Não é demais imaginar que muitos fãs de Adriana Calcanhotto, 53, gostariam de ter nascido na secular “Terra do Sol Nascente”. Isso porque a edição japonesa do álbum “Margem” recebeu um bônus luxuoso. Uma versão da gaúcha para “Futuros Amantes”, clássico de Chico Buarque, foi incluída no CD.
Nesta sexta (23), Adriana estreia em Belo Horizonte a turnê do trabalho, que encerrou a sua trilogia marítima, iniciada em 1998 com “Maritmo” e sucedida, dez anos depois, por “Maré”. A grande novidade do roteiro busca dialogar com o âmago do disco. “Acho que ‘Futuros Amantes’ é meio irmã do poema do Antonio Cícero, musicado pelo Zé Miguel Wisnik”, observa a cantora.
Adriana se refere a “Os Ilhéus”, uma das nove faixas inéditas de “Margem”. Com melodia morosa e letra intrincada, a primeira estrofe da canção afirma: “Uma onda pode vir do céu/ Imponderável como as nuvens/ E cair no dia feito um véu”.
“É a ideia das civilizações, que vão se empilhando umas sobre as outras, e acabam no fundo do mar, como a cidade submersa do Rio. Então, os escafandristas vêm explorar a sua casa e têm as mesmas dúvidas que temos agora: quem somos, da onde viemos e para onde vamos?”, sustenta a intérprete, sem disfarçar o entusiasmo com tais questões filosóficas.
“Um dia perguntaram para o (Antonio) Cícero como era ser poeta e filósofo ao mesmo tempo, e ele respondeu: ‘Depende do que você chama de ao mesmo tempo’”, diverte-se. Por sinal, o irmão da cantora Marina Lima está entre os únicos compositores a figurarem nos três álbuns da trilogia.
O outro é Péricles Cavalcanti, mais conhecido por ser o autor da divertida “Eu Queria Ser Cássia Eller”. Em “Margem”, Cavalcanti comparece com “Príncipe das Marés”. Apesar disso, a história da música data de muito antes. “Eu a encomendei para o Péricles, em 2008 e, após 40 minutos, ele me mandou essa pérola. Eu cheguei a gravá-la na época, mas percebia tantas camadas e sutilezas dentro dela que achava o meu jeito de cantar ainda meio verde, não tinha criado a intimidade necessária”, revela. “Agora ela veio para o ‘Margem’, e tinha mais a ver com esse trabalho mesmo”, completa a entrevistada.
Além delas, marcam presença “Era Pra Ser” e “Tua”, obras de Adriana lançadas por Maria Bethânia. “Sempre ouvi canções de amor no rádio, e elas se tornaram referência para mim”, admite a artista, que segue prezando pelo minimalismo em suas composições. “É um gosto pessoal, eu não quero o enfeite, mas a clareza. Gosto de coisas simples, não fáceis”, conclui.
Serviço. Show de Adriana Calcanhotto, nesta sexta (23), às 21h, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537). De R$ 40 (meia) a R$ 130 (inteira).
Assista ao novo videoclipe de Adriana Calcanhotto: