Música

Clube da Esquina 50 anos: exposição e shows em BH abrem celebrações

Centro cultural do Minas Tênis Clube abriga mostra até março e será palco, de quinta a domingo, de apresentações de Julia Guedes, Erika Machado, Makely Ka e dos irmãos Lô e Telo Borges

Por Bruno Mateus
Publicado em 02 de fevereiro de 2022 | 06:33
 
 
 
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Quando o compositor e poeta Márcio Borges foi convidado pelo Minas Tênis Clube a criar uma exposição para celebrar os 50 anos do “Clube da Esquina” – título do extraordinário disco duplo de Milton Nascimento e Lô Borges lançado em 1972, que trouxe junto toda uma turma (estamos falando de Beto Guedes, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Wagner Tiso, Tavito, Tavinho Moura, Toninho Horta e muitos outros) de músicos e compositores talentosos e que acabou dando nome ao movimento musical que ultrapassou as fronteiras de Minas para retumbar em todo o mundo –, ele sabia que não poderia ser algo tradicional, com fotos manjadas que as pessoas estão cansadas de ver nas redes sociais.

“Quero pessoas mergulhadas naquilo que há de melhor no que fizemos: as nossas canções. Que elas façam um passeio através do som, aí criamos essa história”, conta Márcio. “Viagem de Ventania: Trilha Sonora dos Tempos” é essa história, cujas memórias serão abertas ao público nesta quarta (2), no Centro Cultural do Minas Tênis. Curador da mostra, Márcio escolheu 12 canções – entre cerca de 500 – como trilha de um ambiente sonoro e visual que mistura música e imagens em projeções, algumas delas em 3D, jogos de luzes, objetos, fatos históricos e materiais audiovisuais.

Em homenagem ao tempo do vinil, a ideia é que os visitantes se sintam como se acabassem de colocar um disco na vitrola. O que vai sair dali é “Para Lennon e McCartney”, “Clube da Esquina II”, “Paixão e Fé” e “Canção do Novo Mundo” e outros oito marcos do Clube da Esquina. A exposição, com desenho arquitetônico de Gustavo Penna e Gustavo Grecco e produção artística de Cláudia Brandão, tem diversos espaços e propõe uma imersão poética em cores, sons e melodias.

Márcio Borges diz que ficará realizado caso o público escute as músicas como se fosse pela primeira vez, há 50 anos. “Esqueça a fama dessas músicas, esqueça que elas correram o mundo. Venha ouvir esses músicos e o trabalho coletivo genial que havia por trás de cada canção”, recomenda o compositor.

Os 50 anos do disco/movimento também serão reverenciados em uma série de shows do projeto Mistura Minas, que começa amanhã, com Julia Guedes. Filha de Gabriel e Naissa Rajão, neta de Beto e bisneta de Godofredo Guedes, a jovem Julia tem no sangue e na voz a herança que lhe foi transmitida desde o berço. Ao subir ao palco para interpretar as canções de sua família e do Clube da Esquina, ela afirma transitar entre a alegria e a responsabilidade, o pertencimento e a admiração. O sentimento transborda, e em vários shows ela precisa fazer uma força danada para não chorar.

É como se ela estivesse diante de algo como uma cachoeira. “Toda vez que vou em Tabuleiro (cachoeira), me sinto pequena e ao mesmo tempo privilegiada. Quando estou no palco, é bem por aí. Vai muito além de mim, mas também passa por mim. Me sinto pequena, porque o Clube é enorme, e grande, porque estou inserida nele”, ela destaca.

Entre as canções que Julia Guedes vai apresentar, “Noite sem Luar” (Godofredo Guedes), “Julia” (Gabriel Guedes) e “Choveu” (Beto Guedes) marcam o encontro familiar, enquanto “Vento de Maio” e “Canoa, Canoa” celebram o Clube da Esquina. Será o primeiro show da cantora e tecladista como artista solo, à frente de sua banda, formada por Pedro Volta (violão, teclado e bandolim), Cyrano Almeida (bateria e percussão) e Bruno Vellozo (baixo).

O frio na barriga será inevitável, “mas me sinto como se alguém estivesse pegando na minha mão”, conta a artista, de 20 anos, quarta geração da família Guedes e terceira do Clube da Esquina.

Envolvida com projetos musicais e o doutorado em arte contemporânea, Erika Machado passa uma temporada em Belo Horizonte, mas deve voltar para Lisboa em abril ou maio. Lá, quando fica triste e com saudade das coisas de cá, a música mineira lhe faz companhia e afagos. Clube da Esquina, claro, está sempre tocando alto no som ou no celular da cantora. “A memória afetiva fica gigante”, comenta. Na sexta, Erika e o cantor e compositor Makely Ka dividem o palco com Paulo Sartori (baixo), Yuri Velascos (bateria), Vinicius Mendes (sopro) e Gustavo Souza (violão).

“Vou cantar um lado mais pop, que se aproxima mais de mim”, ela conta. “Tudo o que Você Podia Ser”, “Um Girassol da Cor de Seu Cabelo”, “Nuvem Cigana” e “Nada Será como Antes” estão entre as canções que ela vai interpretar – Makely, por sua vez, vai passear por outras esquinas do repertório clubístico. Erika concorda que não há nenhum exagero em dizer que o Clube da Esquina é um dos maiores movimentos musicais do século XX.

Por isso, homenagear artistas que definiram muito do que ela se tornou é falar também da admiração que sente por aqueles que sempre dão um jeito de encurtar o caminho entre Portugal e Brasil: “Já tive oportunidade de falar com cada um deles sobre a importância que eles têm não só no meu trabalho, mas na minha existência. Tenho muito orgulho de ser da mesma região e de ter vivido no mesmo tempo que esses caras”.

Irmãos Borges encerram projeto 

Mais que uma celebração ao Clube da Esquina, um encontro entre dois irmãos com tanto em comum. É assim que Lô Borges fala sobre o show de sábado, que encerra a programação do Mistura Minas. “Vamos festejar nossa amizade, nossas parcerias, nossas afinidades musicais. Tocar com o Telo, um cara supertalentoso, é mais fácil que mastigar água. Já nascemos ensaiados”, brinca o compositor.

Para Lô Borges, relembrar o cinquentenário “Clube da Esquina” e a reunião daqueles artistas é falar sobre músicos, compositores, poetas, arranjadores e fotógrafos envolvidos em um trabalho capitaneado por Milton Nascimento. Todas as celebrações são bem-vindas.

“Foi uma conjunção de pessoas talentosas que estavam a fim de fazer uma obra de arte bem-feita. Ninguém estava ali pensando em se dar bem financeiramente, em vender um milhão de discos. Nenhum de nós podia imaginar que seríamos lembrados 10, 30, 50 anos depois. Acabamos deixando uma música na cabeça das pessoas”, comenta o cantor.

Programação

Com entrada gratuita e limitada a 30 pessoas simultaneamente (não é necessário agendar), a exposição “Viagens de Ventania: Trilha Sonora dos Tempos” fica aberta no Centro Cultural Unimed-BH Minas (rua da Bahia, 2.244, Lourdes) desta quarta a 6 de março (de terça a sexta, das 10h às 20h, e sábados, domingos e feriados, das 11h às 18h). No mesmo espaço, o projeto Mistura Minas apresenta shows de quinta a sábado – Julia Guedes, Erika Machado e Makely Ka e, por fim, Lô Borges e Telo Borges –, sempre às 21h, com ingressos a R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia) pelo site Eventim ou na bilheteria do teatro.

Livro sobre ‘Clube da Esquina’ lança financiamento coletivo

O livro “Coração Americano: Bastidores do Álbum Clube da Esquina”, escrito por Andréa Estanislau, traça um importante registro do encontro liderado por Milton Nascimento e Lô Borges. A obra reúne fotografias e relatos dos músicos e poetas sobre o disco e a efervescência artística que marcou aquela produção. “Coração Americano” foi lançado em 2008 e ganhou uma segunda edição em 2020, atualizada e ampliada.

Agora, Andréa quer fazer uma nova impressão do livro. Para isso, a autora mineira lançou uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Catarse. A meta é alcançar R$ 52,1 mil. Para conhecer o projeto, clique aqui.

Ouça playlist criada pelo Centro Cultural Unimed-BH Minas em homenagem aos 50 anos do Clube da Esquina:

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