Entre fevereiro e junho deste ano, a cineasta belo-horizontina Bruna Piantino participou de uma oficina de audiovisual em Montevidéu. Ao fim da experiência, ela deveria apresentar um trabalho de conclusão de curso. Foi nas andanças pela capital uruguaia que, de forma incidental, ela descobriu o tema ao qual ela se dedicaria. “Me deparei com o Museu da Cannabis e resolvi entrar. A partir desse encontro inesperado surgiu a ideia do filme”, Bruna conta. “Fiz uma visita guiada, tomei mate e, nos fundos do museu, tinha um pé de Cannabis de quatro metros. Fiquei muito impressionada e não consegui tirar essa imagem da minha cabeça”, completa.

As filmagens aconteceram em maio e, o que era para ser um curta-metragem virou um longa. “Xeque-Mate”, que mostra a situação da maconha no Uruguai, país que aprovou a legalização do cultivo e da venda da planta em 2013, foi lançado no fim deste mês e disputa, na categoria “Novos Diretores”, a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Os internautas podem votar até o dia 4 de novembro pelo site do evento, que também exibe o documentário a preço popular de R$ 6. Nesta sexta (30), às 18h, Bruna participa do debate "A Maconha e seu Uso Medicinal", que integra a mostra.

O cineasta Beto Brant, diretor de “La Planta”, e a médica Carolina Nocetti também participam do bate-papo, que será mediado pela jornalista Ana Paula Sousa e transmitido pelo canal da mostra no YouTube.

Filme retrata realidade uruguaia 

Em depoimentos de Alicia Castilla (escritora, ativista e cultivadora), Julio Calzada (ex-diretor da Junta Nacional de Drogas), Juan Vaz (ativista e cultivador) e Mercedes Ponce de Leon (criadora da Expocannabis Uruguay), além de médicos, acadêmicos, autoridades e outras figuras ligadas ao debate da maconha, “Xeque-Mate” tem o jogo de xadrez atravessando toda a narrativa para discutir as consequências da regulação da cannabis no Uruguai - e cita também a situação em outros países que implementaram a regulação de uso e plantio da maconha, como o Canadá - do ponto de vista econômico, geopolítico e biopsicossocial.

Segundo Bruna, a pesquisa foi um mar de acontecimentos dentro de um novo universo que se abriu para ela: “Nunca fui estudiosa nem usuária, sabia por alto das qualidades da planta. Uma coisa que me impressionou muito e que não é tão sabido do grande público é que temos um sistema chamado endocanabinóide, que regula as muitas funções fisiológicas do nosso organismo. Esse sistema foi descoberto a partir dos benefícios do estudo da planta”.

“Xeque-Mate”, que também traça uma linha do tempo da cannabis desde 6.000 anos atrás, é o primeiro longa de Bruna Piantino, que comemora a seleção para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para ela, o filme pode ajudar a abrir diálogos e debates no Brasil, além de contribuir para que preconceitos e mitos sejam derrubados.

“Essa regulamentação no Uruguai abriu portas para estudos, investimentos científicos; são várias possibilidades. Isso fica muito claro no filme. O país está muito bem resolvido com a questão, claro que pode melhorar em algumas coisas, mas fica claro que (a regulamentação) deu certo e está evoluindo”, avalia a diretora.