Alceu Valença comemora hoje 73 anos talvez com o mesmo fôlego do início de suas quase cinco décadas de carreira. Episódios importantes da trajetória do cantor, compositor, cineasta e poeta brasileiro estão registrados no documentário 'Alceu Valença – Na Embolada do Tempo'. O filme vai ao ar hoje, às 21h30, no canal pago Curta. 

Para a produção, a roteirista e diretora Paola Vieira trabalhou durante dois anos em mais de 300 horas de gravações guardadas por Alceu – a maioria em VHS, digitalizadas depois. E não faltam momentos marcantes do artista pernambucano em quase uma hora e meia de duração do filme. 

O documentário foi visto por Alceu na capital paulista no último dia 14, durante o festival In-Edit Brasil. “Ele se emocionou”, diz a diretora. Os 47 anos roteirizados de música, cinema e poesia (Alceu é autor do longa 'A Luneta do Tempo' e do livro 'O Poeta da Madrugada') são narrados pelo próprio cantor metrificado (como ele se define no início), que canta forró, rock e baião, e sem ídolos, apesar de, ao longo do tempo, admitir influências de contrastes como Luiz Gonzaga (1912-1989) e Elvis Presley (1935-1977). 

A obra só não crava os mais de 50 anos de música pois deixou de fora a fase americana de Alceu, quando o então estudante de direito passou em um concurso cujo prêmio eram três meses de aulas na universidade norte-americana de Harvard. Foi nos Estados Unidos que ele começou a ganhar público ao cantar xotes e baiões em praças públicas. “Meu primeiro corte de filme foi com três horas e meia, e tive de tirar essa parte, por exemplo”, diz a diretora, com a justificativa de falta de imagens.

Talvez esse seja um detalhe que apenas quem é muito fã perceba. Mas essas pessoas vão ter muitas surpresas. O lendário disco 'Espelho Cristalino', gravado em 1977, por exemplo, marcou um momento de decepção de Alceu com a música. “As rádios não tocavam e diziam que primeiro a gente tinha que ir para a televisão; e na televisão diziam que primeiro a gente tinha que ir para o rádio”, narra Alceu. Como nada aconteceu, e por conta da ditadura no Brasil, o artista rescindiu pela primeira vez com uma gravadora e foi para Paris. E lá compôs 'Coração Bobo' para o forrozeiro Jackson do Pandeiro (1919-1982).

A volta ao país foi triunfal. No documentário, Alceu lembra de eternos parceiros, como o guitarrista Paulo Rafael. Ou o surgimento da versão inicial de 'O Grande Encontro', com Geraldo Azevedo – com quem gravou seu primeiro disco em 1972, considerado o início de sua carreira profissional –, Elba Ramalho e Zé Ramalho. 
Alceu, que afirma ter acompanhado de perto a produção, se emocionou com uma entrevista dos pais na década de 1980 na fazenda onde ele nasceu, em São Bento do Una. 

O documentário viaja pelas andanças do cantor. Do frevo de Olinda, onde diz ter visto o mar pela primeira vez, ao Carnaval que hoje atrai multidões na capital paulista. Do convite para gravar na Holanda ao sucesso no festival de jazz de Montreaux, na França.

O título do filme plagiou o de um disco de Alceu: “Eu vivo na embolada do tempo. Estou viajando com as minhas lembranças, como aqui, agora, e projetando o futuro”, define o artista.