele: "A Sobrevivente". "Também registrei algumas cenas que me surgiram em função do confinamento. Pena que não tenho lido o tanto que gostaria"., admite. Hoje, segue em ritmo lento. "Quando a gente fica trancafiada em casa, só cumprindo os rituais de higienização e encomendas por telefone, o tempo se vinga, o dia termina e você pouco fez. Apenas cumpriu o necessário, que na verdade não entrava antes em nossa contabilidade. Priorizar as tarefas cotidianas e os pequenos atos do dia a dia revelam-se agora fundamentais para a nossa sobrevivência".

Numa análise mais profunda, a autora entende que a Covid-19 precipitou o encerramento de uma era e de um modo de vida, que, reflete estavam fadados a desaparecer. "E que por certo não voltarão. Caímos para valer no mundo virtual, que nos traz muitos desafios, mas também benefícios e encontros inimagináveis em termos presenciais: modos de trabalhar agora se estabelecem como estilo de vida. Somos coagidos a evoluir, queiramos ou não. Nada fácil manter o estado de alerta e a vigilância permanente àquilo que fazemos. Em suma, temos que viver exclusivamente no presente".

"A propósito, é o momento certo para lembrarmos Gal Costa interpretando 'Divino Maravilhoso', de Caetano Veloso eGilberto Gil: 'É preciso estar atento e forte/Não temos tempo de temer a morte'", despede-se ela.

Sinopse da obra (pela editora)
"A Luz Paralela" narra as aventuras e descobertas da fotógrafa Clarice em suas férias na Serra do Cipó, região de natureza luxuriante, onde proliferam lendas e crenças em seres extraterrestres e abduções. Após presenciar uma cena insólita no meio da noite, a percepção de mundo da personagem começa a se transformar e a ganhar novas conotações. Tudo parece estranho aos olhos de Clarice: por mais que racionalize, nada é como deveria ser.

Ela passa a visitar mundos paralelos em seus sonhos. Em suas viagens oníricas, é lançada em outras coordenadas do tempo/espaço, onde passado, presente e futuro se alternam com a mesma força de persuasão. As cenas resultantes desse universo distópico ficam, misteriosamente, registradas em seus filmes.

As angústias e idiossincrasias sofridas por Clarice repercutem de forma negativa em sua relação amorosa com Matheus, que se mostra incapaz de compreendê-la ou oferecer-lhe o apoio necessário. A sintonia do casal, até então baseada no companheirismo e na confiança mútua, é quebrada e os conflitos entre eles se aguçam.

Clarice procura novos referenciais e busca respostas para as inúmeras questões das quais não pode fugir, distanciando-se de Matheus apesar de amá-lo. Presa na trama, ela teme ser protagonista de enigmas cada vez mais inusitados e surpreendentes. Sentimentos como medo, desamparo e solidão se instalam em seu dia a dia. Neste estado de espírito, sua trajetória cruza o caminho de Thiago.

Onde termina a realidade e onde começa a fantasia? No mundo de hoje, onde se situam esses limites?"

 

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