O Cabaré das Divinas Tetas – plataforma de criação fundada por palhaças e drags de diversos coletivos de Belo Horizonte, que tem em comum a pesquisa das comicidades femininas – realiza temporada de apresentações na Funarte MG. Ao longo de três noites, os espectadores assistem a um show de variedades, com teatro, circo e dança e diversos grupos convidados. Na sexta (19), às 19h30, a abertura conta com a participação do Coletivo Calcinha de Palhaça. A sessão possui interpretação em Libras e classificação indicativa de 16 anos.
No sábado (20), a partir das 19h, o Cabaré divide palco com a Academia Transliterária e, em seguida, tem bate-papo sobre o processo de criação. E no domingo (21), a noite começa às 18h com intervenção poética da Coletiva Manas (classificação: livre) e termina com participação das Bacurinhas (classificação: 18 anos). “Voltar aos palcos depois de tanto tempo preso nas telas é a possibilidade de reafirmar a importância que a arte teve e tem na vida das pessoas. E isso gera um impulso de vida muito forte. De vida coletiva!”, diz Rafael Bacelar que assina a direção artística do cabaré, e comanda a cena como a mestre de cerimônias Sarabicha.
O artista adianta que o público pode esperar de tudo: “grotesco, sublime, política, asco, escárnio, desbunde. Nosso cabaré vai ao encontro do circo-teatro-dança transfeminista, político, animado, ‘carnavandalizado’. Uma festa que exalta a vida e os corpos dissidentes”, que, segundo Rafael, é um dos diferenciais do evento.
Criado em 2017, o Cabaré das Divinas Tetas surge com a proposta inicial de pesquisar as múltiplas comicidades femininas na cena do circo-cabaré contemporâneo, levantando temáticas como feminismos, sexualidades, maternidades, machismos. Dagmar Bedê, uma das fundadoras, explica que a mulher palhaça como protagonista do picadeiro ganha força com o surgimento das escolas de circo, nos anos 80. “Mas o caminho ainda é longo e tortuoso, trilhado exclusivamente por homens, há centenas de anos, em uma sociedade machista e patriarcal. As mulheres, aos poucos, vão se apropriando de seu discurso e começam a surgir não só palhaças, mas grupos delas, festivais, encontros e, por que não: cabarés? ”.
Com os anos, o Cabaré passa a acompanhar a necessidade dos tempos: “começamos a expandir o pensamento sobre o que estamos chamando de feminino [?] e quais corpos são ocupados ou ocupam feminilidades?”, questiona Rafael Bacelar.
Em cada noite do Cabaré, o público assiste a shows com uma ampla diversidade de representações do feminino e suas multiplicidades. De acordo com o artista, “temos em cena corpos racializados, femininos, não-binários, dissidências ocupando um espaço artístico historicamente negado. O modo de produzir arte está passando por um confronto com a norma [homem, hétero, branco, patriarcal, hegemônica, europeia…] e registrando na história essas mudanças”, contextualiza.
“Calcinha de Palhaça”, coletivo convidado da noite de abertura (19.11), é um dos precursores do Cabaré das Divinas Tetas. “Criamos o Coletivo numa busca por um lugar seguro para conversas, experimentações e visibilidade da mulher palhaça”, conta Dagmar Bedê. Já no dia (20.11), é a vez do Cabaré convidar a Academia Transliterária – coletivo formado por travestis, transexuais e transgêneres que investigam estratégias, estéticas, linguagens artísticas, protagonismo e difusão da cultura T. “Entendemos a urgência de se dar luz a esta luta tão importante, além de admirar a trajetória artística do movimento”, afirma. E para encerrar, dia 21, agregam o show a Coletiva Manas (2016) – artistas, produtoras, estudantes, trabalhadoras que desenvolvem pesquisas e atividades artísticas relacionadas com poesia, teatro, dança, música, artes visuais, audiovisual, etc. – e coletivo Bacurinhas (2015) - grupo de mulheres que lança seus corpos em cena e debate o enfrentamento do machismo, do patriarcado e das diversas opressões de gênero por meio do teatro. “O encontro com as Bacurinhas promete ferver o caldeirão”, garante Bedê.
Para Adriana Morales - palhaça do Grupo Trampulim e também fundadora do cabaré – esse encontro entre os coletivos é um exercício de escuta e respeito pela diversidade humana: “é sobre agregar, conversar, trocar, dar luz a artistas, vozes e expressões que, por vezes, transitam nas margens. A voz do outro reverbera em nosso trabalho, nos ajuda a entender a nós mesmos, a nossa jornada, a perceber a cada encontro as congruências e contrastes artísticos, firmando o nosso próprio caminho e o caminho desses encontros e coletivos”, afirma.
Com a pandemia, as conexões virtuais do Cabaré com artistas de toda América Latina e do Brasil se intensificaram. Dagmar Bedê relata que “nos últimos dois anos, começamos a ter contato com uma rede que até então não tínhamos muito conhecimento, de grupos e movimentos que trabalham com a linguagem do Cabaré, independentemente do circo ou da palhaçaria”, e adianta: “fruto destas descobertas está a nossa ligação com a atriz, diretora, pesquisadora e professora doutora Christina Streva, da Unirio (RJ), a qual convidamos para dirigir em 2022 um novo espetáculo do cabaré que está para nascer”.
Serviço
Cabaré das Divinas Tetas
19/11, sexta – 19h30 > Cabaré c/ convidadas do coletivo Calcinha de Palhaça*
20/11, sábado - 19h > Cabaré c/ Academia Transliterária | 20:10 h > Roda de Conversa
21/11, domingo - 18h > Intervenção Poética: Manas com vida - Coletiva Manas [área externa]
19h > Cabaré das Divinas Tetas com convidadas do Coletivo Bacurinhas
Ingressos: R$10 (inteira) e R$5 (meia entrada para idosos e estudantes)
Gratuito para pessoas trans, travestis e não-binários
Vendas pelo Sympla e na bilheteria da Funarte
Local: Funarte MG (rua Januária, 68, Centro)
Capacidade de público por espetáculo 80 lugares
Classificação indicativa: Sexta: 16 anos (com interpretação em libras) | Sábado: 12 anos
Domingo:> Livre (Área Externa) e 18 anos (Cabaré)
Informações: Facebook e instagram: @cabaredasdivinastetas