Revolução

Carlos Vergara adere às NFTs

O artista gaúcho, que está em cartaz com uma mostra no Museu Inimá de Paulo, aderiu ao fenômeno mundial

Por Patrícia Cassese com AFP
Publicado em 07 de outubro de 2021 | 19:34
 
 
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No bojo da abertura da mostra "Prospectiva", de Carlos Vergara, em cartaz no Museu Inimá de Paula desde o último dia 5, foi lançado o o primeiro Non-fungible Token (ou, em português "Token não-fungível", título de propriedade digital) do artista, no caso, desenvolvido em parceria com a plataforma Miintme.

Mas, afinal, o  que é uma NFT? De acordo com Carlos Campos, head de marketing da citada plataforma, trata-se de algo ao qual é conferido um status de único. "E como isso se aplica em algo digital? Para transformar alguma coisa digital em uma NFT, você precisa registrar numa blockchain (empresa de serviços financeiros de criptomoeda), que pode ser uma moeda como bitcoin, ethereum, cardano, enfim, tem várias opções. Com esse registro, o ativo digital recebe um código, como se fosse um número de série, que fica atrelado a ele para sempre. E  esse número, como disse,  é imutável e 'incopiável', por assim dizer. Ou seja, você consegue dar uma validade de unidade. Então, mesmo que alguém copie - a imagem, o arquivo ou qualquer coisa que seja -, não vai ter o código de série que é unico. Cada vez que você tokeniza, você transforma em NFT, em algo imutável que tem todo o lastro no blockchain e que dá esse valor de unidade, de raridade".

Fato é que os NFT, certificados de autenticidade digital de conteúdos da Internet, revolucionaram o mercado de arte no mundo, o que colocou a criação contemporânea como "locomotiva" do setor", conforme afirmou o relatório anual da empresa francesa Artprice publicado agora. Lembrando que é considerada  arte contemporânea qualquer obra de um artista (tanto pintura, escultura, instalações, desenho, fotografia, gravuras, vídeos e, agora, NFT) nascido depois de 1945. Vergara nasceu um pouco antes, em 1941. Mas Carlos Campos ressalta: "Foi bem natural convencer o Vergara a embarcar nesta aventura, porque, desde a década de 60, quando ele começou seus trabalhos, sempre esteve na vanguarda do movimento cultural brasileiro. Sempre trouxe materiais novos, ideias novas, sempre teve essa inquietude com a sua arte, buscou se inovar, trazendo novas reflexões, novas ideias. E com arte digital e com as NFTs não poderia ser diferente, ele está mais uma vez à frente do seu tempo, seguindo esse movimento de pioneirismo na arte digital".    

Mais que isso, lembra Carlos, as NFTs permitem que obras e artistas digitais possam ser reconhecidos como "artistas de verdade",  e não como fornecedor de algo digital ou afins, "porque a réplica do material desses artistas passa a ser muito mais dificil, já que com o código de série da blockchain, mesmo que repliquem, o original tem valor único, como uma obra de arte física". "E é isso que caracteriza uma NFT", pontua.

De fato, a ideia surgiu do desejo dos criadores de democratizar a arte. E ganhou tônus com a quarentena. O referenciado relatório da Artprice atestou que as vendas públicas alcançaram o recorde de US$ 2,7 bilhões durante o ano fiscal 2020-2021, o que representa um aumento anual de 117%.  O principal estímulo veio da migração para a Internet dos leilões de arte contemporânea, devido à pandemia da Covid-19.

Para se ter uma ideia, entre 30 de junho de 2020 e 30 de junho de 2021, 102 mil obras contemporâneas foram vendidas no mundo, o que representa 23% do mercado mundial de arte. Um índice que era de apenas 3% em 2000-2001, destaca a Artprice, líder mundial das informações sobre o setor. Com 40% das vendas no mundo, China continental, Taiwan e Hong Kong, viraram o principal mercado de arte contemporânea, à frente de Estados Unidos (32%) e Reino Unido (16%). Nova York continua liderando a lista de mercados emblemáticos da arte, mas Hong Kong está bem perto, destronando Londres do segundo lugar. As mulheres representam 37% das artistas, quase metade no setor de fotografia, disse o presidente da Artprice, Thierry Ehrmann, à Agência France-Presse.

As obras digitais em NFT representam dois terços do valor das vendas pela Internet, e 2% do mercado global de arte em 2021, segundo o relatório. Considerados em algumas ocasiões uma "bolha especulativa", "os NFT permitem que jovens artistas ganhem a vida com isto, sobretudo, os criadores de 'street art', efêmera por natureza". No ano 2000, havia apenas 150 artistas de "street art" no circuito dos leilões de arte. Em 2021, são 18.000, destaca Ehrmann. Para o analista, esta é uma tendência "mundial que se impõe com força".

Banksy registrou no primeiro semestre de 2021 um volume de negócios de US$ 123 milhões. Ele está entre os cinco artistas mais rentáveis nas salas de leilões, atrás de Picasso, Basquiat, Warhol e Monet, segundo o relatório. "Há artistas emergentes como Beeple, que saem do nada, sem galeristas nem exposições, que se recusam a entrar no circuito tradicional da arte", afirma Ehrmann. 

Desconhecido até o ano passado pelas casas de leilões, o americano Mike Winkleman, Beeple, de apenas 40 anos, figura entre os três artistas vivos mais caros: atrás de David Hockney e de Jeff Koons. Seu primeiro NFT, "Everydays: 5.000 days", alcançou US$ 69,3 milhões, após um preço inicial de leilão de US$ 100. Com milhões de seguidores no Instagram e apoiado pela casa de leilões Christie's, Beeple representa 3% do mercado de arte contemporânea, segundo a Artprice.

Os NFT chamam a atenção de "novos colecionadores, com idade média de 32 anos, a geração 2.0 que compra arte a preços mais baratos, mas como um modo de vida", explica Thierry Ehrmann. Em 2020-2021, os token não fungíveis representam nove vendas milionárias, três vezes mais que a fotografia, de acordo com o informe da Artprice. 

Outro fato relevante do ano é a presença forte de artistas afro-americanos, afro-britânicos e africanos no mercado de leilões. O pintor Amoako Boafo, de Gana, viu seu quadro "Baba Diop" ser leiloado em dezembro de 2020, em Hong Kong, por US$ 1,14 milhão, 10 vezes mais que a estimativa inicial.  

"A gente, da Miintme, entende que não é uma empresa de tecnologia, mas uma empresa que, através da tecnologia, fomenta a arte e a cultura. Ou seja, mais que uma empresa de tecnologia. Os artistas digitais, junto aos  do não digital, conseguem, agora, expandir suas obras para todo mundo, com diversos tipos de preço e de tiragens, e isso faz com que mais pessoas tenham acesso às obras, aos artistas e aos conteúdos", explica Carlos Campos.

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