"Fragile"

Curta mineiro conquista mais um feito em sua trajetória

O filme de Ramon Faria foi nomeado à National Academy of Television Arts and Sciences, ou Natas, organização responsável pela premiação do Emmy

Por Patrícia Cassese
Publicado em 28 de abril de 2020 | 19:51
 
 
 
normal

Com um rol de passagens por festivais mundo afora, o curta de animação mineiro "Fragile" acaba de conquistar mais um feito: foi nomeado à National Academy of Television Arts and Sciences,  ou Natas, organização responsável pela premiação do Emmy. "No meu caso, na categoria 'animação', dentro do Natas Student Production Awards, voltado a projetos feitos por estudantes", conta o realizador Ramon Faria, responsável pelo trabalho junto a sua esposa Camila Mezzetti, produtora da empreitada.
 
"Fragile", vale lembrar, já rodou por mais de 43 festivais, em pontos dos planeta dos mais diversos, como Irã, Irlanda, Quênia, Rússia, Grécia ou Bangladesh. Evidentemente, nem todos traziam a possibilidade de os realizadores acompanharem a exibição. Mesmo porque, atualmente, Ramon trabalha em um estúdio de animação na Flórida, o que restringe os deslocamentos. "Até fomos a alguns aqui, nos EUA, como o AT&T Film Awards, no qual inclusive fomos premiados. Aliás, foi bem legal, pois foi realizado dentro dos estúdios da Warner, onde vários filmes clássicos e séries foram rodados - inclusive, a primeira produção com som da história do cinema ("O Cantor de Jazz", de Alan Crosland, 1927). Foi incrível estar em Hollywood, ver os estúdios de perto, conhecer a calçada da fama, o icônico letreiro etc", conta ele. "E fomos também a um festival em Vero Beach, uma pequena cidade da Flórida, onde, vale dizer, fomos muito bem acolhidos", acrescenta o mineiro de 34 anos (em junho, agora, completa 35).
 
Ramon lamenta que nos festivais realizados na capital mineira nos quais o filme participou, não pode estar presente justamente por estar morando nos EUA. "Esse ano, estávamos programados para ir a festival na Bósnia e um em Pernambuco, mas, por causa da pandemia do novo coronavírus, não foi possível. Inclusive, alguns festivais acabaram adiando suas datas de realização, enquanto outros mudaram o formato para a  exibição online". E embora "Fragile" ainda tenha fôlego para entrar na grade de outros festivais, Ramón revela que o próximo passo é liberá-lo para exibição online. "Afinal, filme é para ser visto", entende. 
 
"Fragile" leva esse nome por vários motivos. "Por exemplo, porque a vida é frágil, uma amizade pode ser algo frágil, memórias são frágeis... Até um robô de metal pode ser frágil. E também por conta do material usado (para confecção dos bonecos). Por ser em miniatura, usamos palitinhos, isopor, linhas finas e diversas coisas frágeis", elucida. Incitado a responder o que seria o principal chamariz da produção, Ramon diz acreditar que o espectador não demora a estabelecer uma empatia com o Sr. Nakashima, personagem central da trama, "por ser um senhor de idade, morando sozinho". "Todos nós conhecemos alguém em uma situação como essa", reflete. Mas não só. "Também a curiosidade para saber o que iria acontecer após a chegada do robô", adiciona, já dando pistas da narrativa. O autômato ajuda o senhor nas tarefas diárias. Mas entra em cena um vilão inesperado.
 
Já no que tange os curadores de festivais, ele acredita que o filme agrada por não ser uma produção com a qual se deparam com muita facilidade. "Um filme feito com marionetes, com miniaturas. Isso acaba chamando a atenção para a parte técnica, além da história", poontua. Ramon despista quando perguntado sobre a mensagem que a obra enseja transmitir. "Sempre tento deixar abertas as mensagens nos meus filmes, e gosto muito de saber de quem assistiu se entendeu, se gostou, sentiu... Nesse caso, já ouvi diversas versões, desde coisas mais filosóficas e profundas até outras mais simples. Meu sobrinho Bruno, com seus 8 anos à época, enxergou a morte como uma bruxa. Será que ele era um fã do herói ou ele seria o herói? Será que aquilo era a morte ou um vilão antigo? Deixo aberto".
 
E sim, ele lembra de alguns feedbacks que o tocaram em particular. "A Cathy Yan, diretora do filme 'Aves de Rapina', da Warner, me disse que amou como o filme é simples e cheio de emoção. Ressaltou como uma pequena caixa (o robô) pode nos convencer das emoções e sobre como um relacionamento, um desenvolvimento de personagens, normalmente feito com atores, pode ser concretizado usando simples bonecos. Já uma amiga disse: 'Lembrei do meu pai, velhinho, morando sozinho'. Muitos me revelaram que acabaram chorando - e isso é muito mágico, quando se pensa que é só um boneco, ali".
 
Um detalhe interessante, acrescenta ele,  foi que, quando apresentou o projeto na faculdade, todos os professores prontamente gostaram da ideia. "Porém, resolveram não apoiar por ser feito com bonecos, e não atores. Então, acabou sendo um projeto desenvolvido por conta própria, além da ajuda de amigos. E o que aconteceu foi que isso acabou se tornando um diferencial do curta".
 
Ramon já havia feito outros curtas e projetos com bonecos. "Inclusive, após o 'Fragile', participei de um clipe do Howie D. (Backstreet Boys) no qual criei, construi e manipulei um boneco. No momento, estou na pré-produção de uma série de realismo fantástico, pautada pelo humor,  e ela também será toda com bonecos". Por último, ele revela que, esse ano, também tem uma "nova produção" a caminho. A chegada está prevista para junho. "No caso,  meu 'boneco' Hugo, meu filho com a Camila, minha parceira em todos os projetos e também na vida", derrama-se.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!