Exposição

Celma Albuquerque Galeria apresenta a mostra 'Conversas Diplomáticas'

A exposição é dividida em 6 núcleos temáticos com obras que versam sobre a linguagem e a comunicação; a natureza e o meio ambiente; espaços privados e públicos; o tempo e a morte

Por Patrícia Cassese
Publicado em 30 de novembro de 2020 | 18:51
 
 
 
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As exposições coletivas já fazem parte do DNA da galeria Celma Albuquerque, confirma Flávia Albuquerque. "Sempre fazemos, gosto do formato. E este ano em particular, com a pandemia, tendo a galeria ficado com suas portas fechadas por alguns meses, acabamos pensando em voltar com uma exposição na qual, de certa forma, estamos também lidando com questões que foram vividas por todos nós", diz ela, referindo-se a "Conversas Diplomáticas", mostra em cartaz desde o último dia 17 no espaço fundado por sua mãe - a mostra poderá ser visitada até o dia 12 de dezembro (confira ao final da matéria).

A iniciativa apresenta obras de artistas representados pela galeria, como: Alan Fontes, Alessandro Lima, Beth Jobim, Bruno Vilela, Daniel Bilac, Daniel Escobar, Flavia Bertinato, Isaura Pena, João Castilho, José Bechara, Laura Belém, Leda Catunda, Liliane Dardot, Manuel Carvalho, Marcelo Moscheta, Nazareno Rodrigues, Nuno Ramos, Pedro Motta, Roberto Bethônico, Rochelle Costi, Tatiana Blass e Vanderlei Lopes. Não bastasse dar início a uma série de coletivas relacionadas, que terão como base a conversa entre os artistas.

Flávia explica que alguns dos trabalhos expostos foram inclusive elaborados nesses meses da quarentena decorrente do avanço do novo coronavírus. "Já outros datam de outras épocas, mas, na montagem, tivemos a preocupação de estabelecer conexões entre eles". A galerista enfatiza que, a cada montagem de uma coletiva, adotou o hábito de eleger uma obra como ponto de partida. No caso de "Conversas Diplomáticas", a escolha recaiu sobre um trabalho da artista Laura Belém, nascido de um ajuntamento de moedas resultantes de várias viagens ao exterior.

No caso, elas foram emolduradas duas a duas. "Em alguns momentos, umas (as faces impressas no metal) se olham, em outros, ao contrário, desviam o olhar. Então, há, ali, um certo ruído. Na exposição como um todo a gente fala disso", diz, referindo-se ao fato de as obras reverberarem ora semelhanças ora diferenças. Os quadros que compõem a obra de Laura Belém foram montados em cinco diagramas de sete pares de moeda cada.  Importante dizer que os "encontros" são arbitrários, ou seja, não são necessariamente baseados em trocas históricas ou econômicas entre os países colocados em pares dentre molduras. No material de divulgação da mostra, o curador canadense Earl Miller aponta que  "ainda que o significado do trabalho seja interpretado como político, uma implicação mais forte é a ponte de diferenças através dos encontros randômicos entre os estranhos".

Esse trabalho se comunica com outro grupo de obras da mesma Laura Belém,  "1/2". "Que também fala da comunicação - na verdade da interrupção da comunicação, que é uma coisa que aconteceu muito durante essa pandemia, quando a gente teve que se adaptar e mudar a maneira de nos comunicarmos com o outro", pontua Flávia. São trabalhos instigantes, como o que traz um telefone ou uma máquina de datilografar partidas ao meio, simetricamente.

Também no núcleo, há o impactante conjunto de obras de Flavia Bertinato, a instalação "Leão-de-Chácara", que, grosso modo, poderia ser descrita como um grupo de "línguas" (em cerâmica) saindo da parede, predominantemente na cor verde. E, ainda, uma obra de Leda Catunda ("Véus escuros", 2018, acrílica sobre tecido), que remete a uma língua de tecido. Não menos potente a obra de Tatiana Blas, Entrevista #1.1. 

A partir deste epicentro, a exposição é dividida em outros núcleos temáticos com obras que trabalham questões como a linguagem e a comunicação, a natureza e o meio ambiente; espaços privados e públicos, o tempo e a morte. E, fazendo jus ao ponto de partida, em todas estão presentes "os dois lados da moeda". "Temos, por exemplo, um núcleo no qual todos os artistas usaram o livro como material de pesquisa", diz, exemplicando com obras de Alan Fontes, artista que, na série "Livros de Pedra", usa livros de concreto abertos com pinturas de prédios históricos de Belo Horizonte (óleo e encáustica fria sobre concreto), como o Museu da Pampulha. "E tem um trabalho do João Castilho (a fotoinstalação "Metamorfose"), com reproduções do Kafka. A gente vê nele diferentes formas de interpretação, cada um diferente do outro", diz Flávia. 

Ao Magazine, Castilho conta que são dois trabalhos que vão numa mesma direção, "a de tratar o texto como imagem". "A letra, o papel, a frase, o conceito, são vistos não só em seus significados mas também nas formas que assumem. 'Metamorfose' mostra um grande coleção de fotografias da primeira frase da novela de Kafka. Nenhuma tradução é igual a outra, há sempre algo de diferente entre elas. A outra obra mostra as palavras 'Caos Mundo' - um conceito do filosofo Édouard Glissant - escritas com letras recortadas de jornais e ampliadas. As duas obras estabelecem então essa relação entre a literatura e a fotografia, entre as letras e as artes visuais".
Outro trabalho da série é o guia de viagem de Daniel Escobar - "Como escolher sua ilha -Atenas e Ilhas Gregas/Série The World (2019, recorte sobre guia turístico e acrilico), que fala sobre essa relação mais do consumo com as viagens do que propriamente com a vivência (a fruição da experiência de visitar outro lugar). 

Um outro núcleo potente (e necessário) é o que se debruça sobre o meio ambiente. "Alguns trabalham lidam com essa questão no sentido da beleza, mas também no da degradação", diz ela, citando, por exemplo, o artista visual Pedro Motta, com seu "Naufrágio Calado", "que mostra a beleza e a natureza, mas de uma forma como se ela fosse se desfazendo". O que, por seu turno, prossegue a galerista, estabelece uma conexão com a obra de Roberto Bethônico, "que faz um trabalho de paisagem com pó de ferro, essa paisagens mineiras que vão se modificando". O núcleo também abarca um trabalho da já citada Laura Belém. "Ela faz uma espécie de flotagem de minério negro, como se carimbasse folhas, como se adicionasse a matéria ao papel". Em contraponto surgem obras de Marcelo Mosqueta, folhas de carbono  nos quais ele tira a tinta para construir a paisagem. "Espelhei o trabalho desses dois artistas como se fosse o negativo e o positivo".

Mais do que nunca, afiança Flávia, é preciso aprender e saber escutar. "Sendo assim, poderíamos pensar que nesta mostra as obras não só 'falam' das questões propostas pelos artistas como 'escutam' umas às outras. Estas 'conversas' levam a discussões que permitem que artistas de várias gerações proporcionem um espaço para o exercício do pensamento", conclui a galerista.

Exposição: "Conversas Diplomáticas"
Onde: Celma Albuquerque Galeria de Arte
Quando: 17 de novembro até 12 de dezembro
Horário: De 9h às 19h
Endereço: Rua Antonio de Albuquerque, 885, Savassi - Fone: 3227-6494

 

 

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