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Casa Funarte Liberdade é inaugurada em Belo Horizonte

Fundação passa a ocupar o prédio conhecido como Rainha da Sucata, na praça da Liberdade, e já abriga exposição de Yara Tupinambá

Por Patrícia Cassese
Publicado em 09 de novembro de 2020 | 16:12
 
 
 
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Ao adentrar o palco do teatro de arena na manhã de hoje, o poeta, produtor e arte educador Kdu dos Anjos, uma das atrações artísticas que foram escaladas para a cerimônia de apresentação da nova destinação de um dos mais icônicos edifícios do Circuito Cultural e Turístico Liberdade, o  edifício Tancredo Neves, ou "Rainha da Sucata"; foi logo celebrando: "Que bom fazer novamente uma apresentação com plateia". O também MC referia-se aos convidados que, devidamente paramentados com máscaras, e por estarem em um lugar aberto, sentaram-se ali, nos degraus em torno ao palco, para prestigiar a inauguração da Casa Funarte Liberdade.

Espaço que, vale dizer, está com a sua primeira atração aberta ao público (claro, com acesso ainda limitado, de acordo com protocolo formulado em consonância às orientações das autoridades sanitárias). Trata-se de "As Cores da Primavera", exposição da pintora, desenhista e gravadora mineira Yara Tupinambá, que tem curadoria de José Theobaldo Júnior (Theo). 

O novo espaço é fruto de uma parceria entre as esferas federal e estadual. Assim, o prédio foi cedido pelo governo de Minas para servir de sede à Fundação Nacional de Artes, a Funarte, órgão da administração federal responsável pelo desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes. Não por outro motivo, representantes dos dois patamares estiveram presentes à cerimônia: do estadual, o governador de Minas Romeu Zema (Novo), seu vice, Paulo Brant; e o Secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, entre outros.

Já da esfera federal, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que fez questão de exaltar as atuais boas relações entre as partes. "Isso mostra que existe aí uma parceria muito bem consolidada entre o governo federal e o do estado, que gentilmente cedeu esse imóvel. O investimento do governo, na verdade, é de R$ 1 milhão e 700 mil, sendo que o primeiro milhão já está na conta para ser executado, e os demais 700 mil (serão repassados) no proximo ano". 

Representando Lamartine Barbosa Holanda, atual presidente da Funarte, que não pode vir à capital mineira, estava Fabiana Aguiar, coordenadora regional da Funarte em Minas. Ela lembrou que, com o novo prédio, a Funarte pretende abrigar manifestações de viéses distintos, como a cultura popular e a música clássica. "A nossa programação vai transitar muito entre essas duas áreas. No geral, a ideia é ser um centro de referência às artes, as visuais, as da era digital, e trazendo aqui, para o Circuito (Liberdade), a cultura popular: o teatro de rua, a dança de rua, o movimento soul, o hip hop...".

Em tempo: outra ausência foi a do atual secretário de Cultura, Mario Frias, que chegou a ter seu nome anunciado para a solenidade.

Novo conceito para o Circuito. Leônidas Oliveira lembrou que, há cerca de 15 dias, o governador Romeu Zema, também em parceria com o Ministério do Turismo, lançou o projeto de criação daquele que, pontuou o secretário, responderia pela primeira rota turística de Belo Horizonte oriunda de um decreto governamental, que é o Circuito Cultural e Turístico Liberdade - trocando em miúdos, o antigo Circuito Cultural Praça da Liberdade, que em um segundo momento virou Circuito Liberdade, agora é Circuito Cultural e Turístico Liberdade.

"Daqui (da praça da Liberdade e entorno), ele foi agora ampliado para abranger a extensão da linha da avenida do Contorno, que é um projeto de Aarão Reis (urbanista e chefe da comissão que construiu a nova capital) de 1896. Queremos que o circuito seja o centro, a mola propulsora do turismo e da cultura na capital - e, sobretudo, queremos trazer a periferia para o circuito. A Funarte vem neste sentido. Existe hoje a Funarte localizada no centro da cidade (referindo-se ao espaço localizado na rua Januária, 68, nas proximidades da praça da Estação), com galpões interessantíssimos para as artes, mas, agora, com esse edifício belíssimo de Éolo Maia e Sylvio de Podestá, ganha outra envergadura".

Fabiana ainda lembrou que, neste momento de pandemia, é "maravilhoso poder contar com um teatro aberto, que traz uma acessibilidade enorme ao público". E acrescentou que a programação (para além da já citada exposição) terá início no próximo dia 21, transcorrendo sempre aos sábados, às 17h, e aos domingos, às 11h, todos os fins de semana, até o dia 19 de dezembro (quando inicia-se o tradicional período de recesso de Natal e Ano Novo). 

O prédio. Com projeto arquitetônico assinado por Sylvio de Podestá e Éolo Maia, o edifício Tancredo Neves é uma construção da década de 80. Tem uma área total de 1.547 m2, com quatro pavimentos (possui elevador) e um subsolo, além do citado teatro de arena, com capacidade para até 400 espectadores. Em estilo pós-modernista, caracteriza-se pelo uso de materiais diversos e cores fortes nas fachadas. 

Inaugurado em 1990, foi logo apelidado de "Rainha da Sucata", em referência à novela global homônima, de Silvio de Abreu, exibida naquele ano, com Regina Duarte à frente do elenco. Na verdade, sem o conhecimento do conceito que norteou Podestá e Maia, muitas pessoas consideraram que o prédio divergia, de forma negativa, da arquitetura comum aos demais edifícios situados no entorno da praça.

Em 1991, o espaço passou a abrigar o Museu de Mineralogia Professor Djalma Andrade, que, em 2010, foi transferido para outro local. Em 2017, tornou-se o Centro de Informação ao Visitante do Circuito Liberdade. Recentemente, estava fechado à visitação, em função de reformas.

Primeiros passos. Fabiana contou que a Funarte MG chegou ao prédio há  um mês. "E estamos tomando as medidas administrativas para colocar o prédio em funcionamento. Vamos usar esse dinheiro em contratação de equie, novoa equipe para este espaço". Ela lembrou que os investimentos das apresentações artísticas vêm da parceria da Funarte com UFRJ, em três projetos, Bossa Criativa, Sinos e Novo Olhar. Esses projetos estão sendo executados aqui - por conta da pandemia, alguns virtualmente".

Em 2020, a Funarte investiu no Programa Funarte de Toda Gente mais de R$ 20 milhões. Deste montante, R$ 14 milhões destinam-se a projetos em parceria com a UFRJ, os citados por Fabiana. O Sinos é o Sistema Nacional de Orquestras Sociais, projeto de apoio à capacitação pedagógica, direcionado a projetos orquestrais de inclusão social, com preparação de concertos. Tem como alvo a capacitação de professores, alunos (instrumentistas) e regentes, incluindo atividades online e presenciais.

O Bossa Criativa - Arte de Toda Gente é um programa que tem desdobramento online e presencial, de espetáculos com artistas de todo o país - como Xangai, Mauro Senise, Bia Bedran, Gilson Peranzzetta e Catia de França, entre outros - em cidades que compõem o Patrimônio Mundial Histórico e Natural da Unesco. O Bossa Criativa também reúne atividades de formação em criação e produções artísticas, em particular, na área musical.

Por último, mas não menos importante, o projeto Um Novo Olhar (Uno) reúne uma série de cursos de treinamento em arte-educação, incluindo oficinas de acessibilidade cultural e artes visuais para educadores de crianças com deficiência, e workshops de capacitação para regentes de coros para adultos e infantis, bem como instrutores de música interessados em acessibilidade para pessoas com deficiência.

A cerimônia de inauguração, na manhã desta segunda-feira, contou, ainda, com a apresentação do Quinteto Sino, com regência do maestro Marcelo Ramos; que, entre as músicas executadas, fez um medley com composições de Lulu Santos e do Legião Urbana.

Na sequência, uma bela e potente performance do ator e bailarino Oscar Capucho, que é cego e, em seu currículo, tem méritos como o de ter  representado o Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Ao fim, entrou em cena o já citado Kdu dos Anjos, que se apresentou com o Favelinha Dance, fazendo, inclusive, uma adaptação de "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade", para o universo do hip hop. Brilhou.

 

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