À primeira vista, Brígida – pequena cidade localizada no Sul do país – parece ser um lugar pacato, rodeado por uma floresta e cachoeiras. Mas basta um olhar mais atento para perceber que o vilarejo, colonizado por imigrantes ucranianos que vieram para o Brasil e que ainda hoje preserva tradições vindas do Leste Europeu, é cercado de segredos e mistérios. Nesse lugar, que se revela cinza e frio, o silêncio grita e incomoda, fantasmas assombram os moradores, e eventos sobrenaturais acontecem. É nessa cidade fictícia que se passa “Desalma”, drama de terror que estreia nesta quinta-feira (22) no Globoplay e que traz no elenco as atrizes Cássia Kis, Cláudia Abreu e Maria Ribeiro.  

Com dez capítulos, a série – que já tem a segunda temporada confirmada – traz como pano de fundo figuras de bruxas e tradições eslavas, pouco conhecidas no Brasil. A história é escrita por Ana Paula Maia, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura por dois anos consecutivos (com os livros “Assim na Terra como Embaixo da Terra”, em 2018, e “Enterre Seus Mortos”, em 2019) e que assina sua primeira obra audiovisual. Ela define “Desalma” como um “drama sobrenatural, com camadas”.  

“É a não aceitação da morte e tem relação com transmigração de almas. Esse tema tem muito a ver com o meu universo. Gosto de terror e sobrenatural desde pequena e tenho uma trajetória com histórias do gênero em toda a minha vida. Até então, eu nunca tinha conseguido levar isso para a literatura. Vi no audiovisual essa oportunidade”, explicou a autora.  

Enredo

“Desalma” gira em torno de três mulheres: Haia (Cássia Kis), uma bruxa de longos cabelos grisalhos atormentada pela morte da filha, Halyna (Anna Melo), assassinada há 30 anos, em Brígida, na noite da tradicional festa pagã Ivana Kupala (festa milenar da cultura eslava); Giovana (Maria Ribeiro), uma mulher cética que se muda com as filhas para o vilarejo, onde nasceu o marido, Roman (Nikolas Antunes), que morre no começo da trama; e Ignes (Cláudia Abreu), prima de Roman, uma mãe dedicada e que, por estar em tratamento psiquiátrico, não é levada a sério pela própria família. 

 

O encontro entre as três acontece justamente quando Brígida resolve retomar as comemorações de Ivana Kupala, que estavam suspensas desde a morte de Halyna, crime que se tornou um grande trauma na cidade. Haia, então, aproveita a celebração pagã da noite mais escura do ano para colocar em prática um feitiço e trazer a filha de volta. Já Ignes percebe que, com a aproximação da festa, o filho Anatoli (João Pedro Azevedo) passa a agir de maneira diferente. Giovana descobre que a filha mais nova, Emily (Juliah Mello), desaparece durante a Ivana Kupala, e seu pesadelo começa. A partir daí, os acontecimentos sobrenaturais se tornam mais perceptíveis na história.  

Cássia Kis afirma que “Desalma” é “escancaradamente um drama que fala de uma uma história, que é ficção, que envolve uma tradição milenar” na vida real. Segundo ela, o título da série já causa um impacto: “É a tradução da alma, a transmigração da alma”.

“‘Desalma’ é um drama sobrenatural, que fala da nossa relação com a morte e da dificuldade de aceitar as perdas. A partir dessa não aceitação é que entra a atmosfera sobrenatural, com a personagem Haia, que faz parte de uma linhagem de bruxas ucranianas. É quando uma série de coisas estranhas começa a acontecer”, explicou Carlos Manga Jr., que assina a direção artística da produção.   

Para ele, “Desalma” é um subgênero do terror. “Ela não tem como objetivo assustar. Toda a atmosfera foi pensada para que leve o público a um estado de angustiante, e que a angústia se torne medo”, afirmou o diretor. “Nada dá mais medo que o mistério”, completou Maria Ribeiro.  

Outro olhar

Cláudia Abreu destacou o fato de interpretar uma personagem como a Ignes de “Desalma”, que faz tratamento psiquiátrico e se vê impedida de exercer algumas atividades. Além disso, a própria família não vai acreditar quando ela contar sobre os eventos sobrenaturais na cidade de Brígida. Para atriz, é importante falar sobre saúde mental de pessoas que sofrem algum tipo de trauma.  

“A história de ‘Desalma’ não é sobre isso, mas é importante falar sobre a questão na televisão. Ignes é uma panela de pressão, que viveu um grande trauma e nunca mais se recuperou. É importante falar sobre essas pessoas que têm uma dor muito profunda e precisam se tratar, mas são, muitas vezes, desacreditadas”, afirmou Cláudia.